Depois do empate no clássico do Dragão, o Benfica estava obrigado a ganhar ao Moreirense para olhar para cima e ver o Sporting a quatro pontos, e olhar para baixo e ver o FC Porto também a quatro pontos. Terminados os 90 minutos da Luz entre os encarnados e os ‘cónegos’, a equipa de Bruno Lage pode dizer «missão cumprida», mas apenas do ponto de vista aritmético, já que o triunfo que lhe sorriu, por 3-2, embora justo, foi conseguido através de uma exibição desigual, pejada de erros, incidentes e insuficiências, que deixou os adeptos das águias de coração nas mãos e credo na boca até ao apito final. 

Tal como na Reboleira, há uma semana, o Benfica entrou forte e chegou a uma vantagem robusta (2-0 aos 15 minutos), e tal como contra o Estrela da Amadora os encarnados encarregaram-se de tornar difícil aquilo que parecia fácil, através de erros primários, a que se juntaram limitações que não são de agora e que, mudando-se alguns protagonistas, persistem, o que deve levar Bruno Lage a profunda reflexão. 

CÉSAR PEIXOTO ACREDITOU

Mesmo a perder por 2-0 ao quarto de hora de jogo, César Peixoto sabia que a sua equipa tinha de pressionar a saída de bola dos donos da casa, até que estes cometessem o erro do costume. Dito e feito.

Estavam jogados 19 minutos quando Benny, após muita cerimónia de Kokçu, assinou um golo de belo efeito que fez o Moreirense regressar à disputa do resultado.

Com um meio-campo a três - Manu (o melhor), Kokçu e Aursnes - que não era capaz de manter a bola e na ausência de apoio interior por parte de Akturkoglu e Schjelderup, a equipa de Lage perdia-se em saídas de bola a partir de Trubin indignas de quem joga a Champions, e ausência total de ideias na frente.

Tinha valido, até então, aos encarnados, uma grande penalidade e um golo após um pontapé de canto, mas o futebol era curto e a impaciência nas bancadas ia aumentando a cada minuto, especialmente quando, à meia hora, depois de um canto, Dinis Pinto esteve perto de empatar.

Como um mal nunca vem só (e por mal, entenda-se pouco futebol) Bah lesionou-se aos 33 minutos (entrou António Silva para o meio e Tomás Araújo passou para a direita, quando o jogo estava a pedir Aursnes a defesa direito e Leandro Barreiro, mais dinâmico, no meio-campo), e um minuto depois foi a vez de Manu também sair por lesão (e aí, Lage fez o que devia, mandando Florentino a jogo).

Estava o Benfica a passar por aflições e dúvidas quando, após um canto batido por Kokçu, Otamendi fez, de cabeça, um golo de belo efeito, que devia ter serenado os ânimos dos anfitriões, o que não aconteceu: não fosse Trubin, por duas vezes na mesma jogada, ter detido remates de Alanzinho (45+5) e as equipas iriam para intervalo separadas por apenas um golo. 

ACABAR DE CREDO NA BOCA

Inconformado, César Peixoto, que tinha montado a sua equipa em 4x3x3 com pressão alta, decidiu arriscar ainda mais na segunda metade e a partir dos 62 minutos, já depois de Schettine ter assustado mais uma vez a Luz, mandou a jogo Ivo Rodrigues e Cedric Teguia, passando a atuar em 4x2x3x1, o que fez com que as saídas de bola do Benfica passassem de mal a pior. 

Bruno Lage, que se vira forçado a duas alterações em momentos diferentes na primeira parte, só tinha mais um momento para mexer na equipa, e pensou bem quando lançou três ‘bês’, Bruma, Belotti e Barreiro, que trouxeram mais consistência à equipa.

Mas não há consistência que valha se os erros individuais forem quem mais ordena e ao minuto 74 Tomás Araújo e Florentino atrapalharam-se, Benny rematou e valeu ao Benfica, mais uma vez Trubin.

Na resposta, após grande passe de Bruma, Barreiro não conseguiu ultrapassar Kewin e tranquilizar o Terceiro Anel. Peixoto voltou a refrescar a equipa com Sidnei e Jorquera, à procura de ser feliz, mantendo o sistema (79) e aos 85 minutos sucedeu aquilo que os benfiquistas mais temiam: numa saída de bola suicidária (a enésima), Carreras entregou o ouro ao bandido’ e Ivo Rodrigues não se fez rogado e reduziu para 3-2.   

Faltavam nove minutos para o apito final (o árbitro deu quatro de compensação) e a angústia dos benfiquistas chegou à hora de jantar, confrontados, exatamente como na Reboleira, depois do soco no estômago que foi a derrota frente ao Casa Pia, com a possibilidade de não capitalizarem o empate no clássico. O jogo passou de descontrolado a anárquico, e foi com alívio que os benfiquistas ouviram o apito final de Bruno Costa.

Mas se, perante a forma como o emblema da Luz chegou à vitória, Bruno Lage não repensar a incapacidade da sua equipa ter bola e impor o ritmo aos jogos (apenas cria  perigo em ataques rápidos e bolas paradas) e, se, sobretudo, não acabar com a forma desmiolada como são iniciadas as jogadas a partir do guarda-redes (nem que seja com futebol direto, na falta de melhor, porque qualquer coisa é preferível a que cada bola nos pés dos encarnados represente uma situação de perigo potencial para a baliza de Trubin), dificilmente o Benfica visitará o Marquês de Pombal no final da época.