A inovação raramente nasce do isolamento. Quer seja numa garagem — como aconteceu com a Google e Microsoft — ou num edifício moderno, equipado com a mais recente tecnologia, são sempre as pessoas que impulsionam o empreendedorismo, dão vida às ideias e arriscam na criação de projetos com impacto. Mas, e apesar de vivermos numa era em constante evolução, onde a informação circula a um ritmo vertiginoso, encontrar o parceiro ideal ou a equipa certa pode ser um verdadeiro desafio. É aqui que a proximidade se torna um fator decisivo para a inovação. Basta olhar para o exemplo do Facebook, que nasceu da colaboração entre colegas de faculdade que, juntos, identificaram uma necessidade real e criaram uma solução com impacto global. Estar rodeado de outras mentes criativas potencia a troca de ideias, acelera a colaboração e explica porque tantas empresas estão a redescobrir as vantagens do trabalho presencial.
Espaços de cowork, mais do que locais de trabalho partilhado, tornaram-se autênticos “ecossistemas de criatividade”, onde as ligações certas podem transformar ideias em realidade. Nesta comunidade, a sinergia e a inovação são as palavras de ordem. Ao juntar várias culturas, perspetivas e experiências lado a lado, multiplicam-se as oportunidades de cooperação, gerando um impacto económico e social mais significativo. No entanto, uma comunidade vasta e diversa também tem as suas inquietações. Como garantir que centenas de pessoas e empresas, cada uma com as suas particularidades, conseguem tirar o melhor partido da sua experiência?
A resposta passa por criar um ambiente que disponibiliza ferramentas de qualidade, mas que também fomenta a união, oportunidades de crescimento e um verdadeiro sentido de pertença. Mas como podemos colocar isto em prática? Qual é a forma mais eficaz de garantir que todos saem a ganhar? O primeiro passo é conhecer as pessoas que fazem parte da comunidade. Quem são? Qual é o seu contexto pessoal? São nómadas digitais ou escolheram Portugal como casa? Importa ainda perceber como tem sido a sua adaptação ao país. Os portugueses contam, igualmente, com experiências distintas, pelo que os espaços de cowork também devem oferecer soluções personalizadas às suas necessidades.
Se tivermos estes aspetos em conta, rapidamente percebemos que membros oriundos do Brasil, Portugal, Turquia ou Singapura terão necessidades distintas, e perceber essas diferenças é essencial para construir uma comunidade onde todos se sintam integrados. Um bom ecossistema não se foca apenas no trabalho, mas também na forma como cada pessoa vive o seu dia-a-dia; por isso, há que pôr em prática um plano que promova o bem-estar.
Dou um exemplo que me marcou e que ilustra bem esta questão. Há alguns meses, sentei-me à conversa com um membro para saber mais sobre a sua experiência e o diálogo rapidamente ganhou uma dimensão mais pessoal. Este membro, ucraniano, tinha família num país em guerra e o espaço onde trabalhava significava, para ele, muito mais do que um local de trabalho. Era um refúgio, um lugar de estabilidade e segurança. Apesar de grata pelas suas palavras, estas foram um lembrete do impacto que um bom ambiente de trabalho pode ter na vida de uma pessoa. Sentimos que podíamos fazer mais e, num gesto simples, mas simbólico, oferecemos-lhe um cabaz com produtos que lhe permitisse, bem como à sua equipa, reviver as boas memórias de casa.
Se 2025 será o ano da inovação, esta deverá vir acompanhada de outro conceito: a personalização. Para criar um ecossistema vivo, é fundamental ouvir, integrar feedback dos membros e proporcionar uma experiência que vá ao encontro das expectativas de quem nos escolhe. Apostar em dinâmicas internas que fomentam o networking, empreendedorismo e bem-estar, permite que tudo o resto surja naturalmente. Afinal, construir uma comunidade vai muito além de partilhar o mesmo escritório — trata-se de cultivar relações, oportunidades e um ambiente onde as ideias florescem e onde o sucesso se constrói em conjunto.
Community Manager no IDEA Spaces