Procura interna, demografia, privatizações e literacia financeira. Quatro eixos que podem contribuir de forma decisiva para o crescimento económico de Angola além fronteiras e trazer mais investimento externo para o país. Esta foi uma das principais mensagens partilhadas por especialistas no painel ‘Financiamento e investimento na economia angolana’, inserido na terceira edição do Doing Business Angola 2025, evento organizado pelo Jornal Económico e Forbes África Lusófona, que decorre no Ritz Lisboa, esta Segunda-feira, e que reúne decisores públicos, empresários e investidores para debater temas estruturantes como o ambiente de negócios, privatizações, financiamento da economia, mercado financeiro, petróleo e gás, turismo e os desafios da Lusofonia num mundo em mudança.

“Olhamos para Angola e qualquer português verifica que o crescimento demográfico é um bónus. É uma oportunidade única, mas também pode ser um problema se não for bem encarado e gerido”, referiu Paulo Madruga, partner EY Parthenon, salientando que a procura interna é outro dos “motores adormecidos” na economia angolana e que pode ser fomentada através do turismo.

“Esta é uma população que precisa de consumir, mas não consome porque não tem rendimento, nem emprego. É preciso romper este ciclo vicioso. Este caminho da procura interna pretende ao mesmo tempo valorizar a procura externa, nomeadamente através do turismo. A estratégia para o turismo de Angola está a ser bem pensada. A grande questão para o futuro é como vamos olhar para o turismo e com uma melhor gestão do território. Luanda tem de se virar para o mundo e ser uma capital mais afirmativa”, sublinhou.

Por seu turno, Mário Amaral, managing director Hemera Capital Partners, considera ser importante criar parcerias com entidades nacionais e captar esse know-how. “Existe muita complementaridade entre o capital de risco e o sector financeiro. Em Angola isso tem sido explorado. Termos acesso a fundos de capital de risco permite um fundo muito mais alargado aos investidores”, realçou.

Ideia partilhada por Odair Costa, CEO BFA Capital Markets, para quem o mercado de capitais pode ser uma porta de entrada no mercado angolano, no sentido de potenciar o investimento directo que já existe.

“Isso pode fazer esquecer outros riscos como a inflação e a desvalorização da nossa moeda. Temos um conjunto de oportunidades que representam o ex-libris que Angola tem para oferecer. Vemos esse investimento como uma oportunidade de criar um caminho com as empresas portuguesas”, afirmou.

O CEO, alertou no entanto que é preciso investir na literacia financeira, dado que os investidores “só conseguem detectar as oportunidades se conseguirem detectar os riscos”, para as suas empresas.

Por sua vez, Kelson Cardoso, PCE da Aurea, destacou o papel que as privatizações têm tido em Angola e de como as mesmas têm mantido o mercado a funcionar.

“Os investidores olham cada vez mais para o mercado de capitais como uma alternativa de financiamento para as suas empresas. Têm sido a grande mola impulsionadora do nosso mercado de capitais”, referiu, salientando que é necessário ter um mercado de capitais posterior a estas privatizações.

Sobre as dificuldades que os investidores enfrentam actualmente no mercado angolano, Teresa Empis Falcão, partner VdA Infraestruturas & Mobilidade, realçou que nem todos os projectos são autossustentáveis e têm processos com longos prazos.

“O planeamento é fundamental e por vezes existe falta de planeamento em alguns destes projectos. A questão da moeda também é muito preocupante”, sublinhou.

*Rodolfo Alexandre Reis