
O Sporting Clube de Portugal veio esta terça-feira a público denunciar uma série de decisões do Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), que considera atentatórias à igualdade, isenção e coerência exigidas à justiça desportiva, apontando casos concretos que, segundo o clube, demonstram um padrão de tratamento discriminatório face aos seus rivais diretos.
A crítica surge num momento em que os leões acusam o órgão disciplinar da FPF de decisões enviesadas, que, mais do que prejudicar o clube, colocam em causa a credibilidade das competições. Desde suspensões incongruentes a divulgações tardias de castigos, passando pela exposição de dados confidenciais, o Sporting diz-se alvo de um tratamento que fere os princípios fundamentais da justiça desportiva.
Decisões que falham no tempo
O caso do jogador Conrad Harder é usado como exemplo de atraso processual injustificado. Suspenso por um jogo a 17 de abril, o recurso interposto pelo clube só teve resposta a 24 de abril, depois da pena já ter sido cumprida. “Uma decisão inútil no tempo”, considera o Sporting, que denuncia a ausência de efeito prático e a violação do direito de defesa.
Critérios díspares nas sanções
Outro ponto crítico prende-se com a disparidade nas punições atribuídas por comportamentos semelhantes. Conrad Harder foi suspenso um jogo por gritar “Yeah” a um adversário. Já outros jogadores — Esgaio, Quenda e Debast — terão gritado “Chupa c**” e receberam o mesmo castigo.
No entanto, no caso de António Silva, jogador do Benfica, que gritou “Chupa” no acesso aos balneários, provocando reação de elementos do FC Porto, a pena foi uma multa de apenas 408 euros. Para o Sporting, trata-se de dois pesos e duas medidas.
Suspensão do presidente penalizou presença na final da Taça
O clube de Alvalade aponta também ao atraso na notificação da suspensão do seu presidente, que foi decidido a 3 de abril, mas comunicado apenas a 4 de abril, adiando o início da pena e impedindo-o de marcar presença na final da Taça de Portugal a 25 de maio. Para o Sporting, esta sequência de factos revela “manobras que colocam em causa a equidade processual”.
Atuação desigual perante dirigentes rivais
Durante o período de suspensão, o presidente leonino limitou-se a manifestar respeito e apoio à equipa em cerimónias públicas. No entanto, e ao contrário do que sucedeu com os presidentes do SL Benfica e FC Porto, que, segundo o clube, proferiram acusações graves e confrontos diretos com responsáveis federativos, só o presidente do Sporting CP foi alvo de processos disciplinares.
Contradições nas interpretações disciplinares
O Sporting denuncia também incoerência interpretativa no caso Matheus Reis. Ao contrário do que foi defendido no caso Harder, onde se invocou a teoria do “field of play” para validar a decisão arbitral, o mesmo princípio foi ignorado para justificar uma suspensão de quatro jogos ao defesa leonino, contrariando entendimentos anteriores do próprio Conselho de Disciplina.
Exposição de dados confidenciais em processo disciplinar.
A revelação mais grave prende-se, contudo, com o que o clube considera uma violação de sigilo comercial e de privacidade dos jogadores. Num processo instaurado contra Matheus Reis, com base num vídeo partilhado por César Boaventura e pelo SL Benfica, o Conselho de Disciplina decidiu anexar aos autos contratos de transferência, trabalho e intermediação não só do jogador em causa, mas também de Gyökeres, Hjulmand e Quenda.
Segundo o Sporting, apenas a pronta intervenção da SAD evitou que dados sensíveis e segredos comerciais fossem acedidos pelos denunciantes. O clube questiona: “Que relevância têm contratos confidenciais num processo baseado num vídeo?”
“Os factos e a sua disparidade falam por si”
A nota pública do clube termina com uma mensagem direta: “O Sporting continua a defender a independência das instituições do futebol. Mas exige que essa independência se reflita em imparcialidade, rigor e justiça verdadeira.”
Ao tornar pública esta série de denúncias, o Sporting eleva o tom contra a FPF e o seu Conselho de Disciplina, deixando no ar a exigência de reformas profundas na forma como a justiça desportiva é administrada em Portugal