Afamadas por servirem de encosto a um caldeirão de emoções, desta feita, às cadeiras do estádio do Partizan valia-lhes apenas a companhia da colega do lado. O vazio tornou gélida a estreia de Martín Anselmi no FC Porto contra os israelitas do Maccabi Tel Aviv, inquilinos do recinto sérvio. Ao menos, a calmaria deixava que as ideias do treinador, mais ou menos inovadores, falassem por si e entre si sem que nenhuma distração que as pudesse comprometer. Ainda assim, e mesmo que o cenário fosse semelhante ao de um amigável de pré-época, o resultado (0-1) não foi irrelevante e serviu os interesses dos nortenhos.
O género da palavra jogo pressupõe que seja difícil para ele desempenhar duas tarefas em simultâneo. O Maccabi Tel Aviv-FC Porto esquivou-se à regra. Assim como era parte da equação para as contas do apuramento dos dragões para a fase seguinte da Liga Europa, era a oportunidade para descobrir em que é que Martín Anselmi ia transformar os azuis e brancos. Tudo isto, tendo em conta que um fator influenciava o outro, ou seja, o contexto decisivo nunca seria propício a um total à vontade para que o argentino visse as suas propostas aplicadas na plenitude.
No entanto, elogiem-se as hábeis capacidades de impor no imediato alguns retoques que, pela invulgaridade, podemos concluir terem nascido do pensamento de Anselmi. Obviamente, a relação inextricável entre a importância do momento, a sequência de cinco jogos sem ganhar e a tentação de inovar forçou o estabelecimento de prioridades. Defender bem foi a maior delas ou não tivesse o técnico sul-americano partilhado que é essa é a fase do jogo que depende totalmente da intencionalidade da sua equipa.
O invólucro do FC Porto estava formato em 5x2x2x1. Quando a defender em bloco médio – e foi essa a opção primordial –, os dragões montaram um pentágono ao centro. Danny Namaso foi o homem mais adiantado, Alan Varela e Nico González os médios de cobertura e Pepê e Fábio Vieira encarregaram-se de fechar por dentro.
Stephen Eustáquio com as suas meias murchas nas pernas foi central a tempo interior, entre Otávio e Tiago Djaló, embora variando muito a localização nas diferentes vagas de ataque posicional. Em termos comportamentais, a linha mais recuada mostrou-se hiper reativa ao posicionamento da bola. Com o olhar dos defesas azuis e brancos em cima de outros alvos, Dor Turgeman escapou aos três elementos do eixo naquela que foi a melhor oportunidade até aos 40 minutos de um marasmo de futebol ofensivo de parte a parte.
Combinados os resultados dos 18 jogos da noite, ao intervalo, o FC Porto, que entrava na última jornada com oito pontos e no 25.º lugar, o primeiro posto a deixar o seu residente de fora da competição, estava eliminado O lado bom é que dependia apenas da produtividade da sua máquina para aceder ao playoff, onde sabe-se agora, vai ter AS Roma ou Viktoria Plzeň como obstáculo no caminho até aos oitavos de final.
No ainda rudimentar processo ofensivo da equipa de Martín Anselmi, foi João Mário, pelo corredor direito, o mais potenciado. Quando se apropriava do objeto que estimula o jogo, os limites de velocidade alargavam-se. Ora conduzindo, ora afiando o ataque através do passe, sempre que a bola lhe chegava aos pés não voltava para trás.
Dentro desta perspetiva unidirecional, o lateral encontrou, de forma rasteira, a diagonal de Danny Namaso com o inglês que rendeu o castigado Samu Aghehowa a falhar o desvio por uma distância em relação ao poste que deixaria uma formiga entalada. Se os meios terrestres não estavam disponíveis, João Mário recorreu aos meios aéreos. Numa incorporação no ataque, Nico González desempenhou aquele papel de segundo homem de área que tão bem sabe fazer, concretizando de cabeça.
De qualquer modo, o FC Porto não estava seguro. A quantidade de vezes que pressionou junto da grande área dos israelitas – com Nico González a juntar-se a Danny Namaso em voluntariosas, mas desorganizadas correrias – não foi proporcional aos erros que provocou na equipa que o sérvio Zarko Lazetic colocou a jogar nos limites do risco. Assim sendo, quando o Maccabi Tel Aviv saía para o ataque, era preciso contar com os pés esquerdos de Weslley Patati e, sobretudo, de Osher Davida que rematou à barra.
Martín Anselmi tinha já ligado o modo resultadista, lançando Zé Pedro para reforçar a defesa numa sequência de substituições que também levou o malfadado Galeno, que falhou dois penáltis contra o Santa Clara, para dentro do campo. Mais robustez não significou mais segurança, bem pelo contrário. Dor Peretz chegou a empatar o jogo aos 87 minutos. Caso o golo não tivesse sido invalidado, o FC Porto estaria eliminado e, curiosamente, o Sp. Braga, que venceu a Lázio (1-0), seguiria em frente. Não passou de um pesadelo do qual os dragões acordaram antes da tragédia se concretizar. Com 11 pontos e o 18.º lugar, são a única equipa portuguesa que resiste na Liga Europa.