Quando, na infância, ouvíamos os nossos avós dizer que “o saber não ocupa lugar”, estávamos longe de conceber a importância que a informação aliada ao conhecimento poderia vir a ter no desenvolvimento da sociedade. Na era digital, esta sabedoria popular ganha uma nova dimensão: a informação deixou de ser apenas uma ferramenta de aprendizagem e passou a ser um recurso estratégico. Estamos a viver uma nova revolução industrial – a do Big Data – em que a capacidade de recolher, processar e interpretar grandes volumes de dados pode determinar o rumo de regiões, países e economias.

O termo “Big Data” refere-se à análise de enormes quantidades de dados gerados continuamente por pessoas e empresas e disponibilizados através dos respetivos dispositivos. Esta quantidade de dados, trabalhados com as ferramentas adequadas, pode ser transformada em conhecimento extremamente relevante, com potencial para nortear decisões nos mais diversos setores – da saúde à agricultura, do turismo à gestão pública.

Nos Açores, uma região insular com enormes desafios logísticos e estruturais, mas também com um potencial imenso, o Big Data representa uma enorme oportunidade. A sua aplicação estratégica pode funcionar como catalisador do desenvolvimento sustentável, reforçando a capacidade de planeamento e decisão em áreas cruciais.

Na agricultura, por exemplo, o uso de sensores e imagens de satélite para recolher dados sobre o solo, o clima e as culturas pode permitir uma gestão mais eficiente e sustentável das explorações. Na pesca, o cruzamento de dados sobre rotas migratórias, condições oceânicas e volumes de captura pode ajudar a preservar os recursos marinhos e melhorar a rentabilidade do setor.

O turismo, um motor económico essencial para o arquipélago, também poderá ter muito a beneficiar. Com a análise de dados de mobilidade, preferências e tendências dos visitantes, bem como a respetiva sazonalidade, é possível desenvolver estratégias mais eficazes e equilibradas de promoção e de distribuição dos fluxos turísticos dentro e entre as ilhas, evitando a sobrecarga de recursos e promovendo experiências muito mais positivas, para quem visita e para quem é visitado, e, claro, para o próprio território. Um exemplo disto mesmo foi um piloto feito com uma operadora de telecomunicações com presença regional, há já alguns anos, que nos permitia obter uma fotografia real e imediata da distribuição dos visitantes e residentes ao longo do território através da rede de antenas de telecomunicações existente, permitindo, com o desenvolvimento das ferramentas adequadas, uma gestão de fluxos com enormes potencialidades.

A gestão dos riscos naturais, num território exposto a atividade sísmica e a fenómenos meteorológicos extremos, estes últimos com tendência crescente, como é sabido, é outra área onde o Big Data pode fazer a diferença na salvaguarda da vida humana e do seu património. Hoje, é possível antecipar cenários de crise e preparar respostas mais rápidas e coordenadas com as adequadas ferramentas de monitorização e de análise em tempo real.

Mas para que esta revolução se concretize, é necessário investir, não só em tecnologia, mas também em capital humano. É fundamental capacitar as novas gerações – e também as atuais – com literacia digital e competências analíticas, ao mesmo tempo que também se criam condições para atrair novos recursos especializados. É preciso que o “saber que não ocupa lugar” encontre lugar nas escolas, nas empresas, nas instituições públicas e nas comunidades.

Além disso, a construção de uma infraestrutura digital sólida, com conectividade fiável e políticas de dados claras, será decisiva para garantir que o arquipélago não fica à margem desta nova era. A colaboração entre o Governo Regional dos Açores, Universidade dos Açores, Centros de Investigação e Empresas será crucial para que seja possível criar um ecossistema inovador e adaptado à realidade insular.

A revolução do Big Data não é apenas tecnológica – é cultural. Implica uma nova forma de ver o mundo, de fazer perguntas e de tomar decisões. E, sobretudo, exige que sejamos capazes de transformar dados em sabedoria. Se os nossos avós já sabiam que o saber não ocupa lugar, cabe-nos agora garantir que a informação certa tem o seu lugar na construção do futuro dos Açores.

Economista nos Açores