
Durante três dias em julho, Vila Franca de Xira transforma-se num palco vibrante de tradições, evocando a alma da lezíria e o pulsar da cultura tauromáquica ribatejana. O Colete Encarnado, que nasceu em 1932, aproxima-se do seu centenário e continua a ser, mais do que uma festa popular, um momento de afirmação identitária para os vila-franquenses e para a região.
A festa foi instituída por José Van-Zeller Pereira Palha com um duplo objetivo: homenagear os campinos – os homens que conduzem os toiros nas planícies do Tejo – e angariar fundos para os bombeiros locais. Desde então, tornou-se símbolo da cidade e um dos maiores eventos populares do país.
Ao longo das suas nove décadas, o Colete Encarnado cresceu em dimensão e simbolismo. O que era, à partida, uma celebração comunitária, transformou-se numa referência nacional da cultura ribatejana, com esperas e largadas de toiros, desfile de campinos e tertúlias, concertos, missa campal, gastronomia, sevilhanas e fado. Uma festa que cruza devoção, campo e festa brava.
A figura do campino, hoje elevada a património simbólico da região, consolidou-se como elemento central da identidade ribatejana a partir das décadas de 1930 e 1940, período em que se enraizou também a criação do toiro bravo na lezíria. O Ribatejo, com os seus campos férteis e paisagens abertas, tornou-se o habitat ideal para a criação de gado bravo, um legado rural que perdura até aos nossos dias e que encontra em Vila Franca de Xira um dos seus mais relevantes centros.
Inaugurada em 1901, a Praça de Toiros Palha Blanco é um marco incontornável de Vila Franca de Xira. Nascida por iniciativa de José Pereira Palha Blanco, como resposta à necessidade de financiar o Asilo-Creche durante uma crise sanitária, a praça tornou-se, ao longo de mais de um século, num dos palcos maiores da tauromaquia nacional.
Com mais de cem anos de história, a Palha Blanco foi também espaço de outros espetáculos: ali cantou Amália, ali estiveram reis, toureiros lendários e figuras da cultura portuguesa. A praça é um dos pilares do Colete Encarnado, acolhendo a tradicional corrida de toiros, que atrai milhares de aficionados todos os anos.
A edição de 2025 decorrerá entre os dias 4 e 6 de julho. Entre os destaques estão, como habitualmente, as esperas e largadas de toiros nas ruas, a homenagem ao campino, os desfiles e uma corrida de toiros na Palha Blanco. Mas também haverá espaço para os sons da modernidade, com concertos de Gisela João, Raquel Tavares, Tony Carreira, Buba Espinho, entre outros.
Mais do que um evento, o Colete Encarnado é um sentimento partilhado, onde se cruzam gerações, histórias familiares, cultura agrícola, festa popular e religiosidade. Em 2025, Vila Franca volta a vestir-se de encarnado para afirmar, mais uma vez, o seu lugar único na geografia cultural de Portugal.
Nota: Para mais informações e programa completo da edição de 2025, consultar coleteencarnado.cm-vfxira.pt.