
No passado fim de semana, o SIV de Estremoz esteve inoperacional durante várias horas, facto que esse noticiámos.
No rescaldo desse acontecimento, ODigital.pt foi procurar perceber a função desse meio em situações de emergência, junto de três comandantes de corporações de bombeiros do Alentejo Central, região esta que aquele meio trabalha.
Antes de mais, há que começar pelo básico. Afinal o que é uma ambulância de Suporte Imediato de Vida (SIV)?
Estes meios, segundo o site do INEM, «destinam-se a garantir cuidados de saúde diferenciados, designadamente manobras de reanimação, até estar disponível uma equipa com capacidade de prestação de Suporte Avançado de Vida».
Em voga há cerca de 18 anos, este instrumento de socorro não é consensual no meio “emergencial” do distrito de Évora, mesmo não colocando em causa do socorro.
Pelo que adiantou a Lusa, a ambulância do SIV de Estremoz esteve inoperacional durante cerca de 20 horas. No entanto, o comandante dos bombeiros de Vila Viçosa, Nuno Pinheiro, sublinhou que o socorro «nunca esteve em risco», porque «continuámos a fazer o nosso trabalho».
Vincou que, na sua opinião, a diferença entre uma ambulância SIV e uma ambulância INEM dos bombeiros «é só o aplicar uma medicação por via canalizada», até porque «traz um enfermeiro», mas «se o socorro estivesse dependente desta ambulância, o socorro estava posto em causa».
Isto porque, «se calhar, 99,9% de quem assegura e faz todos os serviços de socorro é a ambulância INEM que está nos corpos de bombeiros».
Nuno Pinheiro atirou ainda que as SIV «foram criadas para fazer transportes urgentes e graves de hospital para hospital» e que «não foram criadas para fazer os serviços que andam a fazer», mesmo sendo «sempre uma mais-valia».
«Nós bombeiros respeitamos, mas podem atrasar-nos», reforçou o comandante calipolense, explicando que «temos de estar a aguardar meia hora no local», o que causa «um pouco de transtorno».
Desta forma, confessou que existe uma «duplicação de meios», considerando mesmo que «estamos a desperdiçar meios», até porque «a ambulância SIV não faz o transporte».
«Passa o enfermeiro para dentro da nossa ambulância e depois seguem duas ambulâncias com um doente para o hospital distrital», neste caso para Évora.
«Estamos a implicar meios que poderiam estar disponíveis para outras ocorrências e é uma despesa a mais para o Estado», realçou o comandante.
Esta visão é partilhada por Bruno Louro, comandante da corporação de Portel, que, mesmo não sendo abrangido pela SIV de Estremoz, tem um caso ainda mais curioso.
«Utilizamos a SIV de Moura, que está a 40km no sentido oposto do hospital, e às vezes aguardamos esse meio e não se justifica. Depois voltam para trás e nós vamos sozinhos», sublinhou.
O comandante atirou que, mesmo sendo «um meio diferenciado», pode não ser «o necessário aqui na nossa zona».
Bruno Louro explicou ainda que «muitas vezes» existem as «triagens telefónicas», que têm «alguns constrangimentos em relação às informações que os próprios tripulantes passam ao CODU» e que «muitas vezes «não é validado».
«Insistem que esse meio tem de vir e depois chegam cá e, de facto, não é necessário», complementou, dizendo ainda que «e já se perdeu ali mais de meia hora à espera de uma ambulância».
Para além de que «às vezes, o SIV ainda aciona a VMER e ainda se perde mais esse tempo» e também da «pressão dos próprios familiares da vítima».
Bruno Louro refletiu que em situações que «seja necessária a administração de alguma medicação», os bombeiros poderiam «identificar essas situações» e informar «o hospital de referência». «Seria muito mais célere o tratamento dessas vítimas», atirou.
No entanto, Nuno Pinheiro foi ainda mais profundo na sua reflexão. «No interior, criaram-se estes sistemas que não são funcionais e em Lisboa não funcionam como estamos a funcionar», vincando que «é uma realidade diferente».
Assim, destacou que «seria mais eficaz ter uma VMER em Estremoz para quem precisa de socorro», ou então «colocar os enfermeiros onde as ambulâncias já existem».
Com esta solução, «evitava-se uma SIV a dar resposta ao distrito todo» e caberia ao INEM «ver de pontos estratégicos» para colocar os meios.
Até porque «de Estremoz a Reguengos de Monsaraz é muito longe, por exemplo»: «Para mim não é funcional».
No outro lado da “moeda” está Joaquim Branco, comandante dos bombeiros de Borba, já na área de abrangência do SIV de Estremoz, que defende a «ajuda muito boa» do meio de socorro.
Ainda que tenha concordado que «dependem de ter em permanência um enfermeiro» e que «poderão eventualmente estar inócuos», o comandante sublinhou que «é um meio de ajuda diferenciada»
«Tudo o que seja feito em termos de administração de medicações tem de ser feito mediante controlo médico», enfatizou, dizendo ainda que «pode processar a estabilização de uma vítima de acordo com aquilo que são as indicações que têm, em termos daquilo que são os protocolos».
Ainda assim, Joaquim Branco concordou que, uma vez que «há muitos corpos de bombeiros que têm nas suas fileiras enfermeiros», e que esses «poderiam ser uma mais-valia que poderia ser aproveitada no contexto de emergência, após uma formação que teriam de receber».
«A nível nacional, está a tentar-se trabalhar nesse sentido. Dar um apoio mais precoce e disseminar muito mais esse trabalho que é feito pelas SIV», acrescentou.
O comandante comentou ainda a reflexão de Nuno Pinheiro, porém considerou que há «uma gestão diferente», porque «as VMER estão dependentes dos hospitais onde estão sediadas, enquanto que as SIV estão dependentes do INEM».
«Não acho que seria a melhor opção, visto que, por vezes, também não há profissionais de saúde disponíveis para garantir esses serviços», destacou.