Um corte generalizado no abastecimento elétrico afetou na segunda-feira, desde as 11:30, Portugal e Espanha, situação que continua sem ter explicação por parte das autoridades.

Aeroportos fechados, metropolitanos imobilizados e com passageiros a terem de ser retirados das composições, pessoas fechadas dentro de elevadores, multibancos inoperacionais, semáforos “cegos” a tornarem o trânsito caótico, congestionamentos nos transportes públicos a obrigarem à intervenção policial, veículos elétricos sem poderem carregar, bombas de combustível sem poderem trabalhar, redes de telecomunicações “off”, corrida a supermercados para compra de água e pilhas, entre outros bens, foram algumas das consequências do “apagão”.

O restabelecimento de energia aconteceu de forma gradual ao longo do dia, começando pela zona centro do país.

O operador de rede de distribuição de eletricidade E-Redes garantiu que o serviço está totalmente reposto e normalizado, com o “apagão” a lançar questões que serão tema de discussão pública e por parte de especialistas nas próximas semanas, designadamente das fontes de energia de que o país depende, do grau de resiliência energética das infraestruturas e da importância dos geradores a gasóleo que, na ausência de eletricidade, ajudaram a garantir o funcionamento de vários serviços cruciais, desde hospitais e meios de comunicação social.

O “apagão” energético também trouxe à baila, mais uma vez, o tema da desinformação exponenciada pelas redes sociais. Num contexto em que a impossibilidade de muitos cidadãos ouvirem notícias (por falta de eletricidade para ligarem a Internet, o rádio ou a televisão) combinada com a falta de explicações oficiais sobre os motivos do colapso de eletricidade criaram um terreno fértil para a propagação de boatos.

Passadas 24 horas desde o início do “apagão”, ainda estão por determinar a 100% as causas do incidente. Mas a hipótese mais forte e oficial é que Luís Montenegro, primeiro-ministro de Portugal, apontou, quando falou ao país na noite desta segunda-feira.

Para quem tinha já alguma fonte de alimentação que lhe permitiu ver ou ouvir nalgum aparelho as suas declarações, Montenegro confirmou o que vinha a ser transmitido ao longo do dia, de que o apagão generalizado a nível nacional teve origem em Espanha.

“Não há ainda apuramento cabal da origem da situação que levou a este apagão no fornecimento de energia, quer em Portugal, quer em Espanha, mas há alguns elementos que apontam numa direção: não está relacionado com a rede elétrica portuguesa e, como estamos ligados à rede espanhola, terá sido nessa que teve origem a falha, que estará relacionada com o aumento abrupto na rede espanhola. Não conseguimos explicar, mas foi esse aumento da tensão em Espanha que fez disparar os mecanismos de segurança. É preciso calibrar a ligação com o consumidor final, é isso que os operadores estão agora a efetuar, para não cair toda a ligação”, explicou, no Palácio de São Bento.

O administrador da REN, João Faria Conceição, apontou que podem ser “mil e uma causas”, acrescentando que momentos antes da quebra de energia foi registada uma “grande oscilação de tensões na rede espanhola” e que “naquele momento o sistema elétrico português estava num momento de importação” da eletricidade de Espanha.

Nessa linha, uma hipótese que tecnicamente poderia ter acontecido é que tenha havido alguém que desativou um cabo de alta potência sem que tivessem sido tomados em conta todos os procedimentos exigíveis. Ao fazê-lo, gerou-se o tal desequilíbrio na rede, com todos os mecanismos de segurança a dispararem em efeito dominó. Esta é uma hipótese tecnicamente plausível, refira-se, mas não é oficial.

Durante o dia de ontem foram, de resto, vários os cenários que foram sendo avançados como causa do “apagão” e que se revelaram ser falsos.

A hipótese de um alegado ciberataque foi das primeiras a ser equacionada e até o ministro Adjunto e da Coesão Territorial, Manuel Castro Almeida, não excluiu o cenário. As suspeitas recaíram na Rússia por causa da guerra na Ucrânia. No entanto, essa opção acabaria por ser refutada pelo Centro Nacional de Cibersegurança que não identificou indícios que apontem para um ciberataque na falha na rede elétrica.

A empresa responsável pela gestão da rede elétrica de Espanha descartou hoje a possibilidade de o apagão de segunda-feira na Península Ibérica ter sido provocado por um ciberataque à companhia.

“Com as análises que podemos realizar até agora, podemos descartar um incidente de cibersegurança nas instalações da Red Elétrica”, disse o diretor de operações da Red Elétrica de Espanha (REE), Eduardo Prieto, numa conferência de imprensa em Madrid, já nesta terça-feira.

Nas redes sociais, a razão do apagão chegou a ser atribuída a um suposto acidente com um hidroavião em França, contudo essa notícia era de 2021.

A Alemanha também chegou a ser incluída entre os países supostamente atingidos pelo “apagão”, mas, de novo, aqui, era um boato: a Alemanha teve sempre luz.

Houve ainda rumores de que o apagão ia durar três dias, mas mais uma vez era uma informação falsa.

Surgiram ainda notícias com supostas declarações de Ursula von Der Leyen a dizer que se tratava de um ataque direto à Europa, mas isso não aconteceu.

Em face de tudo isto, na declaração que fez segunda-feira à noite, Luís Montenegro pediu prudência, “face à desinformação em curso, seguindo apenas as orientações das autoridades”.

[em atualização]