
O estudo e proteção dos ecossistemas marinhos portugueses ganha novo fôlego com o Projeto CoastNet 2030, que acaba de instalar uma inovadora infraestrutura de monitorização no estuário do Sado. A iniciativa, coordenada pela investigadora Ana Brito, do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE), envolve também a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e a Universidade de Évora, e tem um orçamento global de 1,1 milhões de euros, financiado pelo Programa Operacional MAR2030, no âmbito do aviso “Apoio à Proteção e Restauração da Biodiversidade e dos Ecossistemas Marinhos”.
Boias equipadas com hidrofones para “escutar” os estuários
A infraestrutura agora instalada numa boia no Sado pretende monitorizar a vida animal desta área marinha protegida, recolhendo dados fundamentais para a sua caracterização e gestão sustentável. Mas o projeto vai mais longe, prevendo também a instalação de hidrofones nos estuários do Mondego, Tejo e Sado, que permitirão “escutar os sistemas costeiros” e avaliar o impacto do ruído provocado pelas embarcações.
Na apresentação pública do projeto, que decorreu no auditório do ICNF em Setúbal, Ana Brito destacou que “a manutenção e substituição destes equipamentos, expostos a todas as intempéries, é um desafio enorme”, reforçando a importância de garantir o seu funcionamento contínuo para assegurar dados fiáveis.
Uma infraestrutura crítica para a ciência e para o país
Para Helena Adão, professora da Universidade de Évora e representante do MARE, este é um “projeto bandeira” que assume “grande relevância para o país a nível dos estuários, sendo mesmo um caso raro a nível internacional”. Sublinhou ainda a ligação da ciência à sociedade: “Foi graças a esse compromisso que, mesmo em alturas sem financiamento, as boias não foram destruídas, continuando a ser assistidas.”
Margarida Reis, vice-presidente da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, acrescentou que estas infraestruturas “são uma questão crítica para o país”, alertando para o facto de muitas terem parado por falta de financiamento direto, “sobrevivendo à custa de projetos paralelos”. Destacou ainda que o acesso livre aos dados é fundamental para o avanço científico e para a tomada de decisões públicas informadas.
Uma ferramenta ao serviço do ambiente e da economia
Por parte da Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra (APSS), Isabel Moura Ramos assegurou que existe “um compromisso muito claro em defesa do estuário do Sado”, reconhecendo que a atividade portuária tem impacto, mas “é com estas medidas que conseguimos monitorizar, atuar preventivamente e garantir que o estuário se desenvolve em harmonia com a vida marinha”.
O projeto CoastNet 2030 prevê ainda o desenvolvimento de novas aplicações de observação por satélite, a atualização e expansão da rede de monitorização existente e a criação de produtos e indicadores para a gestão costeira, garantindo o livre acesso e em tempo quase real aos dados obtidos, tal como explicou José Luís Costa, coordenador da CoastNet e professor da Universidade de Lisboa.
Com esta infraestrutura, Portugal reforça o seu papel na vanguarda internacional da monitorização marinha, contribuindo para a sustentabilidade dos ecossistemas estuarinos e para uma gestão costeira que concilie ambiente, sociedade e economia.