O verde nas fachadas, as placas indicativas em português ou o leão na rotunda indicam que estamos, de facto, em Alvalade. São as marcas diferenciadoras que confirmam que não estamos enganados no local, porque todo o ambiente envolvente transporta-nos, sobretudo, para o coração da Catalunha. O catalão domina nestas ruas pintadas de tons blaugrana.

Os nomes nas costas são para todos os gostos. Mapi León, Alexia Putellas, Aitana Bonmatí e até Mariona Caldentey, hoje adversária, mas que por muitos anos foi culé. É a única que se vê nas camisolas espanholas e inglesas.

@zerozero

E, claro, Kika Nazareth. O carinho que a internacional portuguesa rapidamente conquistou junto da afición transparece nas costas de muitos dos que a abraçaram na mudança para a Cidade Condal. Agora, são eles na Lisboa dela.

É uma festa sem igual a que encontramos nas imediações do anfiteatro leonino. Os mais distraídos, que não reparem nas enormes lonas em tons de azul a anunciar a final, poderão achar que estão no sítio errado. As longas filas para a loja do merchandising, as multidões sentadas no piso de betão em torno do estádio fazem o ambiente assemelhar-se às últimas horas (dias?) que antecedem o concerto de alguma super estrela mundial. Arriscaremos dizer que imagem semelhante talvez apenas no próximo ano, do outro lado da Segunda Circular, num desses concertos tão badalados.

A final é poética. Os nossos vizinhos espanhóis e os ingleses, que veem sempre neste cantinho à beira-mar um destino ideal para as merecidas férias de verão. Dois países com ligações diferentes a Portugal, mas que encontram aqui um espaço que talvez saiba a casa longe de casa. Este sábado há rivalidade, mas se há coisa que o futebol jogado por mulheres tem são rivalidades saudáveis. Não há exageros, não há confrontos. Os espaços estão repletos de gentes rivais dentro de campo, mas parceiras fora dele num objetivo comum: celebrar o futebol.

@zerozero

Os catalães estão em clara maioria. A viagem é mais curta e os feitos heroicos deste plantel não passam despercebidos à fiel legião de adeptos blaugrana. Crianças e adultos, homens e mulheres. Envergam orgulhosamente nas costas os nomes das suas novas heroínas. Também essa é uma das proezas destas mulheres: em Barcelona, em Londres ou noutro lugar qualquer, já não são meras desconhecidas. São ídolos das novas gerações, são modelos a seguir.

O menino que queria ser como Messi, hoje também quer ser como Alexia. A menina que queria ser como Bergkamp ou Henry, hoje também quer ser como Leah Williamson. Tudo isso se sente nas ruas lisboetas por esta altura. Que melhor exemplo para isso que não o homem espanhol, de cabelo pintado e divididos nos tons blaugrana, de camisola de Aitana Bonmatí e uma bandeira gigante com a cara da vencedora dos dois últimos Ballon d'Or a envolvê-lo, que pudemos ver nas imediações de Alvalade, a aguardar ansiosamente a chegada do autocarro que transportava as portadoras do sonho de uma região, do sonho do tricampeonato europeu?

Os ingleses são mais comedidos. Estão em inferioridade nos números, mas há uns quantos que se fazem ouvir e não deixam que a presença do Arsenal numa final europeia pela primeira vez em 18 anos passe despercebida. Tentam dar o seu contributo para esta festa, mas se a tarefa dentro de campo se prevê difícil, fora dele é ainda mais exigente. Do outro lado, está uma enchente de catalães loucamente apaixonados. Famílias, casais, sejam mais jovens ou mais idosos. Ninguém quis faltar à chamada. Aqui e ali, uma ou duas palavras em português chegam-nos aos ouvidos para confirmar onde estamos. Também a preferência dos lusos parece recair nas catalãs.

O final de tarde em Lisboa promete ser animado, com respeito e muita festa. Exatamente como o futebol deve ser.