
O acidente com o Elevador da Glória deixou-nos em silêncio, atónitos perante a tragédia que se abateu sobre Lisboa e sobre todos nós. O que era um símbolo de encanto e tradição transformou-se, num instante, em palco de dor e de perda.
Quero começar por deixar um abraço sentido, forte e sincero, a todos os feridos, às famílias enlutadas e a todos aqueles que foram atingidos, direta ou indiretamente, por este fatídico acidente. Palavras nunca serão suficientes para preencher o vazio deixado, mas que sirvam pelo menos como testemunho de que não estão sozinhos neste luto.
A vida de quem perde um pai, uma mãe, um filho, um irmão, um companheiro, muda para sempre. O vazio é imenso, e o silêncio das ausências pesa a cada dia. Mas é também nos momentos mais sombrios que devemos lembrar que a vida continua — não como antes, porque nada será como antes, mas continua. Que a memória dos que partiram seja farol para aqueles que cá ficam, lembrando-nos de que cada dia conta, de que cada gesto de amor e cada abraço dado podem ser eternos.
Não podemos, nesta fase, apontar dedos nem procurar culpados. Só as investigações poderão esclarecer as causas. Até lá, devemos confiar nas equipas que já trabalham para apurar a verdade. Importa também não esquecer que, para além dos feridos e das vítimas, existem trabalhadores, responsáveis e técnicos que hoje carregam um peso invisível: a dúvida sobre se poderiam ter evitado este desfecho. Esse fardo também é humano, também merece compreensão.
Quero também deixar um agradecimento especial a todas as equipas de resgate e de apoio que estiveram no terreno desde a primeira hora. Aos trabalhadores da autarquia, à Proteção Civil, à Polícia de Segurança Pública, à Polícia Municipal de Lisboa, ao INEM, a todos os corpos de bombeiros e a cada profissional que, com dedicação e coragem, respondeu a este apelo de emergência.
Mas não posso deixar de sublinhar igualmente o papel fundamental dos civis que, nos primeiros segundos, correram para ajudar sem pensar em si mesmos. Entre eles, dois cidadãos emigrantes que resgataram o menino de 3 anos e o agente da PSP que tratou dessa criança como se fosse sua. Estes gestos mostram-nos algo essencial: não podemos rotular as pessoas pela sua raça, religião, orientação sexual ou profissão. Há, em todo o mundo, pessoas boas e pessoas más, e nestes momentos é a bondade que deve ser lembrada e celebrada.
Este não é o momento para aproveitamentos políticos, nem para exigir demissões de quem quer que seja. É o momento de apurar a verdade com rigor e serenidade. Se houver responsabilidades a apontar, caberá ao Ministério Público fazê-lo. Nós, enquanto povo, não temos o direito de julgar ninguém antes do tempo. Como diz o ditado português, “no melhor pano cai a nódoa”.
É também importante que esta tragédia nos sirva de lição e de impulso para o futuro. Depois das conclusões do inquérito, acredito que teremos mais segurança e mais garantias para que algo semelhante não volte a acontecer. Apelo às entidades responsáveis que revejam todos os procedimentos de segurança — não apenas nos elevadores de Lisboa, mas em todos os transportes públicos, em Portugal e no mundo. Não nos podemos esquecer de que, no dia anterior a este acidente, um autocarro desgovernado embateu em 13 viaturas em Lisboa. Estes episódios lembram-nos que os equipamentos que transportam vidas humanas devem ser alvo de avaliação constante, sem nunca se baixar a guarda.
Reconheço ainda a postura dos nossos governantes, que desde o primeiro momento deram a cara e estiveram presentes. Contudo, não consigo deixar de lamentar que a mesma proximidade e solidariedade não tenham sido sentidas em igual medida quando os incêndios devastaram o nosso país neste verão de 2025, deixando comunidades inteiras em sofrimento e abandono. Todas as tragédias merecem atenção, presença e humanidade da parte de quem nos governa.
O Elevador da Glória, inaugurado em 1885 e classificado como Monumento Nacional, não era apenas um meio de transporte: era um pedaço da alma de Lisboa. O mundo, hoje, olha para a capital portuguesa não pela beleza das suas colinas, mas pela tragédia que nelas se viveu.
Que esta dor, que hoje nos une, se transforme em força coletiva. Que honremos os que partiram vivendo com mais consciência, mais empatia e mais humanidade. A vida, apesar do vazio, continua — e é nosso dever dar-lhe sentido.