Mais do que golpe de teatro, por ter sofrido um golo na reta final de uma partida em que dominou avassaladoramente (e inofensivamente), será a palavra «desilusão» a marcar a eliminação de Portugal do Campeonato da Europa de sub-21, frente aos Países Baixos. Desilusão pela derrota, obviamente, mas sobretudo desilusão pela exibição pouco conseguida, feita demasiadas vezes de futebol mastigado e sem profundidade, que permitiu aos neerlandeses, depois da expulsão de Van Bommel, aos 21 minutos (Portugal com um jogador a mais durante 69 minutos regulamentares e seis de compensações), estacionarem o autocarro em frente à baliza de Robin Roefs e, paulatinamente, sem passarem por grandes arrepios, irem destruindo, uma a uma, as ações atacante de Portugal, incapaz de transformar em jogadas de perigo a superioridade que revelava em posse de bola. 

PENÁLTI FALHADO 

Falar deste jogo e não dar a devida relevância à grande penalidade desperdiçada, com um remate ao poste direito da baliza dos Países Baixos, por Geovany Quenda, a estrela da companhia, é como ir a Roma e não ver o Papa. E o que está em causa não é que o extraordinário jovem jogador, que vai continuar no Sporting por empréstimo do Chelsea, tenha sido incapaz, ao minuto 31, de fazer golo, porque falhar dos onze metros acontece ao mais pintado, de Pelé a Eusébio, de Maradona a Cruyff, de Cristiano Ronaldo a Messi. O que é relevante para a história deste jogo, e muito provavelmente para o destino da eliminatória, é que esse falhanço permitiu aos Países Baixos, a jogar com dez, manter o autocarro em frente à sua baliza, coisa que não faria sentido se se vissem em desvantagem. Assim, o minuto 31 fica como o mais relevante da derrota lusitana, seguido de perto pelo minuto 84, quando Poku se isolou, rodeou Samuel Soares e colocou a «laranjinha mecânica» nas meias-finais de Europeu que já venceu por duas vezes, condenando Portugal a ter de continuar a porfiar pelo primeiro triunfo continental neste escalão. 

ANTES E DEPOIS 

Com a equipa portuguesa armada num 4x4x2 losango, que lhe dava superioridade numérica a meio-campo sobre o 4x3x3 dos Países Baixos, enquanto as equipas estiveram onze contra onze e o jogo foi repartido, viu-se a turma das quinas a superiorizar-se e a ameaçar as redes neerlandesas por Tiago Tomás (7) e Gustavo Sá (15). Foi então que o figurino da partida se alterou radicalmente: aos 19 e 21 minutos Van Bommel (filho de Mark) foi amarelado e consequentemente expulso, e Michael Reiziger, técnico neerlandês, não foi de modas e tomou como prioridade fechar os caminhos para as redes de Roefs. E não se importou, por vezes, com o facto da sua equipa aparecer em 6x2x1, ou de ter passado quase o tempo todo em 5x3x1. Foi Portugal que se mostrou mais incomodado e sem soluções perante o reforçadíssimo bloco baixo dos neerlandeses e quando aos 29 minutos Tiago Tomás foi derrubado por Rensch e o árbitro, alertado pelo VAR, assinalou grande penalidade, pensou-se que, em desvantagem, os Países Baixos iriam de abdicar do autocarro. Como o remate de Quenda acertou no poste, Reiziger não mexeu em nada e deixou essas despesas para Rui Jorge, não sem ainda antes do intervalo ter assustado Samuel Soares por duas vezes, a primeira situação abortada por off-side, e a segunda por uma grande defesa do guarda-redes português, num mano-a-mano com Van Bergen

SUBSTITUIÇÕES 

Para a segunda parte Rui Jorge trocou Tiago Tomás, mais móvel, por Henrique Araújo, mais posicional, e a dúvida que se levanta é se, a jogar contra dez, não devia optado por ter os dois avançados em campo simultaneamente. A verdade é que a mudança não produziu resultados práticos, e apenas por uma vez, através de Paulo Bernardo, o guarda-redes neerlandês foi obrigado a aplicar-se, o que foi manifestamente pouco. E nem mesmo a entrada de Forbs para a esquerda (63), saindo Paulo Bernardo e passando a um 4x3x3 claro, resultou, nesse caso por falta de inspiração do jogador formado no Manchester City. Como, do outro lado, Quenda se foi progressivamente apagando, ia valendo à turma nacional a rotatividade de Diogo Nascimento (da estirpe de João Moutinho e João Neves) e o atrevimento de Gustavo Sá, argumentos insuficientes para atingir o objetivo desejado. Rui Jorge ainda refrescou o meio-campo, com João Marques e Pedro Santos (80), mas a ineficácia manteve-se, e quando tudo apontava para o prolongamento, o recém entrado Poku ganhou a bola nas costas da defesa nacional, e colocou os neerlandeses na frente (84). Daí em diante, já com Rodrigo Gomes em campo, Portugal tentou o impossível, mas nunca chegou a criar uma situação de golo.

Feitas as contas finais, uma derrota num jogo que teve tudo para ser ganho, em tarde em que o pragmatismo dos Países Baixos levou a melhor sobre o futebol demasiado redondo apresentado por Portugal.