Ricardo Izecson dos Santos Leite, ou Kaká como sempre foi conhecido no mundo do futebol, é um dos poucos jogadores a conseguir conquistar uma Bola de Ouro no reinado de Cristiano e Messi, e o último brasileiro a fazê-lo até então. Acredito que só isto é cartão de visita suficiente para que continuem a ler este artigo, mas Kaká era muito mais que isso.
Ficou conhecido no mundo do futebol com a sua chegada a Milão, para representar o histórico AC Milan, um clube recheado de vedetas que prometiam dificultar a vida ao jovem Ricardo. Muito recentemente li uma entrevista de Carlo Ancelotti, que dizia que na altura em que avançaram para a contratação de Kaká, não esperavam receber um menino “da faculdade”, um rapaz que parecia um estudante quando entrou em Milanello.
Carleto confessava-se ligeiramente desiludido porque temia que o menino Ricardo não fosse quem ele achava que era, mas mal o viu em campo, a sua expressão e convicção mudou drasticamente. Começava assim o reinado de Kaká em Milão, ao ponto de ser carinhosamente apelidado de “Príncipe de Milão”, devido à sua aparência angelical, devoção a Jesus Cristo e à igreja, mas essencialmente, pela classe com que entrava em campo.
Cada vez que me lembro de Kaká, lembro-me de alguém que sempre tratou a bola “por tu”, com pezinhos de veludo, jogava que se fartava, passava pelos seus adversários como se estes estivessem parados no tempo, congelados apenas a observar a mago brasileiro, sempre elegante, com uma bola nos pés.
Fazia parecer sempre mais fácil aquilo que às vezes não era, fruto da sua qualidade, inteligência, remate, personalidade, drible e irreverência. As portas do histórico Real Madrid abriram-se finalmente para receber o prodígio brasileiro, depois de ter conquistado o Ballon D’or em 2007.
Chegava a Madrid um dos médios ofensivos com mais qualidade de sempre, alguém que se movia em campo como o vento, sem ninguém dar por ele, fazia sempre tudo bem, fazia sempre a coisa certa, arrancava aplausos, arrancava sorrisos.
A história em Madrid não correu assim tão bem, fruto das sucessivas lesões que infelizmente enfrentou, e Kaká, que havia antes rejeitado uma possível transferência quase certa para Manchester, para representar o City, quis regressar à sua casa, Milão, para uma última dança ao mais alto nível, no seu Milan. E Ricardo dançou, encantou, fez-me sempre apreciar o seu jogo, para mim era como se fosse um pianista que se movia em campo ao leve som das suas teclas, simplificava as suas com toques simples, recursos práticos, que por vezes eram espetaculares.
Terminou a carreira na MLS, ao serviço do Orlando City, e ajudou a pôr a liga americana no mapa do futebol. Uma carreira que faz inveja a qualquer um, ao todo marcou 237 golos em 751 jogos disputados, e foi sempre um dos astros mais cotados da “canarinha”.
Kaká é um dos jogadores que me vem sempre à cabeça quando penso naqueles que para mim foram os melhores que vi jogar, apenas por tudo aquilo que representava e pela tal facilidade com que fazia o que queria em campo.
Recentemente vi um pequeno vídeo do filho de Kaká que, com apenas 16 anos, é uma cópia exata do seu pai, sempre de cabeça levantada, sempre a ver os estão os seus companheiros, sempre de radar ligado, numa travessia feita em pezinhos de veludo, que só parava dentro da baliza.
Saudades de te ver jogar, saudades de te ver encantar tudo e todos com essa maneira única de jogar, saudades de ti, eterno Kaká. Serás, para sempre, o “Príncipe de Milão”, o estudante que ensinou a matéria ao professor Ancelotti.
Um dos melhores “10” de todo o sempre, a elegância brasileira, Ricardo Kaká.