Os bancos sempre desempenharam um papel central nas economias modernas, mas o seu poder excessivo tem sido motivo de preocupação. Donald Trump, com a sua promessa de transformar os EUA na “capital mundial de cripto”, lança um desafio direto à banca tradicional.
A proposta de Trump, que assenta numa plataforma de finanças descentralizadas, surge num momento de desconfiança crescente em relação ao setor bancário tradicional. Simon Johnson, Prémio Nobel da Economia, tem vindo a sublinhar que os bancos de grande dimensão acumularam poder desproporcionado, influenciando governos e contribuindo para crises globais, como a de 2008. Este poder desmesurado não é apenas uma questão norte-americana. Na Zona Euro, o Banco Central Europeu parece proteger os lucros recorde da banca, “lutando” contra impostos sobre ganhos extraordinários mesmo em tempos de crise.
Em Portugal, prevê-se que os lucros dos maiores bancos ascendam a 5.000 milhões de euros este ano, um valor que contrasta com a degradação do nível de vida das famílias com créditos hipotecários ativos. Enquanto os bancos vão lucrando cerca de 13,7 milhões de euros por dia em 2024, as famílias veem os seus orçamentos apertados pelo aumento dos juros nos créditos e pela baixa remuneração associada aos depósitos. Esta realidade tem impactos sociais devastadores: poupanças esgotadas, endividamento crescente e dificuldades em manter compromissos essenciais, como a habitação. Este quadro exige uma reflexão séria relativamente à conduta dos bancos em tempos de crise.
Em Itália, por exemplo, foi pensado um imposto de 40% sobre os lucros extraordinários da banca para financiar políticas sociais. Apesar das críticas de Christine Lagarde, que alertou para potenciais repercussões económicas, a medida aponta para a necessidade de redistribuir os benefícios gerados em tempos de adversidade.
A aposta de Trump em finanças descentralizadas visa cortar as amarras que prendem os cidadãos à banca tradicional, permitindo acesso a ferramentas financeiras que prometem transparência e melhores rendimentos. Eric Trump, filho de Donald Trump, reforçou que esta iniciativa “vai estremecer o setor bancário”, e a nomeação de Paul Atkins, um defensor fervoroso das criptomoedas, para liderar a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA, deu um impulso muito expressivo ao mercado, levando a Bitcoin a atingir o máximo histórico de 100 mil dólares.
A transição para sistemas descentralizados é inevitável, como parece indicar a revolução das criptomoedas. Este processo deve ser acompanhado de regulamentação eficaz para evitar a criação de novos monopólios digitais.
O debate em torno do futuro do sistema financeiro é mais atual do que nunca. Eventualmente, a solução passará pela convivência dos dois modelos financeiros: o tradicional e o descentralizado. Independentemente do caminho, o sistema financeiro deve servir as pessoas, e não o contrário.