Morreu Ozzy Osbourne, aos 76 anos. A notícia foi avançada esta tarde pela sua família, que em comunicado afirmou que o músico britânico partiu “rodeado de amor”. As causas do óbito não foram, para já, confirmadas.

Nascido John Michael Osbourne em Marston Green, vila do condado de Warwickshire, o músico ganhou o apelido “Ozzy” ainda na infância, e foi com ele que alterou radicalmente o panorama musical mundial: primeiro com os Black Sabbath, banda da qual fez parte por cinco ocasiões e com a qual moldou a sonoridade do heavy metal, e depois a solo.

De início, o que o fascinava não era o rock mais pesado; Ozzy garantiu, por diversas vezes, que o que o fez seguir uma carreira na música foi ‘She Loves You’, um dos primeiros grandes êxitos dos Beatles. “Eles fizeram-me perceber que iria ser uma estrela rock até ao fim dos meus dias”, afirmou no documentário “God Bless Ozzy Osbourne”, de 2011.

A convite de Geezer Butler, que se tornaria baixista dos Black Sabbath, tornou-se no vocalista dos Rare Breed, que deram apenas dois concertos antes de encerrarem atividade. Ambos acabariam por juntar-se ao guitarrista Tony Iommi e ao baterista Bill Ward nos Polka Tulk Blues, que mudariam de nome para Earth, lançando a primeira semente para os Black Sabbath - que surgiriam definitivamente em 1970.

Com os Sabbath, Ozzy gravaria cinco álbuns que ficaram para sempre para a história do grupo e do heavy metal em geral: “Black Sabbath” e “Paranoid”, ambos de 1970, “Master of Reality”, de 1971, “Vol. 4”, de 1972 e “Sabbath Bloody Sabbath”, de 1973, onde pontificavam os riffs de Tony Iommi e letras que iam desde um fascínio pelo oculto ('Black Sabbath'), a histórias de ficção científica ('Iron Man') e diatribes anti-guerra ('War Pigs').

Por ocasião do lançamento do primeiro álbum dos Black Sabbath, Ozzy conheceu aquela que viria a ser a sua futura esposa e agente, Sharon Arden, filha de Don Harden, nome cimeiro da indústria musical de então. Casar-se-ia com esta em 1982, depois de um primeiro casamento, falhado, com Thelma Riley. Teve seis filhos: três com Thelma e três com Sharon, incluindo-se neste lote a também cantora Kelly Lee.

Em 1978, Ozzy Osbourne abandonou temporariamente os Black Sabbath para se concentrar num novo projeto, intitulado “Blizzard of Ozz” - que viria a dar nome ao seu primeiro álbum a solo, editado em 1980. O abuso de álcool e de drogas, ampliado pela tensão em estúdio entre os membros dos Sabbath, levou à sua saída efetiva do grupo, que o substituiu por Ronnie James Dio, dos Rainbow. A convite de Don Arden, Ozzy assinou pela editora Jet, com vista ao lançamento de uma carreira a solo. Apesar de também o empresário desejar o regresso do vocalista aos Sabbath, rapidamente se percebeu que Ozzy poderia render tanto ou mais a solo: “Blizzard of Ozz” é hoje visto como um dos melhores álbuns da história do metal, atingindo em 2019 o estatuto de quíntupla platina.

Em 1982, a morte do guitarrista Randy Rhoades, que formava parte da sua banda a solo, afundou-o numa profunda depressão - e obrigou à suspensão da digressão em torno de “Diary of a Madman”, o seu segundo álbum, que ficou marcada pelo momento que mais se associou a Ozzy Osbourne durante largos anos: durante um concerto em Des Moines, no estado norte-americano do Iowa, o músico agarrou num morcego que tinha voado para o palco, arrancando-lhe a cabeça à dentada; pensava que era um adereço. O caso ampliou ainda mais o cognome que já tinha recebido enquanto vocalista dos Black Sabbath, e o qual usou durante toda a sua restante carreira: “Príncipe das Trevas”.

Chegado aos anos 90, e após uma década a lutar contra o abuso de drogas, Ozzy voltou ao topo das tabelas com o álbum “No More Tears”, em plena era grunge, em 1991. Em 1997, regressou aos Black Sabbath para encabeçar a edição desse ano do festival itinerante Ozzfest, criado por si e por Sharon um ano antes, e que se tornou num marco para a música mais pesada: pelas suas edições passaram nomes como Marilyn Manson, Slipknot, Pantera, Judas Priest, System of a Down ou Metallica, entre muitas outras. O festival resistiu até 2018, ano da sua derradeira edição.

Em 2003, o músico sofreu um acidente de moto quatro que o marcaria até ao resto da vida, partindo a clavícula, oito costelas e uma vértebra, obrigando a várias intervenções cirúrgicas ao longo dos anos. É também por esta altura que começa a ganhar fama entre as novas gerações, não pela música, mas pelo reality show “The Osbournes”, transmitido pela MTV entre 2002 e 2005; em 2022, especulou-se que o programa iria regressar ao pequeno ecrã, mas nada mais se soube.

Em 2009, Ozzy publicou a sua autobiografia, “I Am Ozzy”, que documenta a sua vida e carreira até então e que foi amplamente elogiada pelo sentido de humor que nela colocou. Em 2016, voltou à televisão, para um programa no Canal História com o seu filho, Jack: “Ozzy & Jack's World Detour”, que o levou a percorrer os Estados Unidos. Dois anos depois, deu aquele que foi o seu único concerto em Portugal, na agora Meo Arena, parte da digressão “No More Tours II”, com a qual pretendeu despedir-se dos palcos.

A despedida propriamente dita deu-se a 4 de julho deste ano, em Birmingham, cidade natal dos Black Sabbath, com o festival “Back to the Beginning”, curado por Tom Morello. Pela última vez na sua vida, Ozzy subiu a um palco para cantar não só alguns dos seus maiores êxitos a solo mas também as canções mais icónicas dos Black Sabbath, num evento que contou ainda com nomes como os Mastodon, Gojira, Pantera, Tool, Slayer ou Metallica - uma parte ínfima das bandas metal que foram influenciadas pelos Sabbath e por Ozzy. No final, deixaria um agradecimento especial aos fãs: “Não fazem ideia de como me estou a sentir. Obrigado do fundo do coração”. Palavras que, hoje, serão ditas por esses mesmos fãs ao lembrarem o legado do músico.