
A Polícia Judiciária (PJ) deteve esta terça-feira, 17 de junho, seis indivíduos suspeitos de integrarem o grupo extremista Movimento Armilar Lusitano, com ideologia neonazi e ligações à constituição de uma milícia armada em Portugal. Entre os detidos está um agente da PSP com funções de chefia na Polícia Municipal de Lisboa. A operação — batizada “Desarme 3D” — foi conduzida pela Unidade Nacional de Contraterrorismo (UNCT) e culminou com a apreensão de armas de fogo, armas brancas, explosivos e armamento construído com tecnologia 3D.
Segundo a PJ, esta foi a primeira vez que foram apreendidas armas funcionais criadas com tecnologia 3D em Portugal. O material é praticamente indetetável por sistemas convencionais.
A operação resultou do cumprimento de 15 mandados de busca em várias regiões do país. Segundo a PJ, o grupo pretendia transformar-se numa estrutura política radical apoiada numa milícia, com fortes componentes ideológicas de discriminação racial, étnica e religiosa.
Em comunicado, a PJ afirma que a investigação “resultou da deteção on-line de indicadores de manifestações extremistas por parte de apologistas de ideologias nacionalistas e de extrema direita radical e violenta, seguidores de um ideário antissistema e conspirativo, que incentivava à discriminação, ao ódio e à violência contra imigrantes e refugiados”. De acordo com a PJ o grupo já se estava a preparar e armar para ataques de grande escala. Acrescenta ainda que há elementos que estavam ligados a antigas associações de extrema direita.
Apesar de o grupo não estar formalmente classificado como organização terrorista, os seus membros estão agora fortemente indiciados por crimes relacionados com terrorismo, incitamento ao ódio, posse de armas proibidas e tentativa de alteração violenta do Estado de direito.
Segundo o diretor nacional da PJ, Luís Neves, este caso expõe um fenómeno que está a crescer em Portugal: o extremismo violento alimentado por desinformação online. “Estes grupos recrutam sobretudo jovens, explorando o descontentamento e promovendo discursos baseados em ‘fake news’, racismo e violência”, afirmou. Neves reforçou ainda que, apesar de entre os detidos estar um elemento da PSP, “não está em causa a integridade das forças de segurança”.
O grupo, que se terá começado a organizar em 2018 e intensificado atividades durante e após a pandemia, realizou também treinos com armas airsoft, desenvolvendo competências táticas. Alguns dos seus membros têm ligações anteriores a organizações de extrema-direita já desmanteladas.
“Temos muita informação sobre outras pessoas ligadas a esta estrutura. “Percebemos que estavam, de facto, a armar-se, a recrutar pessoas e a ter capacidade de treino e táctica para fazer uma acção que não sabemos qual, mas que provavelmente estaria no seu horizonte”, declarou a diretora da UNCT.
Todos os detidos serão presentes a tribunal para primeiro interrogatório ainda hoje, onde lhes serão aplicadas medidas de coação. A PJ não exclui novas detenções nos próximos dias.