
O Banco Central Europeu (BCE) vai incluir a degradação da natureza no seu quadro de análise de política monetária, anunciou Frank Elderson, vice-presidente do Conselho de Supervisão, num discurso proferido nesta sexta-feira.
“Na revisão da estratégia de política monetária de 2021, o Conselho do BCE reconheceu a importância das alterações climáticas para a política monetária. Isto levou à criação de um plano de ação climática concreto, no qual o BCE e o Eurosistema fizeram progressos significativos nos últimos quatro anos. Dada a estreita ligação entre as alterações climáticas e a degradação da natureza, a avaliação de 2025 clarificou o papel fundamental da natureza na nossa capacidade de cumprir o nosso mandato. Mais especificamente, o Conselho do BCE comprometeu-se, no âmbito do seu mandato, a garantir que terá plenamente em conta as implicações das alterações climáticas e da degradação da natureza para a política monetária e a banca central”, referiu Elderson.
Apesar de caber aos governos definir as suas políticas para as crises climáticas e naturais, o vice-presidente do Conselho de Supervisão salientou que o BCE “não tem outra opção senão ter em conta os efeitos das crises climáticas e naturais” para cumprir os mandatos de política monetária e supervisão bancária. Assim, “acrescentar as palavras ‘degradação da natureza’ à nossa declaração de estratégia monetária é um importante passo em frente”, referiu, acrescentando que o BCE se “se compromete agora a considerar um conjunto muito mais complexo de fatores na definição da nossa política monetária”.
Uma análise do BCE revelou que 72% das empresas da área do euro dependem de, pelo menos, um dos serviços do ecossistema, porém, estes serviços estão a diminuir a um ritmo mais rápido do que em qualquer outro momento da história da humanidade.
Uma investigação mais aprofundada do BCE e do Resilient Planet Finance Lab da Universidade de Oxford está a analisar os riscos mais a fundo, adiantou Elderson. Os primeiros resultados indicam que 15% da produção económica da área do euro está em risco apenas devido à escassez de água e que mais de 1,3 biliões de euros de empréstimos bancários da área do euro estão atualmente concedidos a setores expostos a um elevado risco de escassez de água.
Ainda mais preocupante, referiu, é o facto de, à medida que os dados se tornam mais fiáveis, as estimativas do impacto económico das crises climáticas e naturais são revistas para cima. Por exemplo, de acordo com as últimas estimativas da Network for Greening the Financial System, a perda potencial do PIB global se as ações climáticas falharem é agora projetada para ser três vezes maior do que nas avaliações anteriores, realizadas há apenas alguns anos.
Assim, “considerar o impacto da degradação da natureza no nosso mandato de estabilidade de preços reflete o nosso compromisso com a tomada de decisões baseadas em dados e evidências. Do ponto de vista do banco central, a natureza é um ativo. Ela fornece muitos serviços ecossistémicos — solos férteis, polinização, madeira, recursos pesqueiros, água e ar puro, para citar apenas alguns — que apoiam o crescimento económico sustentável e a estabilidade financeira. Se os ecossistemas se deteriorarem, estaremos essencialmente a depreciar um insumo vital para a nossa economia”, referiu.