
Na manhã de 28 de abril de 2025, Portugal foi confrontado com um apagão sem precedentes que deixou milhões de pessoas sem energia por mais de nove horas. O país parou, e a crise gerada pela falta de eletricidade expôs as fragilidades do nosso modelo energético, mas também revelou algo mais profundo: a nossa dependência extrema de energia elétrica e de sistemas digitais para o funcionamento da sociedade moderna. Este apagão mostrou que a nossa vida quotidiana, que muitas vezes se passa num ambiente de segurança e previsibilidade, depende de redes invisíveis – de eletricidade e internet – que, quando falham, têm o poder de imobilizar o país.
Com o corte de energia, o funcionamento dos semáforos foi imediatamente interrompido, tornando os cruzamentos uma terra de ninguém. A mobilidade urbana sofreu um retrocesso dramático. O caos nas estradas foi imediato, com os condutores a enfrentarem uma situação inesperada: sem a sinalização necessária, os acidentes tornaram-se uma possibilidade constante. A polícia teve de intervir rapidamente, orientando o tráfego manualmente, e agentes municipais foram destacados para os pontos mais críticos. O apagão não só deixou as ruas escuras, como também as estradas perigosas, expondo uma fragilidade muito simples e muitas vezes esquecida: a segurança rodoviária em Portugal depende de eletricidade. Sem semáforos, sem controle, o sistema rodoviário entra num colapso quase imediato.
A rede de comunicações móveis foi uma das primeiras a sucumbir após o apagão. Durante horas, muitos portugueses ficaram sem capacidade de fazer chamadas ou enviar mensagens. Sem internet e sem telefonia, o isolamento foi total. O que deveria ser um simples dia de trabalho tornou-se uma experiência desconcertante de isolamento tecnológico. Redes móveis, internet, comunicações de emergência – tudo o que nos liga ao mundo e à nossa capacidade de agir em situações de crise foi afetado. Isso colocou em risco não só as atividades cotidianas, como também o próprio funcionamento da informação essencial. Em tempos de crise, não estamos apenas dependentes da energia elétrica para a luz ou para manter os aparelhos ligados: estamos dependentes da eletricidade para saber o que acontece ao nosso redor e como reagir. Sem internet, sem comunicação, a sociedade perde a sua capacidade de se organizar de forma eficaz.
No coração deste apagão estavam os serviços de emergência, que também dependem da eletricidade para funcionar. Hospitais, bombeiros, polícia e outros serviços essenciais, quando perderam o acesso a eletricidade, não pararam totalmente, mas enfrentaram enormes dificuldades. Os geradores de reserva mantiveram as portas abertas, mas com capacidade limitada. As unidades de emergência médica, que dependem de dados em tempo real, foram obrigadas a operar com sistemas mínimos, e as forças policiais e de segurança viram as suas comunicações comprometidas, o que dificultou a coordenação da ajuda. Se o apagão tivesse durado mais tempo, a situação poderia ter sido ainda mais grave. Este episódio demonstrou que, quando a energia falha, a nossa capacidade de resposta a situações de emergência também falha. E o problema não é apenas a eletricidade; é também a dependência de dados móveis e de internet para gerir e coordenar as respostas de socorro. Serviços de ambulâncias, bombeiros e polícia enfrentam dificuldades imensas para gerir operações sem os meios eletrónicos que normalmente usam para se comunicar com as equipas no terreno.
Aquele apagão de um único dia expôs a dependência crescente da sociedade moderna da energia elétrica e das redes digitais. Supermercados ficaram sem caixas de pagamento, bares e restaurantes não podiam aceitar cartões, e os próprios postos de gasolina não conseguiam vender combustível sem o sistema informático. O que poderia ter sido apenas um desconforto tornou-se rapidamente uma questão de segurança e sobrevivência. E se o apagão tivesse durado mais tempo? A resposta é assustadora. Em pouco mais de um dia, o país viu o que pode acontecer quando os sistemas de energia e comunicações falham simultaneamente. Transportes, segurança, saúde, comunicação – todos esses pilares da nossa sociedade entram em colapso. A economia fica paralisada, a confiança nas instituições diminui e as pessoas ficam à mercê do caos.
Esta falha não foi um simples incidente. Foi um alerta que nos mostrou que, em pleno século XXI, vivemos à mercê de um sistema que, se falhar, compromete todos os outros. O apagão não mostrou apenas que a eletricidade é essencial para o nosso conforto; mostrou que sem energia, a sociedade moderna não consegue funcionar. A tecnologia, que é o motor do nosso dia-a-dia, depende de energia elétrica, e sem ela, estamos fragilizados, à beira de um colapso. A vida moderna, que tanto damos como garantida, pode parar num piscar de olhos.
Este apagão deve ser uma chamada à ação. Portugal precisa urgentemente investir em sistemas mais robustos e resilientes, que garantam a continuidade do serviço energético e digital, mesmo em situações extremas. Precisamos de redes inteligentes, que consigam identificar e isolar problemas rapidamente, impedindo que falhas em zonas isoladas se alastrem por todo o território. Microgeração de energia, com painéis solares e sistemas de armazenamento em comunidades e edifícios, é uma das soluções mais viáveis para garantir que mesmo quando a rede falha, as comunidades possam manter os serviços essenciais a funcionar. Além disso, é necessário apostar numa rede de comunicação de emergência redundante, como a existente no SIRESP (Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal), mas reforçada com novas tecnologias e com a capacidade de funcionar de forma autónoma em caso de falha geral.
Outro ponto crucial é a investimento em redundâncias digitais. Armazenamento local de dados, sistemas de comunicação descentralizados e uma maior autonomia digital para serviços essenciais devem ser considerados como uma prioridade de segurança nacional. Em situações de colapso, a internet e os dados móveis são essenciais não só para a comunicação, mas também para o funcionamento das equipas de socorro e da proteção civil. Devemos garantir que esses sistemas possam continuar a operar independentemente da falha de outros serviços.
O apagão de 28 de abril de 2025 foi mais do que um simples incidente de falha energética; foi uma lição amarga sobre o quão dependentes estamos da eletricidade e das redes digitais para o funcionamento da sociedade moderna. É urgente que o país invista em infraestruturas mais resilientes, que não dependa exclusivamente de fontes de energia centralizadas, e que fortaleça a segurança digital e a conectividade das suas infraestruturas essenciais. O apagão de abril foi um alerta claro sobre as vulnerabilidades do nosso modelo, e, se não agirmos com a devida rapidez e seriedade, poderemos estar a caminhar para um futuro onde, em vez de progressos, damos passos para trás.
A fragilidade que ficou exposta não é apenas uma questão técnica, mas uma questão de segurança nacional. Nunca mais devemos permitir que uma falha tecnológica ou energética nos possa colocar em risco. A questão não é saber se algo assim pode acontecer novamente, mas como garantimos que, quando isso acontecer, estaremos preparados.