“Sei que haverá médicos a ouvir-me e a pôr as mãos na cabeça, mas não tenho alternativa se quiser jogar ténis”. (…) Eu não preciso continuar, mas o amor pelo ténis sim. Sou uma pessoa muito emotiva. Gosto tanto… Competir, poder dar-me… Ajuda-me. É sempre a última infiltração, mas é a única coisa que me permite jogar. É o que, a curto prazo, me permite jogar.”

Estas foram algumas das frases impactantes de uma entrevista concedida pela tenista espanhola Paula Badosa ao programa El Larguero da estação de rádio espanhola Cadena Ser, a quem as lesões têm impedido de ter a continuidade necessária para poder explanar todo o seu potencial.

Quando Badosa está livre de lesões, tem todas as condições para figurar no top 10 mundial (o que acontece neste momento devido a um percurso extraordinário na última edição do Open da Austrália, onde chegou às suas primeiras meias-finais num torneio de Grand Slam) e poder figurar de forma consistente entre as cinco melhores tenistas do mundo.

Uma tenista que já foi número 2 mundial (alcançado em Abril de 2022), e que tem ténis para voltar aos lugares cimeiros ténis mundial, tal como demonstrou no Verão do ano passado (tendo ganhado o prémio de Regresso do Ano), tendo ganho o título no WTA 500 de Washington, feito quartos-de-final no Open dos Estados Unidos e uma meia-final num torneio de grande prestígio (WTA Masters 1000 de Pequim).

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No início deste ano de 2025 e como disse anteriormente, Paula Badosa alcançou as primeiras meias-finais de um torneio do Grand Slam, depois de realizar uma exibição absolutamente excecional nos quartos-de-final da prova diante da norte-americana Coco Gauff, atual número 5 mundial, em parciais contundentes de 7-5 e 6-4.

Essa caminhada sensacional só foi travada devido a uma Aryna Sabalenka (número 1 mundial e até aquele momento em busca de um terceiro título consecutivo em Melbourne) em estado de graça naquele logo.

Sabalenka e Badosa foram rivais naquela circunstância, tal como já foram outras vezes, mas essa rivalidade só acontece dentro do campo. Fora do campo, a tenista bielorrussa e a tenista espanhola são as melhores amigas.

No fim desse jogo, Sabalenka chegou a dizer que tinha pedido desculpa a Badosa e que se iria “retratar” por lhe ter ganho, comprando-lhe tudo o que ela quisesse, quando fossem sair novamente. Um detalhe curioso, e que espelha bem a amizade que as une.

Depois do Open da Austrália, Badosa não mais conseguiu voltar aos níveis exibicionais apresentados no primeiro Grand Slam do ano, com eliminações em rondas precoces dos torneios de Abu Dhabi, Doha e Dubai. Um pouco de relaxamento talvez, mas igualmente sintomático de que tinha levado o seu corpo ao limite.

Em Maio de 2023, a tenista espanhola sofreu uma fratura de stress tão grave que os médicos a desaconselharam a continuar a sua carreira. “Os médicos disseram-me que seria muito complicado continuar a minha carreira”, confessou Badosa no podcast WTA Insider. Mas, como é extremamente determinada e é igualmente uma lutadora fora do campo, optou por injeções regulares de cortisona, a única alternativa que lhe foi apresentada.

A sua história de superação pode e deve servir de exemplo para muitas pessoas. Tem uma vida financeira privilegiada, não necessita do ténis para pagar as suas contas, mas continua determinada a continuar a competir, porque é isso que a move.

“Há dias em que me sinto melhor, mas outros são difíceis. Gosto muito deste desporto, gostava de gostar menos, mas o que é que eu vou enganar? Dou tanto da minha vida a isto que quando mo tiram assim… Ainda esta semana atingi o nono lugar do mundo. Estou triste e devia estar feliz, mas não consigo. É uma oscilação muito grande de emoções”, disse Badosa na já citada entrevista ao programa El Larguero, após mais uma lesão no meio de um episódio interminável de problemas físicos.

