
Centenas de trabalhadores da indústrias juntaram-se hoje em frente ao parlamento no dia em que discute a petição enviada pela Federação Intersindical das Indústrias Metalúrgicas, Químicas, Eléctricas, Farmacêutica, Celulose, Papel, Gráfica, Imprensa, Energia e Minas – CGTP-IN.
Num dia em que houve pré-aviso de greve – que encerrou fábricas nos turnos da noite na Autoeuropa – centenas de pessoas reivindicaram o reconhecimento do estatuto de trabalhos de desgaste rápido, melhores condições de trabalho e maior fiscalização da segurança e saúde dos trabalhadores, depois de um ligeiro aumento no número de acidentes e mortes em contexto de trabalho.
Isabel Oliveira, operária da farmaceutica Bluepharma em Coimbra é um exemplo de alguém que sentiu na pele o desgaste do trabalho por turnos. Depois de 16 anos seguidos em regime de turnos rotativos, diz que teve um enfarte que a levou a pedir baixa médica. “Muitas perdia a noção de tempo e não sabia se era de noite ou de manhã”.

Explica ainda que trabalhava muitas vezes de madrugada “em ritmos muito intensos” e “horários completamente desregulados”. Diz que na fábrica onde trabalha quem pede baixa médica é muito difícil voltar ao mesmo posto de trabalho, sendo que, muitas vezes, é feita pressão para se despedirem.
Diz que o que a motivou a fazer greve e a ir de Coimbra para Lisboa para esta manifestação é acreditar que “só assim se pode fazer ouvir”. Explica também que a empresa a tentou processar por ser sindicalizada, sendo que ganhou nas duas vezes. “A luta é a única forma de nos fazermos ouvir”.
Nuno Santos, dirigente da Fiequimetal e trabalhador na Volkswagen Autoeuropa, denuncia falta de condições e sobrecarga laboral na indústria automóvel. “O desgaste rápido na Autoeuropa é reflexo dos ritmos intensos e da redução de equipas”, afirma, explicando que “aos 40 anos, muitos trabalhadores já apresentam doenças profissionais irreversíveis”.

Sobre o calor extremo dentro da fábrica, refere que “é uma situação que já se arrasta há muitos anos” e defende que “a climatização devia ser uma prioridade da empresa”. Garante que, sem mudanças, “a tendência será de agravar”.
No que diz respeito ao abuso do layoff por parte das empresas do parque industrial, critica a incoerência política. “Lamentamos que certos partidos que viabilizaram subsídios às empresas, agora coloquem entraves quando se trata de apoiar os trabalhadores”.
Entre as principais reivindicações da petição promovida pelos trabalhadores estão a melhoria imediata das condições laborais, maior fiscalização, penalizações para incumpridores e a antecipação da idade da reforma para quem trabalha por turnos e com produtos químicos.“Os ritmos intensos são generalizados na indústria automóvel e conduzem a doenças profissionais que impedem as pessoas de continuar a trabalhar e a viver com qualidade.”
Dos partidos políticos estiveram presentes Mariana Mortágua (BE) e Paulo Raimundo (PCP). O Secretário-Geral do Partido Comunista Português, em declarações à comunicação social afirma que “estas pessoas que passam uma vida inteira a trabalhar por turnos precisam de ser valorizadas”,
Diz ainda que os trabalhadores das indústrias “precisam que haja uma compensação para essa vida desgastante, para além do aumento salarial que já é pouco”. O dirigente comunista sublinha que esses trabalhadores “devem ser reconhecidos como trabalhadores de desgaste rápido”. E reforça, “estas são as pessoas que põem o país a funcionar e precisam de ser respeitadas”.

Sobre a petição entregue no Parlamento, garante que “já fizemos propostas nesse sentido e não vamos abdicar delas, nem os trabalhadores vão abdicar delas”. No entanto, lamenta o rumo dos debates parlamentares. “Vamos ver muitas lágrimas de crocodilo… mas depois alinham-se como fizeram na semana passada com os trabalhadores do comércio e serviços”.
Critica também a exclusão do PCP nos debates, chamando-lhe “mau sinal”.Classifica este novo quadro parlamentar e governativo como o Quinteto do Retrocesso, referindo-se à aliança política entre PSD, Chega, PS, IL e PAN. “Tocam instrumentos diferentes, mas a política é sempre a mesma”.
Referindo-se à situação na Autoeuropa, diz que é “um caso evidente” da necessidade de mudança. “A intensidade do trabalho é tão grande que tem consequências físicas. Produzem-se mil e cem carros por dia.”O trabalho recai sobre os trabalhadores e os lucros sobre muito poucos, o país só avança quando a vida da maioria estiver melhor.”