
Após uma paragem de dez anos, a Quinta do Sampayo, no concelho do Cartaxo, retomou a produção de vinho com um projeto centrado na sustentabilidade ambiental e agricultura regenerativa, afirmou hoje à Lusa a responsável do espaço, Ana Macedo.
A decisão de relançar a produção de vinho surgiu em 2023, quando Ana Macedo, filha do fundador da quinta, regressou ao local com os filhos e se viu perante a responsabilidade de decidir o futuro da propriedade.
“Não quis desfazer-me da quinta. Para a manter viva, a única opção era voltar a produzir”, afirmou à Lusa, à margem da apresentação oficial do projeto, que decorreu hoje nas instalações da Quinta do Sampayo.
Licenciada em Direito, tal como o marido, Ana Macedo avançou com o projeto apostando numa abordagem agrícola diferenciadora, abandonando os modelos agrícolas tradicionais e apostando em “fazer tudo de forma diferente” para oferecer aos visitantes uma experiência focada “na qualidade e no respeito pelo território”.
Entre as medidas implementadas destaca-se a transição para a agricultura regenerativa, nomeadamente a cobertura vegetal dos vãos das vinhas, que permite manter a humidade do solo e reduzir a necessidade de rega.
Essa vegetação, referiu, serve também como adubo verde “e contribui para um solo mais saudável”.
De acordo com o técnico de viticultura André Domingos, a quinta está a implementar práticas que visam melhorar a saúde dos solos, aumentar a resiliência das vinhas e reduzir a pegada ambiental da produção, numa abordagem ainda pouco comum no setor em Portugal.
O objetivo, explicou, é preservar a humidade do solo, melhorar a estrutura física e aumentar a matéria orgânica, sem recorrer a mobilizações excessivas.
“Estamos atentos à compactação causada pelas máquinas, que podem pesar até três toneladas. Por isso, estamos a planear investir num medidor de compactação, para atuar apenas onde for necessário”, explicou
A aposta em tecnologia e monitorização estende-se também à saúde das plantas.
A quinta está a preparar a aquisição de medidores de clorofila, para avaliar a eficiência da fotossíntese e garantir a qualidade da maturação das uvas, bem como a realização de análises de seiva, consideradas mais detalhadas do que as análises foliares tradicionais.
“Queremos compreender melhor o estado fisiológico da vinha e atuar preventivamente, antes que surjam sinais visíveis de stress”, adiantou.
Embora reconheça que a viticultura regenerativa continua a ser uma exceção no panorama nacional, André Domingos disse acreditar que o setor começa a mudar.
“É uma abordagem exigente e que requer alguma resiliência. Os resultados não aparecem de um ano para o outro”, afirmou, sublinhando que a aposta na agricultura regenerativa depende também da capacidade financeira dos produtores.
Apesar disso, acrescentou, os avanços tecnológicos e as novas ferramentas de medição e mecanização estão a criar condições para que mais projetos como este avancem no país.
“Fechar os olhos às evidências que a ciência nos dá seria um erro”, defendeu.
Segundo dados divulgados, a Quinta do Sampayo investiu mais dois milhões de euros na recuperação de infraestruturas, modernização de equipamentos e implementação de soluções ambientais.
Uma das principais intervenções foi a criação de uma Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) cuja primeira fase, já concluída, garante o tratamento integral da água utilizada na produção.
A segunda fase deverá estar concluída em 2026 e permitirá a reutilização na irrigação das vinhas, através de um sistema de tubagens atualmente em instalação.
Ana Macedo acrescentou ainda que, após este investimento inicial, a reentrada no mercado nacional superou as expectativas.
“Toda a gente me dizia que o primeiro ano era só para dar copos, mas vendemos muito vinho. Foi uma surpresa positiva”, disse a responsável, acrescentando que a internacionalização está no horizonte.
“Estamos a preparar tudo para que, a médio prazo, possamos também exportar”, adiantou.