Os bancos europeus têm mantido os seus custos de risco em níveis relativamente baixos nos últimos anos, em especial desde a crise pandémica. Contudo, a política económica em curso do outro lado do Atlântico pode causar uma inversão nesta tendência, ainda que não seja de forma acentuada. A Morningstar DBRS veio atualizar a sua perspetiva sobre o custo de risco dos bancos europeus, de forma a incorporar estas alterações no panorama económico mundial, tal como as próprias instituições têm feito.

“Semelhante ao período da pandemia do Coronavírus, se tarifas mais altas dos EUA forem impostas, esperamos que os bancos europeus tenham uma abordagem conservadora em relação à sua exposição aos setores mais vulneráveis a estas tarifas”, explica a agência de notação em comunicado. Além dos setores onde as tarifas já estão aplicadas – como é o caso dos setores automóvel e metalúrgico – espera-se que cheguem à indústria, químicos e saúde. Assim, a DBRS espera que os bancos façam “provisões maiores e aumentem os créditos ‘stage’ 2”.

Mais ainda, a empresa estima que mais cortes nas taxas de juro de referência podem resultar em níveis mais elevados de crédito malparado, levando também a maiores provisões ao longo deste ano. Esta situação agrava-se, justifica, se a economia europeia enfraquecer e houver mais desemprego, “que são por norma os impulsionadores das falhas dos clientes”.

No entanto, a DBRS acredita que, apesar de toda a incerteza do momento, os bancos europeus ainda possuem ‘management overlays’ que podem ser usados para reduzir o impacto de novas provisões. Neste sentido, considera que não vai haver uma mudança “dramática” no custo de risco, mas que é provável que este aumente face a 2024.

CGD foi o banco com menor custo de risco na Europa

Entre os 50 bancos tidos em conta pela DBRS na sua análise, a Caixa Geral de Depósitos (CGD) destaca-se como o banco que teve menor custo de risco entre todos em 2024, tendo atingido pouco mais de 50 bps negativos. A DBRS nota que os bancos portugueses, em geral, diminuíram o seu custo de risco em 2024, mas que a CGD era o maior fator da descida da média do país. Portugal surge ainda como o país com a segunda maior redução do custo de risco médio entre 2023 e 2024, menos 35 bps, apenas atrás da Grécia, que teve uma queda de 41 bps. Olhando para o custo médio de risco em 2024, Portugal tem o quinto menor entre 15 países analisados da Zona Euro. Já a Áustria, Bélgica e Alemanha tiveram as maiores subidas.

Apesar da maior descida, a Grécia surge no topo da tabela, seguida pela Espanha e Alemanha, com o maior custo de risco médio. Todos estes países, a par da Itália, estão acima da média. Segundo a DBRS, a média espanhola é devido ao Banco Santander e BBVA, cuja exposição ao mercado internacional os fez piorar neste parâmetro e, por consequência, arrastar a média do país. Na Alemanha, o DZ Bank é considerado responsável, devido a maiores provisões fruto de créditos ao consumidor, imobiliário comercial e ‘corporate exposures’.

No fundo desta tabela aparecem os países nórdicos – Dinamarca, Suécia e Finlândia – que, realça a DBRS, continuam a sair-se melhor que os seus pares. A agência de notação salienta ainda a forte redução do custo de risco médio na Irlanda entre 2023 e 2024. A quebra na Irlanda e em Portugal deve-se, de acordo com a empresa, à melhoria dos cenários macroeconómicos, bem como a previsão de mais cortes nas taxas de juro.