O mercado verde e branco foi relativamente tranquilo. Apesar de rumores e cobiças, só houve uma saída e duas entradas: a de Rui Silva, cara conhecida no futebol português, e a de Biel, um perfeito desconhecido.
Por isso mesmo, neste artigo, o zerozero procurou dar a conhecer um pouco melhor o novo leão, tantas vezes implorado por Alvalade - face à necessidade de ter um extremo esquerdo de pé direito e à conhecida onda de lesões.
Dos Moleques de Xerém à aposta no Bahia
Desde o começo da carreira, Biel sempre evidenciou as características que ainda hoje demonstra: rapidez, capacidade técnica, boa relação com bola e uma insistente vontade de desequilibrar no último terço, onde se sente como peixe na água.
Como adolescente, representou o Fluminense, conceituado clube brasileiro, com uma respeitada formação. Fez parte de uma geração de ouro do clube, onde venceu o Campeonato Carioca Sub-17 em 2018 e perdeu a final da Copa do Brasil.
Nesse plantel estavam também nomes como Marcelo Pitaluga (ex-Liverpool), André (Woolverhampton), Luiz Henrique (ex-Botafogo e Real Betis) e João Pedro (Brighton).
Quando atingiu a maioridade, foi estranhamente emprestado ao STK Samorin, da Eslováquia, mas rapidamente voltou ao Brasil. Continuou a crescer no Flu e, em 2021, realizou 44 jogos pela equipa principal.
Em 2022, Biel deu um passo atrás para dar dois à frente. Desceu à Série B, no empréstimo ao Grêmio, mas não se fez rogado. Chegou com vontade de trabalhar e, com 21 anos de idade, Biel apresentou-se aos adeptos do tricolor, em entrevista ao RCD Esporte nos primeiros momentos no novo do clube; definiu-se numa simples frase: «Jovem, franzino e com muito para aprender».
Com esta mentalidade, foi um dos mais utilizados da temporada e teve um papel importante no regresso do Grêmio ao primeiro escalão. Foi pedido expresso do treinador Roger Machado, que o apelidou de "canela dura", uma alcunha que Biel teve a oportunidade de explicar mais tarde: «É porque eu sou franzino, sempre fui magrinho, mas consigo sustentar o combate corpo a corpo.»
A impressão deixada foi positiva e a direção do clube tinha a opção de continuar com o atleta em 2023, como afirmou Sérgio Vazques - diretor do futebol tricolor -, mas nada foi acionado. Então, surgiu o Bahia, clube a que Biel chamou casa durante dois anos e meio.
Com um projeto menos ambicioso do que o do Grêmio, o extremo brasileiro encontrou as condições certas para se estabelecer no Brasileirão e amadurecer. Em duas temporadas, onde chegou a ser orientado pelo português Renato Paiva, participou em 98 jogos, marcou 17 jogos e fez 18 assistências.
O tempo passou e o carinho dos adeptos por Biel aumentou, face às boas exibições e ao atrevimento inerente. No livro de reclamações apenas uma queixa: um pouco propício a lesões, o que impediu o jogador de atingir outros números.
Curiosamente, um dos marcos que estava para breve era o de 100 jogos pela equipa principal do Bahia. As celebrações já estavam prontas, mas apareceu o Sporting...
Quando o leão cercou a presa...
«Há uma possibilidade de negócio que está a ser tratada, pediram-me que ele não fosse utilizado hoje. Temos de entender, é uma boa oferta, se se concretizar vamos procurar uma solução. Vamos aguardar a conclusão desta negociação para saber qual será o próximo passo».
As declarações foram de Rogério Ceni, icónico guarda-redes e treinador do Bahia, após o empate frente ao Vitória, na madrugada de domingo. Horas mais tarde, em Alvalade, Rui Borges confirmou o negócio.
Foi a contratação mais cara da história do Bahia - pouco mais de um milhão e meio de euros - e saiu como a venda mais avultado de sempre no clube de Salvador - seis milhões de euros, podem ser adicionados mais dois mediante a concretização de objetivos.
Assim sendo, o extremo pegou na esposa e na filha - já referiu várias vezes que se apoia muito na família - e regressou à Europa, desta feita a Portugal.
Biel definido... por Biel
O jovem brasileiro tem 23 anos e ainda não concedeu grandes entrevistas. Por isso, recorremos às poucas que deu e a algumas conferências de imprensa para, partindo das próprias palavras do jogador, conhece-lo um pouco melhor.
Há pouco mais de um ano, em entrevista concedida ao TVE Bahia, umas declarações de Biel saltaram-nos à vista. Com o colega Everaldo a terminar recentemente uma crise de golos, Biel defendeu-o, mostrou confiança e contou como ajudou o colega.
«Sempre lhe disse: um atacante tem de estar sempre confiante. Antes do jogo, dei-lhe um abraço e disse-lhe: "Cara, a gente confia em você. Você é o nosso camisa nove, o homem golo. Espero que você consiga dar essa reviravolta e balançar as redes, porque isso é muito importante para a gente". Logo, ele fez três [golos] e uma assistência e ficámos muito felizes com isso.»
Como referido anteriormente, sempre suscetível a lesões, Biel falou aquando de uma recuperação e afirmou que, independentemente do tempo de jogo ou da posição, só quer ajudar: «Já estou a 100 por cento. Respeito a opinião do Rogério [treinador], por estar a entrar no segundo tempo. Eu já lhe disse que estou à disposição para jogar onde ele quiser. Estou sempre disposto a ajudar, é o meu papel e principal motivo, independentemente de qualquer coisa.»
Para o brasileiro, a disponibilidade é acompanhada pela exigência: «No primeiro ano no Fluminense só fiz cinco golos e cobrava-me muito. Este ano já fiz o dobro. Estou a viver um ano bom, a amadurecer mais - tive alguma demora, mas estou a amadurecer. Tenho trabalhado bastante, estou focado e tenho a ajuda da minha família. Estamos a ter um bom ano e espero ajudar mais, fazer mais golos e assistências. Estou na disposição para ajudar, fui contratado para isso. Fico feliz por estar a ser uma contratação boa e importante para o clube. Espero dar continuidade.»
A continuidade será dada, agora, em Alvalade.