Hayden Hackney tem vindo a afirmar-se como um dos médios mais completos e influentes do Championship. Com apenas 23 anos, é hoje uma peça fundamental no modelo de jogo de Michael Carrick, atuando como número “8” num perfil clássico de médio box-to-box, daqueles que intervêm em todas as fases do jogo e ligam os sectores com critério e intensidade.

Taticamente, Hackney encaixa perfeitamente na ideia de um médio moderno: versátil, inteligente, dinâmico e com capacidade para interpretar diferentes zonas do campo. Quando a equipa tem bola, oferece-se sempre como solução curta na fase inicial da construção, seja entre os centrais ou nas costas da primeira linha de pressão adversária.

Recebe com qualidade, tem uma boa orientação corporal e não hesita em levantar a cabeça para procurar soluções mais verticais. Destaca-se especialmente pela forma como muda o centro de jogo com passes longos precisos, abrindo o campo e desmontando blocos adversários com variações rápidas de flanco.

A sua qualidade técnica no passe é um dos traços mais evidentes do seu jogo. É fiável na circulação curta, tem precisão no passe longo, sabe jogar em apoio e combina com facilidade com os extremos e os laterais, mantendo o ritmo da equipa. Apesar de assumir um elevado número de passes progressivos, mantém uma taxa de eficácia de passe elevada, o que demonstra equilíbrio entre risco e controlo. Não joga apenas para o lado ou para trás — procura constantemente que a equipa ganhe metros, seja em condução ou com passes entre linhas, assumindo protagonismo no transporte e na criação.

Sem bola, Hackney é um jogador altamente comprometido. Revela uma leitura muito apurada dos espaços e dos momentos para pressionar, cobrindo zonas vastas com critério e intensidade. É rápido a reagir à perda e tem um bom sentido de posicionamento, sabendo quando deve subir ao portador ou recuar para garantir cobertura.

Está sempre em movimento, o que lhe permite oferecer linhas de passe em transição ou compensar defensivamente quando a equipa sobe no terreno. O seu raio de ação é impressionante: aparece a recuperar junto aos centrais e, poucos segundos depois, está a servir um avançado em zona de finalização.

A chegada ao último terço é outro ponto forte. Hackney tem golo, principalmente quando aparece em zonas de remate fora da área. Ao longo da época, apontou alguns golos de grande qualidade, demonstrando potência no remate e confiança na execução.

Tem facilidade em atacar a profundidade vinda de trás e sabe identificar o momento certo para surgir à entrada da área, aproveitando desmarcações de arrasto para receber solto. Ainda assim, há margem para que apareça com mais frequência em zonas de finalização e que tire maior proveito da sua capacidade de remate forte e colocado.

Fisicamente, Hackney apresenta um perfil bastante equilibrado. Com cerca de 1,78m e 73kg, tem um corpo atlético, resistente e bem adaptado à exigência física do Championship. É um médio com boa capacidade aeróbica, que se mantém intenso ao longo dos 90 minutos e cobre muitos quilómetros por jogo, sobretudo com bola. A sua aceleração em posse é uma das suas principais armas — quando arranca com espaço, é capaz de progredir metros com grande eficácia, desequilibrando por dentro com conduções firmes. Em termos de agilidade, ainda pode evoluir nas mudanças rápidas de direção, especialmente em espaços mais curtos, onde a sua estrutura física mais robusta pode limitar ligeiramente a rapidez de execução.

A nível defensivo, precisa de melhorar nos duelos aéreos, onde tem ainda dificuldades claras. Trabalhar a impulsão, o tempo de salto e o posicionamento nesses lances será importante para tornar o seu jogo mais completo e competitivo nas bolas paradas, tanto defensivas como ofensivas. No entanto, em duelos no solo, é eficaz, combativo e determinado, sem medo do choque. A intensidade com que reage à perda e a disponibilidade para recuperar rapidamente a posição tornam-no um médio muito útil em momentos de transição defensiva.

Do ponto de vista mental, Hackney apresenta uma maturidade assinalável para a idade. Tem personalidade, não se esconde após o erro e toma decisões rápidas mesmo sob pressão. Recebe e executa com calma, muitas vezes em zonas de risco, e mostra sempre confiança nas suas ações.

Demonstra ainda uma boa leitura do jogo, identificando onde estão os espaços, variando o ritmo quando é preciso e ajustando-se ao que o momento do jogo exige. Por vezes, essa agressividade leva-o a cometer faltas desnecessárias, tendo terminado a temporada com vários amarelos e um vermelho. É um aspeto a trabalhar, sobretudo no controlo emocional e na gestão de momentos de maior tensão.

Socialmente, parece ser um jogador identificado com o clube e com a região, o que se reflete no compromisso e entrega dentro de campo. Mostra capacidade de adaptação e maturidade nas relações com colegas, embora já tenha protagonizado episódios de frustração em campo, o que pode ser corrigido com maior autocontrolo e comunicação assertiva nos momentos de maior tensão.

Em termos de perfil global, Hackney reúne, assim, características técnicas, físicas, táticas e mentais que o colocam como um dos médios mais preparados do Championship para dar o salto para patamares superiores. Pela sua visão de jogo, qualidade de passe, chegada à área, intensidade sem bola e leitura tática, seria uma opção natural para equipas que valorizem médios com critério, presença física e capacidade para ligar todos os momentos do jogo.

Ainda que uma eventual transferência ronde os 20/25 milhões de euros, no atual contexto, no FC Porto, a quem tem sido bastante associado nos últimos tempos, seria uma alternativa muito interessante, por exemplo, a Nico González, que saiu em janeiro e, até agora, ainda não foi devidamente substituído, num modelo de posse e pressão — capaz de oferecer critério com bola, cobertura defensiva, presença ofensiva e leitura em todas as fases do jogo. Um médio que encaixa tanto num duplo pivot como numa estrutura a três no meio-campo, com liberdade para subir ou recuar conforme o modelo de jogo.

Ainda assim, também o vejo, claramente, a encaixar em qualquer outro dos ditos “três grandes”, tanto no Benfica, onde se prevê uma autêntica reformulação no meio-campo, com a já confirmada saída de Renato Sanches e as prováveis transferências de Orkun Kokçu e de Florentino Luís, como no Sporting, a formar, eventualmente, uma dupla com Morten Hjulmand, em caso de saída de Hidemasa Morita, por exemplo.

Em suma, Hayden Hackney já é mais do que uma promessa — é uma certeza no Championship. E tem tudo para crescer ainda mais num contexto de exigência superior. Seja em Inglaterra, em Portugal, ou em qualquer outro país, é, certamente, um nome a seguir com atenção.