
Covilhã reinventa o apoio ao desporto, enquanto o Fundão vê equipas desaparecer.
Os municípios da Covilhã e do Fundão foram reconhecidos com o “Prémio Excelência Autárquica” e como “Municípios Amigos do Desporto” pela Cidade Social. Esta é uma entidade privada que promove boas práticas na área desportiva e/ou social junto das autarquias aderentes. Para o efeito, procede à análise comparativa das experiências partilhadas pelos municípios, tendo em vista a identificação das estratégias mais bem-sucedidas para uma posterior replicação. Contudo, nem todos tiram o melhor partido das potencialidades deste programa.
Muitos dos estudos que são dados a conhecer na sua revista trimestral são negligenciados. A autarquia fundanense, por exemplo, ignorou os que incidiram sobre as boas práticas na definição de critérios para a atribuição de apoios em programas desportivos. Preferiu conceder subsídios com base em critérios históricos, mas desfasados da realidade. Como consequência, entre 2016-17 e 2024-25, o concelho viu desaparecer 46% das equipas masculinas de futsal e 10% das de futebol, perdendo também representatividade nas competições nacionais. Em sentido inverso, o futsal feminino cresceu à margem de qualquer intervenção municipal. Foi impulsionado pelo Desporto Escolar e pelos apoios financeiros concedidos pela FPF aos clubes primodivisionários. Já o Município da Covilhã definiu um novo regulamento de apoio com critérios claros. Os resultados foram evidentes. Se no futebol se manteve a mesma tendência verificada no Fundão, no futsal assistiu-se a um crescimento exponencial no número de equipas de 425%. É verdade que a prática desportiva não se cinge à federada, nem sequer às duas modalidades com mais praticantes. Mas não se pode negar a relevância destes indicadores.
Mas, então, como se justificam estas distinções? De uma forma simplista, a entidade promotora deste programa garante a todos os participantes a entrega da bandeira de Município Amigo do Desporto e, simultaneamente, o reconhecimento de boas práticas em áreas distintas como a organização desportiva, a realização de eventos (mesmo que promovidos maioritariamente por entidades privadas) ou o marketing. Neste sentido, há prémios para todos… ou quase! Só ficam excluídos os municípios que não aderem ou, por outras palavras, os que não pagam a anuidade definida pela Cidade Social. Este procedimento acaba por ser pernicioso, pois permite que um critério financeiro, algumas fotografias descontextualizadas e uma nota de imprensa vaga possam legitimar determinadas políticas e os seus atores que, de outra forma, nunca sobreviveriam ao teste do “algodão dos números”.
Artigo de opinião de Sérgio Mendes