É admirável tudo aquilo que Paula Badosa tem conseguido alcançar, tendo que lidar com sucessivos períodos sem competir, e a que, apesar de os médicos terem aconselhado a terminar a sua carreira, não atira a toalha ao chão e que sabe que tem um talento único e que pode continuar a competir contra as melhores do mundo.

Acredito que isso também a impeça de tomar uma decisão tão dolorosa, como a de pendurar as raquetes.

Badosa foi a primeira tenista de topo a falar abertamente sobre a sua luta contra a ansiedade e a depressão, partilhando um vídeo que documenta tudo aquilo pelo qual passou no Verão de 2019.

“Tenho lutado durante anos com muita depressão”, afirmou Badosa em Break Point, documentário da Netflix.

“As pessoas estavam a falar de mim como se eu fosse a próxima Maria Sharapova. Senti-me: ‘Uau, agora tenho de ser uma lenda. Se calhar, no próximo ano, tenho de ser uma jogadora do Top 10’. E, para mim, era muita pressão”.

“Foi muito difícil para mim porque não sabia o que fazer naquele momento. A vida não tinha muito sentido porque, desde os sete anos, o meu sonho era ser tenista profissional. Era muito mau. Não queria entrar num campo de ténis. Comecei a tentar encontrar soluções para resolver o que sentia, com profissionais de saúde mental.”

Essas comparações com Sharapova foram inicialmente associadas às suas parecenças físicas (pois as duas gozam de uma beleza invejável), e pelas semelhanças no seu estilo de jogo.

Em 2019, Badosa ainda era uma novata no circuito mundial do ténis, e não soube lidar muito bem com essa pressão mediática. Apenas queria jogar ténis, e não queria que a estivessem a comparar constantemente com a multi-campeã russa Maria Sharapova.

Sim, o seu jogo tem várias nuances que se assemelham. Badosa tem igualmente um excelente serviço, o que a faz ter elevadas percentagens de pontos ganhos no seu primeiro serviço, tal como no caso de Sharapova.

Badosa é igualmente combativa e extremamente competitiva, tem uma grande direita e faz muito uso da profundidade e potência da sua pancada, tendo igualmente um fabuloso jogo de pés.

As lacunas de ambas são igualmente muito similares. Tal como Sharapova, Badosa não é uma jogadora muito virtuosa e não apresenta um jogo de rede muito sólido, prefere jogar pontos rápidos apesar de se defender bastante bem.

Quando ganhou Indian Wells (que muitos consideram o Quinto Grand Slam) numa final magnífica frente à bielorrussa Victoria Azarenka em Outubro de 2021, todos pensavam que Badosa iria irromper para uma carreira impressionante, com um lugar cativo nas melhores tenistas do mundo.

Apesar de não ter conquistado muitos títulos, Badosa conseguiu resultados bastantes regulares e manter uma qualidade de jogo bem alta durante o ano de 2022.

Foi um ano de consolidação mais do que conquistas, sendo que a tenista espanhola queria aumentar o seu palmarés no ano de 2023. Mas aí começaram a surgir as primeiras lesões, que a impediram de jogar o Open da Austrália desse ano e de não participar nos torneios seguintes, tendo apenas reaparecido a bom nível no Masters 1000 de Madrid desse ano, onde alcançou os oitavos-de-final.

Mas no WTA Masters 1000 de Roma desse ano e apesar de ter atingido os quartos-de-final desse torneio, Badosa decidiu continuar a jogar depois de ter contraído a tal mencionada fratura de stress nas costas no jogo de segunda ronda frente à tunisina Ons Jabeur (a sua outra grande amiga no circuito), que foi piorando com o acumular de jogos, e que eventualmente levou a tenista espanhola a parar durante 12 semanas, e a forçar (uma vez mais) a nota para poder competir em Wimbledon.

