Já dá para respirar? É que durante os 120 minutos do Inter-Barcelona, foi completamente impossível. Num dos jogos do ano, os nerazzurri começaram a ganhar, chegaram aos 90' a perder, empataram e, no prolongamento, selaram, com vitória por 4-3, a passagem à final da UEFA Champions League.

Só podia avançar um, mas, depois deste jogo, quase fica a vontade de dar o troféu aos dois conjuntos. A organização e crença do Inter foram quase inigualáveis. Quase. Porque, ao longo dos segundos 45 minutos, o Barça conseguiu dominar por completo uma das melhores equipas do Mundo. E se esses 45 minutos fossem 50, esse controlo significaria o carimbo para a final de Munique. Mas a crença dos homens de San Siro foi mais forte, a capacidade física também e o banco revelou-se, já no tempo extra, fundamental para que os nerazzurri chegassem à segunda final da Champions League em três anos. Um jogo que, se acontecesse em Milão no século XVI, seria candidato a ser imortalizado num quadro de Leonardo Da Vinci.

No primeiro tempo, o Barcelona não mostrou ser o Barcelona que tem mostrado que é. E a responsabilidade é do Inter. Os primeiros 15 minutos de controlo blaugrana não resultaram em golo e, a partir de certo momento, os nerazzurri começaram a perceber o que tinham de fazer para sair com a bola de forma confortável. A partir daí... acabou-se o Barça na primeira parte.

Talvez seja exagero dizê-lo desta forma. Não fossem cortes importantes de AcerbiBastoni e Bisseck a dois remates de Yamal e outro de Ferrán Torres e o resultado ao descanso seria diferente. Mas tudo isso deve-se à forma como, sem bola, a equipa do Inter começou a acompanhar cada vez mais Dimarco (e mesmo assim, parar Lamine Yamal revelou-se no maior problema para a equipa de Inzaghi) e, no momento em que começou a perceber como devia sair a jogar, deixou de sentir tanta pressão culé: saídas de Bastoni em controlo de bola ou jogo dirigido por Çalhanoglu para as alas permitiam que a equipa de Simone Inzaghi explorasse os espaços e, com a eficiência que lhe é conhecida — todos os toques e todos os- momentos servem para adicionar — o golo chegou com a pressão no último terço: Dimarco recuperou, soltou rápido em Dumfries e, pleno de altruísmo, o neerlandês deu a Lautaro Martínez a hipótese de fazer o 1-0.

O argentino voltou a ter papel preponderante em cima do intervalo, ao ganhar penálti que Çalhanoglu não desperdiçou. Tudo corria bem ao Inter, que vencia por 2-0 ao descanso. O problema do jogo dos nerazzurri é que, do outro lado, estava uma equipa que, nos momentos de pressão... não falha.

A reviravolta (quase) perfeita

A segunda parte foi completamente distinta da primeira. E a estatística, que nem sempre diz tudo, é amiga a explicar isso mesmo. O Barça também teve mais posse de bola na primeira parte, 66%, mas rematou menos e o jogo foi mastigado e com pouco acerto. Na segunda parte, teve 72% de posse, mais sete remates que o Inter e, sobretudo, fluidez, vertigem e controlo. Fosse Pedri a temporizar e distribuir no meio ou Yamal a ir para o 1 para 1 e a passar quase sempre, os protagonistas foram... improváveis: Aos 54', Eric García recebeu cruzamento de Gerard Martín com um remate acrobático e o mesmo Martín cruzou, seis minutos depois, para cabeceamento perfeito de Olmo. De repente, a crença materializava-se e o Barcelona carregava para vencer. Com mais oportunidades, o Inter tentava não vergar, mas aos 87', Raphinha, à segunda, assinou a reviravolta. Tudo estava encaminhado para mais um momento épico... até aos 90'+3.

Com toda a gente projetada, Yamal conduziu contra-ataque que terminou com remate ao poste. Nem toda a gente recuperou, o que permitiu que Dumfries aparecesse sozinho perante Gerard Martín. O cruzamento rasteiro encontrou Acerbi, que, à ponta de lança, rematou sem hipótese para Szczesny e para a explosão do Estádio Giuseppe Meazza. Os jogadores premiavam quem via com mais 30 minutos de futebol. O coração entrava em campo e o fôlego, tal como o de quem estava de fora, já escasseava.

Yamal é diabo à solta, mas Sommer foi anjo da guarda

Há um momento que, ainda antes do prolongamento, podia ter sido decisivo: num contra-ataque de 3 para 2, Eric García quase bisava, mas Sommer voou para fazer uma das defesas do ano. E no segundo tempo do tempo extra, voltou a voar para parar Yamal, sempre em jogo mas, para lá dos 90', particularmente endiabrado. Não se pode dizer que seja por Yamal que o Barcelona não ganhou. Fez 10 remates dos 20 remates da equipa, obrigou Sommer a três das sete defesas que fez e, mais uma vez, voltou a ser a peça de destaque deste Barcelona. E já só faltam dois meses para poder tirar a carta de condução!

Se Lamine Yamal se destacou ao longo de todo o jogo, mais o fez a partir dos 99'. Foi o momento da quebra blaugrana e da decisão da partida: Thuram entrou na área, Taremi amorteceu e Frattesi temporizou antes de fazer com que Szczesny fosse batido pela quarta vez na partida.

A equipa do Inter soube defender, parou as incursões adversárias — sobretudo, lá está, de Yamal — e, quando o resto falhava, lá estava Sommer. O Barcelona, melhor ataque da Liga dos Campeões e uma das equipas mais espetaculares do ano, talvez não merecesse cair nesta fase da Liga dos Campeões.

Mas se há equipa que merece passar é o Inter.