O apagão de 28 de abril foi um dos fenómenos que marcou o ano de 2025 e tem sido tema de debate em vários fóruns desde então. Na noite de 15 de julho foi a vez do Rotary Clube de Almeirim juntar três personalidades que, de uma forma ou de outra, tiveram intervenção direta nos acontecimentos desse dia, sendo elas Vitor Cordeiro, um dos maiores especialistas portugueses em energia elétrica, Hélder Silva, comandante distrital da Proteção Civil e Pedro Ribeiro, na qualidade de presidente da Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo (CIMLT).

Variações de tensão e de frequência nas linhas de alta tensão em Espanha foi, segundo Vitor Cordeiro, a principal causa para que a energia elétrica deixasse de circular na Península Ibérica. O engenheiro elétrico explicou que os 75 especialistas espanhóis que estudaram o fenómeno atribuem a causa destas variações à maior instabilidade que as energias renováveis apresentam em relação às energias fósseis (carvão, combustível, gás natural, etc). Os mesmos especialistas afastaram a tese do ataque cibernético que começou a ser amplamente difundida minutos após o apagão.

Vitor Cordeiro apresentou também uma pequena cronologia dos eventos que levaram ao apagão: No dia anterior ao fenómeno começaram a registar-se variações na tensão das linhas, com vários eventos ao longo do dia e da madrugada. Entre as 11h e as 11h30 começou-se a sentir oscilações na frequência. As medidas tomadas para aumentar as linhas e torná-las mais robustas e seguras fizeram aumentar as oscilações da tensão. Ás 11h33 a tensão alcançou o pico e causou uma reação em cadeia imparável que mandou a rede elétrica abaixo.

O presidente da CIMLT, Pedro Ribeiro, deixou críticas à atuação dos decisores nacionais pela “falta de comunicação” que levou à tomada de decisões erradas, no seu ponto de vista. O autarca apontou também a necessidade de que uma infraestrutura tão crítica como a rede elétrica esteja a ser explorada por uma empresa privada “que depende de um governo estrangeiro”.

A comunicação com o grande público foi também uma das falhas na gestão que Pedro Ribeiro referiu, apontando o dedo aos “decisores políticos que puseram lenha na fogueira quando deviam ter feito o contrário”. Na óptica do presidente da CIMLT devia haver uma preocupação maior em veicular informação real de forma a manter a calma na população.

“Preocupa-me quando estas informações erradas criarem algo que não se vai conseguir controlar”, afirmou Pedro Ribeiro, relembrando o “caos” das filas nos postos de combustível e nos supermercados.

Hélder Silva abordou as operações levadas a cabo pelos agentes de proteção civil, nomeadamente os corpos de bombeiros, como garantir que as estruturas vitais como o Hospital de Santarém, os vários lares de idosos, os centros de saúde, etc, mantivessem os os serviços essenciais como os suportes de vida. Uma das grandes missões dos agentes de proteção civil foi reunir as vacinas armazenadas nos centros de saúde, hospital e farmácias para serem armazenadas num espaço criado para o efeito.

O comandante elogiou o trabalho das estruturas locais e regionais pelo trabalho efetuado e pela coordenação numa situação em que as comunicações foram extremamente complicadas.