
Este é um aviso emitido pelo Banco Central Europeu (BCE) num avanço do último Relatório de Estabilidade Financeira, publicado hoje.
O vice-presidente do BCE, Luis de Guindos, apresentará este estudo semestral na quarta-feira.
Os economistas do BCE analisam a subida acentuada dos preços do ouro desde 2023, que atingiram máximos históricos, e a evolução dos mercados de derivados.
Em geral, o ouro constitui um porto seguro em períodos de tensão, especialmente durante episódios de riscos geopolíticos acrescidos ou de incerteza política.
No entanto, "caso se verifiquem eventos extremos, poderá haver efeitos adversos na estabilidade financeira decorrentes dos mercados do ouro", alertam os economistas do BCE.
"Tal poderia ocorrer apesar de a exposição agregada do setor financeiro da zona euro parecer limitada em comparação com outras classes de ativos, dado que os mercados de derivados apresentam uma série de vulnerabilidades", acrescenta o BCE.
Esta vulnerabilidade deve-se ao facto de os mercados de matérias-primas tenderem a concentrar-se num pequeno número de grandes empresas, muitas vezes alavancadas (endividadas) e terem um elevado nível de opacidade, uma vez que utilizam derivados de balcão.
O BCE alerta para o facto de os valores de cobertura adicionais e a anulação das posições alavancadas poderem criar tensões de liquidez no mercado e de o problema poder alastrar ao sistema financeiro.
Além disso, as perturbações no mercado do ouro físico podem aumentar o risco de picos de preços inesperados, de modo a que alguns investidores podem ter dificuldade em entregar ouro físico e sofrer grandes perdas, algo que já se verificou noutros mercados de matérias-primas no passado.
"Os movimentos recentes nos mercados de futuros do ouro, como o COMEX, em especial nos contratos de futuros com entrega física, confirmam a estreita correlação entre o aumento da incerteza política e o preço do ouro", segundo o BCE.
"A incerteza política, especialmente a relacionada com os acordos comerciais mundiais, aumentou desde as eleições presidenciais nos EUA em novembro de 2024", referem os economistas do BCE.
Mais de metade (58%) dos gestores de ativos esperam que o ouro seja o ativo com melhor desempenho no caso de uma guerra comercial, de acordo com inquéritos realizados em fevereiro e março.
O número de contratos de futuros de ouro para entrega em janeiro de 2025 atingiu o valor mais elevado desde julho de 2007.
O facto de os investidores terem preferido comprar ouro físico através dos mercados de futuros indica que preferem posições longas em ouro físico a contratos que não são liquidados fisicamente.
É provável que estas posições longas beneficiem da reputação do ouro como um porto seguro durante um período de maior incerteza económica e de política comercial.
Os investidores da zona euro estão expostos ao euro através de derivados, criando grandes exposições a contrapartes estrangeiras.
As exposições nacionais brutas a derivados de ouro atingiram um bilião de euros em março de 2025, um aumento de 58% face a novembro de 2024.
Uma grande parte destes contratos de derivados é transacionada no mercado de balcão fora dos mercados organizados e não é objeto de compensação centralizada.
Quarenta e oito por cento dos contratos de derivados sobre ouro têm uma contraparte bancária.
A maioria das exposições dos bancos da zona euro a derivados de ouro é feita a contrapartes fora da zona euro, estando expostas a choques externos no mercado do ouro.
As exposições da zona euro ao ouro através de fundos transacionados em bolsa eram reduzidas, situando-se em 50.000 milhões de euros no quarto trimestre de 2024, sobretudo por parte das famílias e dos fundos de investimento.
MC // CSJ
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