Em abril, participei na apresentação do 3.º Snapshot da Associação Business Roundtable Portugal (BRP). Foi um momento relevante, marcado por um diálogo intergeracional entre jovens universitários, jovens quadros das empresas associadas e parceiras, e líderes com experiência governativa, que reforçou a importância de envolver diferentes gerações na discussão dos desafios estruturais do país.

A presença ativa dos jovens foi particularmente significativa. A sua energia, espírito crítico e capacidade de análise demonstraram que a nova geração está não só atenta como também preparada para participar, de forma construtiva, na transformação de Portugal.

O debate que mantiveram com os ex-ministros António Pires de Lima e Fernando Medina evidenciou essa maturidade e deixou claro que o futuro do país só pode ser construído com os jovens a bordo. António Nogueira Leite referia, no início da sessão, que Portugal tem, em muitos aspetos, a geração jovem mais bem preparada de sempre, mas que em grande parte não está a gerar valor no país, alertando para a importância de criar condições de atratividade para que este talento viva e trabalhe em Portugal.

Sob a moderação de Helena Garrido, as discussões centraram-se em temas fundamentais como a valorização do talento nacional, a necessidade de aumentar a escala das empresas, o papel do investimento e da inovação, a competitividade fiscal e energética, e o impacto da burocracia. A questão da dimensão das empresas foi central.

Em Portugal, 95% do tecido empresarial são microempresas. Apenas 0,3% são grandes. Esta desproporção é um entrave ao crescimento, à inovação e à internacionalização. São as empresas maiores que geram maior valor, que pagam melhores salários, que atraem talento. Como disse António Pires de Lima, é preciso querer crescer. Só com mais escala e ambição conseguimos empresas com impacto real na economia global.

Falámos também de investimento, ou da falta dele. A crítica dos jovens foi certeira: projetos públicos como o TGV ou o novo aeroporto arrastam-se há anos sem decisão, sem clareza, sem rumo. Isso mina a confiança dos privados, trava o investimento estrangeiro e afasta quem quer construir.

Foi ainda referido o aumento recente das exportações de serviços qualificados, que exigem menos capital fixo, mas muito talento. Para o investimento, que é essencial ao desenvolvimento do país, é fundamental garantir previsibilidade, reduzir burocracia, tornar os processos mais simples e eficazes. Não é pedir muito. É pedir o mínimo para que o país funcione.

Outro ponto forte foi a inovação. Não basta falar de transformação digital ou de inteligência artificial se não tivermos uma base sólida: redes fluidas de conexão de empresas e centros de investigação, com aplicação do conhecimento nas empresas e pessoas qualificadas para o fazer. Fernando Medina alertou para que 40% da população portuguesa não completou o ensino secundário, que compara com 20% na União Europeia. É critico manter o caminho que vem sendo feito de qualificação dos portugueses, este é ainda um bloqueio ao maior desenvolvimento do país.

Na área fiscal, os jovens mostraram soluções. Para as empresas, a dedução das suas contribuições para a segurança social para efeitos de IRC. Falaram da complexidade do IRS Jovem, sugeriram subsídios a estudantes-trabalhadores. No essencial aliviar o “garrote fiscal” que sufoca salários e trava a competitividade. São ideias com potencial. Concordo com o que foi dito: é preciso reavaliar o IRS, especialmente nos escalões mais baixos, e repensar o peso global da carga fiscal.

É uma equação delicada, mas é urgente encontrar um novo equilíbrio. A questão energética surgiu com força. Os jovens foram diretos: querem mais produção e armazenamento de energia verde, preços mais justos e competitivos. E têm razão. A energia é crucial para o crescimento industrial e para todas as atividades. Por fim, a burocracia. Este foi talvez o tema onde senti que existe uma frustração partilhada.

Há um consenso generalizado de que o país precisa de simplificar. Falou-se da necessidade de assegurar a transposição das diretivas europeias tal qual, sem introduzir alterações ou exigências adicionais, de rever leis automaticamente, de ter avaliações independentes de impacto regulatório, de acelerar decisões judiciais e licenciamentos. Medidas simples, que poderiam ter um impacto profundo na nossa atratividade enquanto país.

Saímos deste debate lançado pelo 3.º Snapshot com uma certeza reforçada: o futuro de Portugal depende da capacidade de mobilizar esta nova geração. De lhes dar espaço, escutar as suas ideias, incorporar a sua ambição. Mas também de assumir responsabilidades ao nível da liderança política, empresarial e institucional.

Precisamos de mudar. De crescer. De arriscar mais. De renovar a nossa ambição coletiva. Se queremos um país mais competitivo, mais justo e mais sustentável, não existem atalhos. Temos de aumentar a dimensão das empresas. Apostar a sério no investimento. Criar ecossistemas de inovação. Reduzir a carga fiscal sobre o trabalho. Tornar a energia mais competitiva. E eliminar a burocracia que sufoca.

É um caminho exigente, sem dúvida. Mas é também um caminho possível, se houver coragem e visão. E se houver, sobretudo, colaboração intergeracional. Os jovens estão prontos. Cabe-nos a nós fazer o mesmo.