Este é um caso que muito provavelmente o irá deixar chocado. Um casal australiano foi condenado no tribunal de Perth por negligenciar a filha que, na altura, tinha 17 anos e pesava apenas 27 quilos - aproximadamente o mesmo peso de uma criança de nove anos. O seu estado era tão crítico que precisou de cuidados hospitalares: estava tão desnutrida que corria o risco de paragem cardíaca ou de morte.

Segundo a CNN, testemunhas no hospital descreveram que os pais a tratavam como uma criança. Exemplos: levaram-na à casa de banho e após fazer as necessidades foram eles que a limparam, assoaram-lhe o nariz e escovaram o seu cabelo enquanto ela assistia a desenhos animados mais adequados para crianças pequenas.

Embora nem os pais nem a filha possam ser identificados, de acordo com uma lei australiana que visa proteger as crianças vítimas, foram divulgados vários detalhes do caso. Os pais chegaram mesmo a falsificar a certidão de nascimento da filha para a fazer parecer dois anos mais nova. Era a mãe que lhe dava aulas em casa e só socializava nas aulas de ballet.

De acordo com a juíza Linda Black, os pais só permitiam que assistisse a programas destinados a crianças muito mais novas como os Teletubbies. "Criaram uma criança que não é capaz de funcionar como um adulto independente aos 20 anos. Nunca lhe foi permitido crescer", afirmou ainda, citada pela ABC.net.

No entanto, durante o julgamento, o pai alegou que a condição física da filha, que tem agora 20 anos, foi o resultado das escolhas da mesma, que por ser uma "pessoa exigente com a comida" adotou dietas vegetarianas e vegans. No entanto, destacou que a jovem fazia três refeições e snacks por dia.

Mas a juíza recusou-se a acreditar. Este não é o caso de uma bailarina desnutrida, disse a juíza. “Isolaste a tua filha, impediste-a de crescer, impediste-a de se desenvolver da forma a que tinha direito. Mantiveste-a como uma menina muito além da idade", disse, citada pela CNN.


As desconfianças e os pedidos recusados pelos pais


Depois dos comentários dos pais dos colegas da escola de ballet e os pedidos dos professores aos pais da menina para consultar um nutricionista e a recusa dos mesmos, foi tomada a decisão de notificar as autoridades. "Parece que todos os que tiveram a oportunidade de interagir com [o nome da menina] compreenderam que ela estava gravemente subnutrida, exceto as duas pessoas que disseram amá-la. Não posso aceitar que não tenham visto. Não posso aceitar que não tenha reparado, frisou a juíza, citada pela CNN.

No hospital, o médico que a atendeu deparou-se com uma jovem "exausta, com pouca gordura corporal, pálida" e também "não apresentava sinais de puberdade, o seu cabelo era quebradiço e fino, a sua pele estava seca e escamosa, a sua frequência cardíaca estava elevada".

"O médico disse que precisavam de fazer um eletrocardiograma (ECG). E vocês os dois disseram que não”, disse ainda. A determinada altura, os pais recusaram-se a seguir as ordens dos médicos para inserir um tubo nasal para que a jovem fosse alimentada, o que levou as autoridades a intervir e a colocá-la sob guarda do Estado.

A juíza Linda Black continuou: “Não há nada de anormal num pai querer apegar-se ao filho e mostrar-se relutante em deixá-lo crescer e tornar-se adulto. Nada de anormal. O que está errado é quando um pai impede a criança de embarcar e completar este processo natural", sublinhou.

No entanto, a jovem defendeu os pais, apelando à juíza para retirar a acusação. Sou totalmente dependente dos meus pais (...) Eu amo-os muito. São as pessoas mais importantes da minha vida. Se forem para a prisão, acho que não vou conseguir lidar com isso", disse.

Embora o pai tenha admitido ter falsificado a certidão de nascimento da filha, ambos os pais negaram todas as outras acusações. Por "não demostrarem remorsos", a juíza não viu razão para não os prender. O pai foi condenado a seis anos e meio de prisão e a mãe a cinco anos.