Setembro foi palco de duas reviravoltas surpreendentes nas matérias-primas. Nos minerais críticos, a cotação do lítio subiu 1,4%, depois de uma quebra acumulada de quase 37% nos quatro meses anteriores. No sector alimentar, o preço em dólares da dúzia de ovos, depois de ter quase triplicado, afundou-se 53% no Chicago Mercantile Exchange nos Estados Unidos. No Dalian Commodity Exchange na China, negociado em yuan (a moeda chinesa), o preço da dúzia de ovos desceu 9,4%.

O ouro esteve, também, em destaque com a cotação a aproximar-se de 2700 dólares por onça durante a sessão de 27 de setembro, tendo registado uma subida mensal de 5,2%. Este metal precioso fechou, a 30 de setembro, em 2659,40 dólares, um novo máximo histórico. A cotação da prata subiu mais, 7,6%.

Globalmente, o índice de preços de matérias-primas da CRB (Thomson Reuters Core Commodity Total Return Index) subiu 3,3% em setembro, revelando uma forte aceleração em relação a agosto (0,03%) e uma quase recuperação da quebra de 3,8% em julho. Sectorialmente, o comportamento foi distinto. Segundo os índices Rogers sectoriais, a energia registou uma quebra de 4,5%, contrastando com uma subida de 6% nos metais e 5,7% nas matérias-primas agrícolas.

A descida em setembro da cotação do barril de petróleo de Brent em 9% e do preço do gás natural de referência na Europa (TTF, negociado nos Países Baixos) em 1,9% tiveram um impacto na desaceleração da inflação na zona euro para 1,8%, abaixo do objetivo de 2% do Banco Central Europeu

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Preço dos ovos cai para menos de metade

Depois de um pico em 4,4 dólares (€4) do preço da dúzia de ovos na bolsa de Chicago no início de setembro, a cotação caiu para menos de metade. Fechou em setembro a negociar em 2,02 dólares (€1,8). Depois de uma epidemia de gripe das aves, a produção recuperou, aumentando a oferta, num quadro de estabilização da procura.

A quebra de 53% no preço da dúzia de ovos em setembro foi a descida mais significativa nas matérias-primas agrícolas. A cotação do salmão, negociada no mercado sueco, caiu 10,6% e a do sumo de laranja desceu 7%.

O grosso das matérias-primas agrícolas registou subidas de preços em setembro. O índice sectorial aumentou 5,7%, mas os preços de um cabaz de cinco commodities alimentares dispararam acima de 10%: aveia; bife, açúcar, leite e milho.

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A corrida ao ouro

A cotação da onça de ouro atingiu um máximo histórico de 2696,90 dólares durante a sessão de 27 de setembro. O preço do metal amarelo subiu 5,2% em setembro e já disparou 27% desde início do ano. A onça de ouro custa hoje quase mais 560 dólares do que no final do ano passado.

O ouro tornou-se o segundo maior ativo dos bancos centrais à escala mundial depois do dólar e ultrapassou o euro. O dólar continua a dominar com 58% das reservas, mas o ouro passou para 18%, deixando o euro para trás, com 16%, segundo o mais recente relatório do Bank of America.

Em setembro, o Banco da Tanzânia passou a comprar 20% da mineração do ouro. O Banco do Gana lançou uma nova moeda de ouro para aumentar a liquidez. A Rússia anunciou que vai multiplicar por sete as compras diárias de ouro. Na Bolsa do ouro em Xangai, os exportadores podem trocar yuan por ouro. A China reduziu a carteira em títulos do Tesouro norte-americanos de 1,3 biliões de dólares em novembro de 2023 para 776,5 mil milhões em julho de 2024, segundo os dados mais recentes. Em compensação aumentou as reservas em ouro durante 19 meses para um máximo de 183 mil milhões de dólares em agosto.

A cereja em cima do bolo poderá ser a decisão de criar uma divisa comercial baseada no ouro durante a cimeira dos BRICS em Kazan, na Rússia, entre 22 e 24 de outubro.

Cobre e prata foram os metais que registaram subidas da cotação acima de 7%.

Quebra global nos preços da energia

O índice sectorial para as matérias-primas energéticas recuou 4,5% em setembro. A maior quebra, de mais de 10%, registou-se na cotação do barril russo dos Urais que fechou setembro em 66,44 dólares, aproximando-se do teto de 60 dólares imposto pelas sanções decretadas após a invasão russa da Ucrânia.

No que serve de referência para a Europa, o preço do barril de Brent caiu 9%, tendo descido de 78,80 dólares no final de agosto para 71,70 dólares a 30 de setembro. Também o gás natural de referência na Europa, designado tecnicamente por Title Transfer Facility (TTL), negociado numa plataforma virtual nos Países Baixos, viu o preço descer 1,9%.

Este sector de commodities é, no entanto, muito sensível às mudanças geopolíticas. Em reação à escalada de guerra no Médio Oriente, o preço do Brent subiu 3,9% na primeira sessão de outubro. A região do Golfo e o Mar Vermelho são muito sensíveis em termos de rotas críticas de petroleiros e metaneiros (navios de transporte de gás natural liquefeito). Também as rotas de porta-contentores e de navios de carga a granel que ligam o Pacífico e o Índico ao Mediterrâneo e ao Atlântico são muito sensíveis à geopolítica daquela região.