
O Boavista espera alcançar em breve um compromisso viável com a SAD, administradora do futebol profissional dos axadrezados, despromovidos à Segunda Liga, observa o presidente do clube, tendo em vista a regularização do protocolo vigente.
"Há uma aproximação entre clube e SAD para que isto não volte a acontecer e vão existir reuniões nos próximos dias, pois é essencial para a nossa atividade haver entendimento. É preciso entender uma coisa: mesmo que venham a ser concretizados alguns negócios ou investimentos que estão em curso, servirão para dar retorno ao nosso investidor e ao clube e não para pagar despesas correntes, que têm de ser assumidas pelo cumprimento do protocolo com a SAD", reconheceu Rui Garrido Pereira, em entrevista à agência Lusa.
Empossado em 24 de janeiro, seis dias depois da vitória eleitoral sobre Filipe Miranda, o sucessor de Vítor Murta assegura que o clube "está claramente preocupado e focado em auxiliar na viabilização" do licenciamento da SAD chefiada pelo senegalês Fary Faye nas provas profissionais da próxima época, na qual o Boavista volta à Segunda Liga 17 anos depois.
"Daquilo que sei e me é dito pelo presidente da SAD, estão focados em fazer a inscrição na II Liga e subir de divisão e contam com o apoio do investidor Gérard Lopez. Da nossa parte, houve sempre vontade de ajudar na medida do que podíamos, mas nunca tivemos essa possibilidade nem fomos integrados no projeto do futebol profissional. É algo que definitivamente tem de mudar ou que, pelo menos, eu gostava que se alterasse", traçou.
Revoltado pela descida do Boavista, que já não 'caía' no relvado ao patamar secundário desde 1959/60 - em 2007/08, foi despromovido administrativamente no âmbito do Apito Final, processo derivado do Apito Dourado, numa pena revertida com a reintegração na Primeira Liga em 2014/15 -, Garrido Pereira vê o insucesso da SAD a gerar constrangimentos na atividade do clube, denunciando um valor mensal protocolado de 140.000 euros em falta.
"O clube nunca será um problema para a SAD e está focado em potenciar da forma que puder o movimento dela. O que queremos e precisamos para a nossa sobrevivência é o pagamento do protocolo. Sem isso, há muita coisa que fica por pagar e em risco, daí a importância das reuniões que se vão suceder para percebermos a melhor forma de gerir este problema", referiu, sobre uma das fontes de receita do clube, a par das quotizações.
Dias antes das eleições, o advogado apresentou um acordo de investimento com a firma Digital Knight Finance, com a qual procurou, já na qualidade de presidente do Boavista, perceber se Gérard Lopez, acionista maioritário da SAD 'axadrezada', estaria disposto a transacionar algum do capital por si detido na sociedade, da qual 10% pertence ao clube.
"Disse na altura que gostava de ser presidente da SAD, com todo o respeito pelo Fary, e que se a SAD não estivesse interessada em investir, eu teria a solução. A estratégia era fazer a união entre clube e SAD, mas o Gérard Lopez não teve interesse em transacionar ações ou fazer com que o meu investidor entrasse no capital da SAD. Essa solução seria boa para o clube, porque poderia alavancar mais disponibilidade para nos ajudar", frisou.
Essas conversações foram mantidas numa fase em que as 'panteras' estavam impedidas pela FIFA de inscrever novos futebolistas há cinco janelas de transferências, cenário que apenas foi ultrapassado em fevereiro, já depois do encerramento do mercado de inverno.
Na altura, a SAD disse ter garantido as condições necessárias para acelerar o reforço da equipa em janeiro, mas explicou que essa abordagem prioritária ruiu porque o clube não regularizou a sua situação na Segurança Social, com Rui Garrido Pereira a alertar agora que "não foi só por causa da sua gestão que as inscrições não ocorreram em tempo útil".
Ressalvando que a Digital Knight Finance "nunca se colocou de parte", mesmo perante a descida do Boavista à Segunda Liga, o advogado descarta que o clube tenha tentado impugnar o Processo Especial de Revitalização (PER) da SAD - cuja lista provisória distribui por 239 credores quase 166 milhões de euros (ME) de montantes reclamados e reconhecidos -, pedindo "uma retificação no plano sobre a envolvente do estádio que pertence ao clube".
Priorizando a recuperação financeira do Boavista, a direção "tem reunido semanalmente com vários investidores" numa perspetiva de tentar abater a dívida e aumentar o retorno, após ter prometido em campanha eleitoral "soluções que ainda não estão concretizadas".
"Houve uma entrada imediata de 200.000 euros, que foi manifestamente insuficiente face às necessidades. Depois, tinha mais duas soluções. Uma seria promover o Boavista nos Estados Unidos, com 500.000 euros de retorno anual durante o triénio de mandato, mas percebi aí que até a marca do clube está penhorada e não pude fazer o negócio", contou.
Garrido Pereira desejava também antecipar parte dos 4,8 ME exigidos à SAD, verba não reconhecida no PER da mesma, cujo recurso àquele instrumento foi aceite pelo tribunal, ao contrário do que aconteceu com a direção do clube então comandada por Vítor Murta.