Quando, no domingo, Marc-André Ter Stegen saltou para agarrar uma bola em Villarreal e a aterragem lhe pintou a cara com dor, a súplica do alemão a olhar para o próprio joelho forneceu um duplo fatalismo. A grave lesão atingiu o guarda-redes de 32 anos, eterno paciente por suceder a Manuel Neuer na dinastia da baliza da Alemanha, logo quando o lugar já era finalmente seu e, por tabela, afetou o Barcelona, de repente desprovido do seu homem da baliza de quase uma década num momento em que o mercado está fechado. Sem poder pegar no carrinho das compras, o clube desaguou num entroncamento.

Um tipo que se mascara de parede especialmente nos lances de um contra um e hábil a participar na saída de bola da equipa com os pés, onde sempre foi um farol de certeira distribuição de bola, Ter Stegen provavelmente só voltará a jogar na próxima época. O seu suplente óbvio, Iñaki Peña, já lhe saiu da sombra na última temporada: aquando de outra mazela menos grave sofrida pelo germânico, o guardião espanhol esteve na baliza em 17 jogos com sensações díspares. Se acalentou esperanças em partidas contra o Atlético de Madrid ou o FC Porto, este na Liga dos Campeões, outras partidas houve em que emanou tremedeiras das quais um clube que almeja ganhar tudo dispensa ter.

Mas, quando reagiu à lesão de Ter Stegen e foi questionado pela lógica linha de sucessão a cumprir, o treinador do Barça desde o verão, Hansi Flick, não hesitou em bradar ao guardião de 25 anos. “O Iñaki tem trabalhado muito bem, é muito profissional, está concentrado e confiamos nele”, elogiou o alemão antes do encontro frente ao Getafe, que os catalães venceram, na passada quarta-feira, por 1-0, mantendo a então limpeza vitoriosa da equipa no campeonato espanhol (sete vitórias em outros tantos jogos, série quebrada pela derrota contra o Osasuna). Peña esteve na baliza, mas, na véspera, Flick completou as suas declarações com uma certa incerteza: “De momento, não nos sentimos pressionados. Mas veremos o que vamos fazer.”

Essa neblina pouco demorou a ser dissipada de dentro do Barcelona para fora, como é apanágio de um clube com dezenas de vice-presidentes e onde as fontes oficiais, porém anónimas, abundam no falatório que existe em torno da equipa. O “El País”, por exemplo, citou várias para logo noticiar que os catalães exploraram de imediato hipóteses de pensos rápidos da única estirpe que podiam considerar: com o período de transferências fechado há muito, olharam para os guarda-redes sem contrato. Finda a vitória frente ao Getafe, até o discurso de Hansi Flick era outro: “O Iñaki tem 25 anos, o resto são muito jovens. Se acontecer algo, precisamos de um guarda-redes com experiência.”

Entre os desempregados, houve quem se predispusesse de imediato a ser uma solução. Claudio Bravo representou o Barcelona durante duas épocas (2014 a 2016) e disse, em entrevista ao “AS” e do alto da sua reforma: “Se o clube me ligar, estou pronto.” O guarda-redes chileno, de 41 anos, retirou-se no verão após uma derradeira temporada no Real Bétis, onde esteve sempre na sombra do português Rui Silva. Falou-se que os blaugrana também considerara Keylor Navas, costa-riquenho que outrora protegeu as redes do Real Madrid e do Paris Saint-Germain, outro guardião sem clube. Mas, pelos vistos, a preferência estará nos recém-reformados.

Enquanto as tais fontes do Barcelona foram aparecendo a citar o óbvio - além do instável Iñaki Peña, o clube só tem guardiões adolescentes ou perto disso, com menos de 20 anos na idade -, as notícias apontaram para que o alvo fosse Wojciech Szczesny, ainda há poucos meses visto a proteger a baliza da seleção da Polónia no Euro 2024 e saído de cena algo surpreendentemente.

Após o torneio, o homem das luvas que ocupava o posto na Juventus anunciou a sua retirada. Aos 34 anos, apesar de salientar estar com o corpo “pronto para desafios”, o polaco confessou que já não sentia “o coração no futebol”, explica que era “momento para dedicar toda a atenção à família”. A roda dentada da bola pesava compreensivelmente na decisão de Szczesny, cuja idade está longe de ser demasiada para um guarda-redes se manter no topo, precisamente onde ele estava.

Terão bastado, contudo, uns telefonemas do Barcelona e conversas com os responsáveis do clube para o polaco mudar de ideias. Apesar de ter rescindido o contrato que o ligaria à Juventus ainda nesta temporada, Szczesny aceitou ir buscar as luvas ao armário para ser “a experiencia” que os catalães buscavam: entre Arsenal, Roma e a Juve, o guardião tem 75 partidas feitas na Champions. Aos 34 anos, a sua reforma (e a família) ainda terá de esperar um pouco mais.