Com a descontinuação oficial na Índia, o futuro da popular naked da BMW está envolto em incerteza. Mas estará este modelo realmente a desaparecer dos mercados globais?

Por mais que os olhos dos entusiastas de duas rodas brilhem perante superbikes com potências astronómicas e eletrónica de ponta, há motos que conquistam o coração pela simplicidade, carácter e versatilidade. A BMW G 310 R é uma dessas máquinas. Pequena, ágil, elegante e com o selo de qualidade germânico — ainda que nascida na Índia — rapidamente se tornou uma referência entre as nakeds de baixa cilindrada. Agora, com a notícia da sua retirada do mercado indiano, multiplicam-se as dúvidas: estará a G 310 R a chegar ao fim da linha?

A G 310 R — tal como a sua “irmã aventureira” G 310 GS — é fruto da parceria entre a BMW Motorrad e a TVS, gigante indiana da indústria de duas rodas. Desde 2016 que o modelo é produzido nas fábricas da TVS, mas com design, desenvolvimento e padrões de qualidade impostos pela casa-mãe alemã. O objetivo sempre foi claro: oferecer uma BMW acessível, fiável e prática para mercados emergentes, mas também suficientemente atrativa para conquistar novos condutores nos mercados ocidentais.

E conquistou. Na Europa, a G 310 R tornou-se a porta de entrada no mundo BMW para muitos motociclistas urbanos e de carta A2. Compacta, leve e com um motor monocilíndrico de 313 cc suficientemente enérgico para o dia-a-dia, sempre convenceu pela relação preço/qualidade. A estética inspirada na S 1000 R também ajudou.

Na Índia, a situação mudou radicalmente. Com a entrada em vigor das novas normas de emissões BS6 Phase 2, mais exigentes do que nunca, muitos modelos estão a ser descontinuados ou forçados a atualizações tecnológicas dispendiosas. E, ao que tudo indica, a BMW e a TVS optaram por retirar do catálogo tanto a G 310 R como a G 310 GS naquele mercado.

Curiosamente, o modelo desportivo G 310 RR — uma espécie de reinterpretação da Apache RR 310 da TVS, mas com o emblema da BMW — permanece disponível. A própria página oficial da BMW Motorrad India só lista a RR no menu de modelos ativos. As páginas dedicadas à R e GS ainda são acessíveis através de pesquisa, mas não estão mais à vista no catálogo principal.

É aqui que o mistério se adensa. Por enquanto, não há qualquer confirmação oficial de que os modelos G 310 tenham sido retirados dos restantes mercados. No entanto, a descontinuação no país onde são fabricados levanta sérias dúvidas quanto à viabilidade de continuar a produzi-los apenas para exportação — especialmente num segmento tão sensível ao preço como este.

RideApart, publicação especializada em motociclismo, entrou em contacto com a BMW Motorrad para esclarecer a situação global, mas até à data ainda não obteve resposta. A questão permanece: será o adeus definitivo ou apenas uma reestruturação regional?

Para muitos, a G 310 R representa mais do que uma simples moto de iniciação. É uma companheira de deslocações urbanas, de escapadinhas de fim-de-semana, e até uma excelente base para personalizações e projetos de baixo custo. Tem um comportamento surpreendentemente competente, bons travões, posição de condução confortável e um visual que ainda hoje se mantém moderno.

Claro que não tem o punch de uma Street Triple, nem a sofisticação de uma MT-07, mas nunca tentou sê-lo. A G 310 R sempre foi honesta nas suas intenções: oferecer diversão acessível com o cunho de uma marca premium. E conseguiu.

Com as tendências globais a apontarem para a eletrificação e para motos mais limpas, é possível que a BMW Motorrad esteja a preparar algo novo para substituir a gama G 310. Um modelo 100% elétrico de entrada, ou talvez uma nova geração adaptada às futuras normas de emissões. A parceria com a TVS continua viva, e há rumores de projetos em desenvolvimento.

Até lá, resta esperar por uma confirmação oficial. Mas se esta for realmente a despedida da G 310 R, então é justo reconhecer o seu impacto. Pequena no cilindro, mas grande na alma — e, para muitos, a melhor forma de entrar no mundo BMW sem dar um salto no escuro.