Contrariando perceções generalizadas sobre a criminalidade em Portugal, os concelhos com maior taxa de crimes participados por 100 mil habitantes em 2024 não pertencem às grandes áreas urbanas, mas sim a zonas do Interior e a territórios insulares. É essa a principal conclusão do mais recente estudo do Instituto Nacional de Estatística (INE), que analisa os níveis de criminalidade reportada em todos os concelhos do país.

No topo do ‘ranking’ nacional dos 10 concelhos com mais queixas apresentadas, surge Albufeira, seguido por Avis, Mourão, Loulé, Porto, Sines, Vila do Bispo, Ribeira Grande, Alcácer do Sal e Aljezur.

Albufeira, no Algarve, encabeça a lista, numa região marcada por forte sazonalidade turística, o que pode contribuir para o aumento das participações criminais. Avis e Mourão, ambos localizados no Alto Alentejo, surgem nas posições seguintes, levantando questões sobre o impacto da interioridade e da vigilância em zonas menos povoadas. Também os concelhos de Loulé e Vila do Bispo, igualmente na região algarvia, reforçam o peso da região no topo da tabela.

A cidade do Porto, que figura em 5.º lugar, é o único grande centro urbano a integrar o top 10, enquanto Sines e Alcácer do Sal, no litoral alentejano, mantêm posições elevadas na lista, refletindo uma realidade complexa, onde a atividade industrial e portuária pode cruzar-se com ocorrências criminais. A Ribeira Grande, na ilha de São Miguel, Açores, é o único concelho das regiões autónomas presente entre os mais referenciados.

Lisboa, apesar de ser frequentemente apontada como a cidade mais insegura do país, não aparece entre os dez primeiros, ocupando apenas a 11.ª posição no ‘ranking’ nacional, com uma taxa de 53,6 crimes participados por cada 100 mil habitantes. Este dado contraria a perceção instalada e mostra que a criminalidade na capital está longe dos picos registados noutros territórios do país.

O estudo completo, que abrange os 308 concelhos portugueses, traz à luz uma nova geografia da criminalidade participada, revelando padrões inesperados e desafiando os estereótipos associados às grandes cidades. A análise detalhada dos dados mostra que a insegurança não se concentra apenas nos centros urbanos densamente povoados, mas distribui-se de forma desigual por todo o território nacional.

Os dados agora divulgados permitem uma leitura mais fina da realidade criminal em Portugal, sendo uma ferramenta fundamental para a definição de políticas públicas de segurança, alocação de recursos policiais e reforço da prevenção em zonas menos visíveis no debate mediático.