Que os portugueses voltaram a pedir mais empréstimos para comprar casa em 2024 já era conhecido. O que agora se confirma é que essa tendência veio para ficar, com os bancos a anteciparem um novo aumento dos pedidos de crédito à habitação durante o verão, sustentados por taxas de juro mais baixas e sinais de maior confiança.

A expectativa do setor consta do Inquérito ao Mercado de Crédito, divulgado esta terça-feira pelo Banco de Portugal (BdP), que reúne trimestralmente as perceções dos principais bancos sobre a evolução da oferta e da procura de crédito.

No segundo trimestre deste ano, isto é, entre abril e junho, os pedidos de crédito à habitação já aumentaram ligeiramente, à boleia da descida das taxas de juro, uma maior confiança das famílias e, em menor grau, das regras fiscais e legais mais favoráveis ao mercado da habitação.

Mas também do lado da oferta houve mudanças que beneficiaram esta subida. Segundo o BdP, não só os critérios de concessão se tornaram menos exigentes, como a concorrência entre os bancos e a boa avaliação do risco de quem pediu empréstimo ajudaram a facilitar o acesso. Além disso, houve instituições financeiras a reduzir os spreads (margem de lucro sobre o crédito) e as taxas de juro nos empréstimos de risco médio.

Crédito ao consumo continua com restrições

O panorama observado no crédito ao consumo é distinto, com os bancos a optarem por uma postura mais prudente. No trimestre passado, tornaram os critérios de concessão um pouco mais apertados, principalmente devido a preocupações com a qualidade do crédito e com o risco de incumprimento.

Para o próximo trimestre, o setor não espera alterações significativas na procura deste tipo de empréstimos. Ainda assim, o inquérito levado a cabo pela entidade liderada por Mário Centeno mostra que houve um ligeiro aumento na rejeição de pedidos por parte de particulares, o que confirma um ambiente mais restritivo neste segmento.

PME impulsionam crédito empresarial

Já do lado empresarial a procura de crédito por parte das pequenas e médias empresas (PME) subiu ligeiramente entre abril e junho. O BdP revela que este aumento está relacionado com a necessidade de financiar o dia a dia das empresas, como a compra de matérias-primas ou a gestão de tesouraria. Por outro lado, as grandes empresas pediram menos crédito nesse mesmo período.

Para os próximos meses, os bancos esperam que a procura de financiamento por parte das PME continue a aumentar, enquanto não são esperadas mudanças relevantes nas grandes empresas. A proporção de pedidos de crédito recusados manteve-se estável no caso das empresas, o que indica que os critérios de concessão se mantiveram praticamente inalterados.