Essa decisão revelou-se errónea. Foi eliminada na segunda ronda, e agravou a sua lesão, sendo que não mais competiu durante esse ano. Mais tarde, Badosa confessou que durante esse período, as dores lombares eram tão insuportáveis que foi a primeira vez que ponderou terminar a sua carreira.

“Tenho sido muito aberta na imprensa e em todo o lado sobre os meus problemas de saúde mental, porque até o melhor atleta do mundo pode sentir isso. Neste momento, estou numa posição em que, se puder falar, posso ajudar outras pessoas”.

A carreira de Paula Badosa sofre agora mais um revés com esta lesão contraída no WTA 500 Mérida. A mesma lesão nas costas que tem afetado a sua carreira nos últimos anos.

A tenista espanhola optou agora por um novo plano de tratamento, que envolve injeções regulares de cortisona para controlar as dores persistentes. “Os médicos disseram-me que seria muito complicado continuar a minha carreira”, revelou Badosa.

“Mas também me ofereceram uma alternativa – injeções regulares de cortisona. Disseram-me ‘Esta é a única opção que podemos dar-te e que talvez tenhas de continuar a jogar mais alguns anos’”.

O mundo do ténis aguarda com expetativa para ver se a lesão de Badosa não compromete toda a progressão que foi evidente durante a última edição do Open da Austrália. Sabemos que o seu espírito competitivo e o seu amor pelo ténis, não a farão baixar os braços.

“Vou dar tudo por tudo para voltar ao campo o mais rapidamente possível, com mais energia do que nunca”.

O amor de Badosa pelo ténis é inegável e reflecte-se na sua determinação inabalável em continuar, apesar das adversidades.

Parar neste momento é crucial, com Roland Garros a menos de dois meses de distância. Badosa conta regressar à competição em fins deste mês, para poder disputar o Masters 1000 de Madrid, torneio em que já foi semi-finalista.

A gravidade do seu estado de saúde tornou-se evidente quando foi aconselhada a apenas infiltrar-se três vezes por ano (o que não deixa de ser uma barbaridade), e que pode fazer com que tenha uma lesão debilitante para o resto da sua vida, e que limite uma vez finda a sua carreira desportiva.

“Desta vez, fiquei com mais medo do que devia, porque esta hérnia na vértebra L4 surgiu no lado oposto ao da minha primeira lesão em 2023. Sempre senti desconforto no meu lado direito, e agora é no esquerdo. Fiquei preocupado que fosse outra fratura de stress, mas felizmente não é. Não preciso dizer que ficarei sem competir por sete meses”, explicou ele ao ‘El Larguero’.

Enquanto se recupera, Badosa afirmou que está a aproveitar a oportunidade para retomar alguns projetos e também estudar Marketing e Negócios, mas que mal vê a hora de poder voltar a competir.

“ É uma montanha russa com lesões, foi por isso que escrevi sobre a Fénix. Sinto-me muito identificado com ela. Chegar ao fundo do poço, ter de sair dele mais forte do que nunca, recuperar as forças… É de facto complicado do ponto de vista emocional. Quando nos dizem que temos de voltar a passar por provas, eu penso “Olha, já não sou capaz”, mas o amor que tenho por este desporto faz-me continuar.”

Esta afirmação (concedida ao programa El Larguero da rádio espanhola Cadena Ser), reflete bem o sentimento tão puro e genuíno de Badosa pelo ténis. E devo confessar-vos algo caros leitores, ao ouvir a tenista espanhola proferir estas palavras de voz embargada, eu também não pude deixar de me emocionar.

Como deve ser tão difícil e tão cruel lidar com estas constantes lesões, estar privada de fazer o que mais ama, e conseguir manter-se positiva.

O ténis precisa do seu sorriso de volta e todos os amantes do seu ténis (tal como eu) querem que Paula Badosa renasça como a Ave Fénix, pois é uma atleta que tudo dá de si para poder continuar a competir ao mais alto nível, nem que para isso tenha que massacrar o seu corpo com tantas injeções e infiltrações, o que muitos (eu inclusive) uma profunda insanidade, mas uma postura que não posso deixar de enaltecer.