Em entrevista no podcast “O Futuro do Futuro”, a propósito da Aliança Jornalismo-Ciência, projeto financiado pelo programa Europa Criativa que conseguiu 2,7 milhões de euros para financiar reportagens de investigação que conjuguem o trabalho de jornalistas e cientistas, António Granado, jornalista de carreira e professor do departamento de Ciências da Comunicação da Universidade Nova de Lisboa, admite preocupação com o facto de mesmo os alunos dessa área utilizarem as redes sociais para se informarem, ao invés de recorrerem a fontes jornalísticas ou científicas.

“Os alunos usam cada vez mais as redes sociais para se informarem e essas redes sociais funcionam como uma bolha. Muitas vezes, as informações que lhes chegam não são as informações que estão corretas”, explica. E, alerta, "não é por serem alunos de jornalismo que estão isentos desses problemas, antes pelo contrário”.

Matilde Fieschi

Falta de literacia mediática e hábitos de leitura contribui para permeabilidade à desinformação

“Nós temos de continuar a lutar para que os estudantes de jornalismo percebam a diferença entre aquilo que é um facto e uma opinião. Mas acho que essa tarefa é cada vez mais difícil”, salienta. E acredita que isso acontece porque se está a perder o hábito “de entrar numa primeira página de um órgão de comunicação social”. E, na opinião deste docente e académico, a perda desse hábito faz com que as pessoas recebam “informações vindas de outros lados, muitas vezes em clipes já cortados à medida”. Ouça a resposta completa, no topo desta página, a partir dos 31 minutos e 21 segundos.

Esta semana, em entrevista à Lusa, a professora universitária e investigadora Sónia Lamy, que tem estudado as formas de relação entre os jovens com os meios de comunicação, explica que “a ausência da consciência sobre o perigo daquilo que é uma rede social nos educadores, nas famílias e no espaço escolar” faz com que também não haja “consciência do quão perigoso pode ser o impacto da desinformação do ponto de vista social”.

Sónia Lamy considera igualmente que mesmo os alunos que estão a frequentar formação universitário em jornalismo e comunicação têm cada vez menor interesse em procurar informação credível. “Querem estar informados, ou pelo menos querem estar a par do que está a acontecer, no entanto, não vão aos meios de comunicação procurar informação”.

Para a docente, este contexto abre caminho para a desinformação, porque “as redes sociais não filtram informação”, ao mesmo tempo que se assiste a uma “falta de formação no decorrer da linha de escolaridade”, fazendo com que os jovens sejam “muito permeáveis a todas as influências das mensagens que vão chegando através das redes sociais”.