Nos últimos anos, a discussão em torno da inclusão de nacionais nos cargos de liderança das empresas privadas a operar em Angola tem ganhado visibilidade, mas os avanços continuam tímidos. Uma questão impõe-se: por que razão, em pleno século XXI, os angolanos continuam a ser afastados dos lugares de decisão dentro do próprio país?
Com efeito, a realidade é transversal: desde o sector bancário à indústria alimentar, da auditoria à consultoria, passando pelo retalho, telecomunicações e construção civil, observa-se uma preocupante escassez de angolanos em posições de topo. Em contraste, essas funções são maioritariamente ocupadas por expatriados, muitas vezes sem qualquer vínculo cultural, afectivo ou de longo prazo com Angola.
Temos quadros, temos capital, falta oportunidade
Angola dispõe hoje de quadros qualificados e experientes, com formação sólida em instituições nacionais e estrangeiras. A ausência de angolanos em cargos de administração e direcção não se deve à falta de competência. O problema reside na estrutura de oportunidades – ou na sua negação.
Da mesma forma, existe capital nacional com capacidade para investir em sectores estratégicos. No entanto, muitos empresários angolanos preferem canalizar os seus investimentos para o exterior, não por falta de patriotismo, mas por falta de confiança no ambiente interno. A insegurança jurídica, a instabilidade regulatória e a permanente desconfiança em relação à origem do capital nacional criam um clima adverso à mobilização de investimentos internos.
Importa reconhecer que, em muitos casos, o histórico pouco transparente da origem de algumas fortunas criou obstáculos sérios à sua reintegração produtiva. Ainda assim, a resposta institucional não pode ser o bloqueio generalizado, mas sim o reforço de mecanismos claros de regularização, transparência e reabilitação económica, de modo a permitir que esse capital trabalhe a favor do país.
Uma desigualdade sistémica
Enquanto os profissionais expatriados são frequentemente contratados com condições privilegiadas – pacotes salariais generosos, benefícios fiscais e acesso directo aos centros de decisão –, os angolanos enfrentam uma realidade muito diferente, mesmo dentro das suas próprias fronteiras.
Este fenómeno é ainda mais gritante quando comparado com a forma como os angolanos são tratados no exterior. Por mais competentes que sejam, os nossos quadros raramente têm acesso a posições de destaque em empresas internacionais noutros países. A assimetria é evidente. E a reciprocidade é inexistente.
É tempo de agir
Este artigo não é um apelo ao encerramento do país ao investimento estrangeiro, nem uma crítica generalizada às empresas que aqui operam. É, sim, um chamamento à justiça económica, à valorização do talento nacional e à construção de uma economia mais inclusiva.
Precisamos de políticas públicas e empresariais que incentivem a presença de angolanos nos órgãos de gestão. Precisamos de criar condições para que o capital nacional se sinta seguro e motivado a investir internamente. E, acima de tudo, precisamos de mudar a mentalidade que normaliza a exclusão dos nossos nos lugares onde mais importa estar: no topo.
Porque um país que não confia nos seus, nunca será respeitado pelos outros.