Voltei recentemente de férias em Cabo Verde, onde fui com sete amigos. Tomámos algumas precauções. Por exemplo, não bebemos água da torneira. Mas foi ok, eu também nunca tive muita vontade de provar água-de-colónia.

Um dos meus amigos é o Berna. O Berna é branco. Mas branco a sério. O Berna é tão branco que um dia foi fazer um raio-x e o técnico só o virou contra a luz.

Por isso, como bons amigos que somos, estivemos as férias todas a gozar com ele por causa do protetor solar. Estou a falar de o acordar às quatro da manhã e dizer: "Berna, mete creme." Aliás, "Berna, mete creme" é capaz de ter sido a frase mais dita estas férias.

No primeiro dia de praia jogámos futebol contra uns locais. O jogo começou rapidamente, até porque ninguém teve de vestir coletes. Quer dizer, o Berna teve, mas foi um colete refletor para ninguém ir contra ele.

No final, fui dar um mergulho e um cabo-verdiano que tinha acabado de jogar connosco, com toda a sinceridade que aparentemente os caracteriza, disse-me: "Tu tens boa técnica. Estás acima do peso, mas tens boa técnica." Nunca tinha sido elogiado e destruído numa mesma interação. Quando contei isto ao meu treinador de futebol, ele riu-se e tranquilizou-me: "Não te preocupes. Esse gajo é maluco. Boa técnica?!"

Houve um dia em que fomos fazer uma excursão noturna. Conhecemos o guia antes da tour e dissemos-lhe os nossos nomes e explicámos algumas dinâmicas dentro do grupo. Quando chegámos ao local da visita, mesmo antes de começar, o guia apontou para o céu e disse: "Está lua cheia. Berna, mete creme." Nunca uma gorjeta fez tanto sentido.

Uma das pessoas que se juntaram era uma jovem cabo-verdiana que conhecia o guia e quis fazer a excursão connosco, mesmo sem nos conhecer. Isso também não durou muito tempo, porque estava lá o meu amigo Guilherme, conhecido entre nós como "o falso magro", porque – conforme o nome indica – é obeso.

O Guilherme está recentemente solteiro e veio para Cabo Verde com mais fome do que o Vasco da Gama quando descobriu o shopping.

A dada altura começo a ver o Guilherme a flirtar intimamente com a rapariga, e ouço-o a sussurrar-lhe ao ouvido: "Eu posso dar-te melhores condições de vida…" Fiquei em choque. Este gajo está a tentar sacar com promessas de uma vida melhor? Quem é que ele pensa que é, o Paulo Raimundo?

No fim da excursão veio-nos buscar um táxi. Nunca vi uma caixa de velocidades tão maltratada. A minha mãe fuma três maços de Marlboro por dia e tem caixa melhor que aquela. É que os taxistas em Cabo Verde só querem segunda. Parecem o Boavista.

Eu fui à frente e fiz conversa com o motorista:

- Como é que se chama?
- Gagu.
- Gagu?
- Nome verdadeiro é Ermelindo Tavares.
- E Gagu é o quê?
- É-é-é al-al-alcunha.

Meu deus. Este senhor é taxista em Cabo Verde há tantos anos que nem a falar ele consegue meter a terceira.

Mas toda a gente sabe que, quando em férias com amigos, dá muito jeito ter o número de telemóvel de um taxista. Então pedi-lhe o contacto.

- sei-sei-seis…
- Ora, 6 6 6…
- N-não, n-não, u-u-um sei-sei-seis.
- 1 1 1, 6 6 6…

Conclusão, agora tenho guardado no telemóvel "Ermelindo Tavares TAXI" e um número de IBAN.

Mas ele era muito prestável. Antes de sairmos do táxi, o Gagu deu-nos uma dica para Cabo Verde, bastante valiosa:

- B-b-b… B-b-b… B-b-Berna mete creme.

Comediante estagiário