No início do século XXI, vários países do continente africano enfrentavam uma série de desafios que ameaçavam a sua estabilidade e o seu desenvolvimento. Conflitos armados, tensões políticas internas, disputas comerciais e instabilidade regional, eram obstáculos constantes para o progresso do continente.
Em resposta a esse cenário, a União Africana lançou, em 2013, a Agenda 2063 — uma visão estratégica a longo prazo, com o objectivo de transformar África num continente próspero, unificado, pacífico e autónomo até 2063, ano em que a União Africana cumprirá o centenário da sua criação.
Porém, passados doze anos do lançamento da Agenda 2063, a questão que se impõe é: essa visão ainda é realista e viável diante dos obstáculos actuais?
A resposta não é simples, sobretudo se tivermos em conta o actual panorama africano, mas é fundamental refletirmos sobre os avanços, as dificuldades e as perspectivas futuras.
Os conflitos que hoje assolam vários países africanos — como a crise na República Centro-Africana, as insurgências na Somália, o terrorismo no Sahel, a guerra na Etiópia e as crises internas no Mali, Burkina Faso, Níger e outros — colocaram em causa o objectivo de eliminar as guerras até 2025.
Esses confrontos põem em risco o progresso económico, desestabilizam as sociedades africanas e dificultam a implementação de políticas públicas essenciais para o desenvolvimento sustentável.
Em simultâneo, as tensões comerciais e as disputas pelos recursos naturais (muitas vezes alimentadas por interesses económicos divergentes e influências externas), dificultam a integração regional, um dos pilares fundamentais da Agenda 2063.
Essa fragmentação impede a construção de uma economia mais forte e diversificada e compromete a esperança de um continente autónomo e próspero.
Mas mesmo apesar dessas adversidades, é preciso reconhecer que a Agenda 2063 mantém a sua relevância e seu potencial. Ela propõe uma África onde a paz, a estabilidade, a inclusão social e o desenvolvimento económico caminham lado a lado. Mesmo que a meta de eliminar todos os conflitos até 2025 não tenha sido atingida, a visão de um continente unido e resiliente permanece legítima e desejável.
A inclusão das populações nas decisões políticas e a eliminação das desigualdades sociais e económicas são essenciais para a construção de uma paz duradoura.
O sucesso da implementação da Agenda 2063 dependerá de diversos factores, mas sobretudo do compromisso político dos líderes africanos, da mobilização de recursos internos e externos, e da cooperação entre os países.
A história de África já nos mostrou que as mudanças estruturais só ocorrem com resiliência e visão de longo prazo. Alguns avanços já são visíveis em certos países que investiram em infra-estruturas, no aumento da produção agrícola e uma maior cooperação regional. Esses passos são sinais de que, apesar dos obstáculos, a trajectória é possível.
Para que a Agenda 2063 seja uma realidade concreta, realista e viável, é imprescindível que os actuais líderes africanos sejam determinados, tenham uma liderança forte, uma cooperação regional efectiva e uma abordagem que tenha em conta as especificidades de cada país e sub-região.
A construção de uma África pacífica, próspera e baseada em valores africanos exige perseverança, compromisso e uma visão realista dos desafios. Se for encarada com pragmatismo e adaptada às realidades do continente, a Agenda 2063 pode ainda ser uma ferramenta importante para promover a estabilidade e o desenvolvimento sustentável em África.
A esperança de um futuro mais justo, mais pacífico e próspero não está perdida — ela depende, sobretudo, do esforço conjunto dos seus líderes e das suas populações. Com perseverança e cooperação, África pode, sim, transformar a visão da Agenda 2063 numa realidade palpável para as futuras gerações.