
A Volta a França em bicicleta arranca já este sábado, em Lille, no Norte da França. Uma prova recheada de estrelas internacionais com o triplo vencedor, o esloveno Tadej Pogacar, ou o seu rival, o dinamarquês Jonas Vingegaard, e também com os portugueses João Almeida e Nelson Oliveira.
A Volta a França não é apenas a prova profissional, mas desde 1993, há também a Etapa da Volta, uma prova praticada por amadoras que fazem o percurso dos profissionais, e organizada pela ASO - Amaury Sport Organisation - empresa que organiza o Tour.
A 20 de Julho, cinco dias antes dos profissionais, os amadores vão poder entrar na pele dos profissionais durante uma etapa.
A Etapa da Volta vai ligar a cidade de Albertville e o Alto de La Plagne numa distância de 131 quilómetros com 4 500 metros de desnível positivo com cinco subidas.
Nesse dia, cerca de 16 mil ciclistas vão percorrer o percurso desta prova única, mas que já tem várias variantes em diversos países como em Portugal.
A edição 2025 em França vai ter uma forte presença internacional, inclusive com 27 portugueses e 73 brasileiros que vão também estar presentes com objetivos diversos. Aliás 23% dos participantes são estrangeiros com uma média de idade de 41 anos.
87 nacionalidades vão estar presentes sendo que as três mais representadas serão a francesa, a inglesa e a alemã.
Esta prova foi conquistada por ciclistas que hoje são profissionais e participam na Volta a França como o norueguês Jonas Abrahamsen (2017) e o francês Victor Lafay (2018), podendo servir de revelador para encontrar futuras estrelas, isto enquanto outros atletas vai apenas para participar pelo prazer de praticar a modalidade.
O Jornal Record teve a oportunidade de seguir os capitães da prova, ciclistas com experiência que vão ajudar os participantes, durante o reconhecimento da etapa.
As condições climatéricas serão primordiais, podendo haver um sol intenso como nestes últimos dias na Europa, com temperatura acima dos 38°C, ou então com chuva como foi o caso durante o reconhecimento.
As condições extremas podem complicar a prova, como nos explicou Anne Sophie, uma das capitãs: «Se chover, vai ser complicado, as subidas serão difíceis, mas os participantes terão que ter muito cuidado nas descidas. Estamos aqui para praticar a nossa modalidade, em segurança, e não correr riscos».
A Etapa começa rapidamente com uma primeira subida, o Alto de Héry-sur-Ugine, com uma distância de 11,3 quilômetros e com 5,1%. Uma subida por fases, com ligeiras descidas em estradas estreitas junto a ravinas, numa paisagem de verdura, mas com nevoeiro que dificulta a visibilidade.
Os ciclistas amadores vão poder também aproveitar para ver cavalos e vacas ao longo da subida, permitindo ter um momento agradável apesar do esforço.
Uma curta descida e novamente uma subida, o Alto das Saisies, com uma distância de 13,7 quilómetros e com 6,4%.
Novamente uma subida irregular com fases planas, o que permite ter um momento de descanso, isto na primeira fase, mas na segunda, as rampas são mais pronunciadas e há curvas mais complicadas a gerir. Não haverá muito tempo para ver as incríveis castas ao longo do percurso.
O perigo será sobretudo na descida, com muito desnível, com curvas apertadas e sem tréguas, sem zonas planas. Uma descida técnica em que a concentração terá de ser ao máximo.
Depois de uma paragem por Beaufort, onde haverá um momento para recuperar e comer, segue-se a subida mais difícil.
O Alto do Pré com uma distância de 12,6 quilómetros e com 7,7% acabou por ser fatal a vários capitães de estrada num dia de chuva e de algum frio nas montanhas francesas.
A subida é complicada porque não há nenhum momento plano e que poderá provocar no dia da prova, vários abandonos num momento em que teremos ultrapassado os 70 quilómetros percorridos, quer dizer mais de metade do percurso.
A descida é perigosa com muitas curvas apertadas, estrada escorregadia com chuva e estreitas até chegar à barragem de Roselend.
Um lago incrível, um momento intenso, magnífico, no meio de tanto sofrimento durante esta prova para os ciclistas.
Frédéric Salomone, responsável da segurança na prova: "A segurança é a nossa prioridade. 300 voluntários vão estar presentes na prova para tentar assegurar a segurança dos participantes. E também estamos em ligação direta com as autoridades e as forças policiais. Também vai haver ambulâncias e médicos presentes, como é óbvio, porque não pode haver nenhuma falha. Já houve vários incidentes noutros provas ciclistas e nesta Etapa da Volta não vai haver, pelo menos vai tentar tudo para que não haja nenhum problema", assegurou Frédéric Salomone.
Nesse momento da prova, já só faltam duas subidas. A quarta será o Alto do Cormet de Roselend, com uma distância de 5,9 quilómetros a 6,3%. A mais curta e talvez a menos difícil, sendo irregular com zonas de descidas e planas, e cuidado com as pedras na berma da estrada.
Novamente uma descida muito perigosa com curvas apertadas que dão pouca visibilidade. Depois dessa descida, há uma zona plana em que será necessário dar ao pedal para poder chegar à última subida, porque é necessário lembrar que nem toda a gente poderá terminar a prova visto que não será possível fechar as estradas durante 24 horas para que todos os ciclistas cheguem a La Plagne.
Anne-Sophie, uma das capitãs, explicou qual é o seu papel: «Nos vamos estar presentes para ajudar os participantes, mas não podemos pedalar por eles (risos). Vamos apoiar, vamos explicar, vamos dar conselhos, somos um apoio durante toda a prova», referiu a ciclista amadora que decidiu aceitar este papel porque pratica esta modalidade por prazer e deseja compartilhar essa paixão com outras pessoas.
A prova com cerca de 16 mil participantes vai contar com 16 partidas com mil ciclistas em cada uma delas e terá um total de 25 capitães espalhados pelo percurso.
A subida para a chegar no Alto de La Plagne é a maior, com 19,1 quilómetros, mas também é a mais regular com 7,2%. Mas antes dessa subida, em Bourg Saint Maurice, uma loja com produtos portugueses e uns pastéis de nata para recarregar as baterias para os participantes que terão a vontade de parar nessa cidade, onde mil famílias portuguesas, recenseadas, trabalham e vivem.
Depois dessa pausa gastronómica com sabores portugueses, La Plagne, uma subida regular, longa e sem nenhum momento de descanso. Os ciclistas terão de estar preparados para esta duríssima Etapa da Volta.
Se para os profissionais é uma etapa complicada e difícil, será ainda pior para estes amadores, sendo que alguns vão tentar mostrar-se porque estas provas são sempre vigiadas pelas equipas profissionais ou semiprofissionais para descobrir jovens atletas ou talentos escondidos.
Para Pierre Mosin, diretor da Etapa da Volta, alertou para o facto desta prova não ser para qualquer atleta: «Os participantes para esta edição ou para as próximas têm de estar preparados. É uma etapa de alta montanha, não se pode vir para a prova sem uma verdadeira preparação», referiu Pierre Mosin, antigo ciclista que percorreu os 131 quilómetros na sua bicicleta.
Certo é que cinco dias após um vencedor amador, esta etapa será percorrida pelos profissionais e será a última grande etapa de alta montanha em que o vencedor final poderá ser conhecido.