
Se é senso comum que a liga portuguesa situa-se à margem da 'nata' do futebol europeu, vários bilionários de vulto e grupos de investimento de elevado quilate discordam. Porquê? Simples. Basta olhar para o mapa mundo que Record lhe ilustra nestas páginas e seguir o rasto do dinheiro. Ou melhor: olhar à sua origem e à forma cada vez mais diversa e abrangente com que é aplicado na I Liga. Dos 18 clubes que compõem o mais alto patamar nacional, 11 contêm uma participação de investimento estrangeiro elevada ou de alto relevo mediático. E o Moreirense foi só o mais recente exemplo de como tem mudado a paisagem do investimento no campeonato português.
É com redobrada esperança que os cónegos se preparam para mergulhar em 2025/26. Desde o final de junho, os minhotos passaram a ter como acionista maioritário o consórcio norte-americano Black Knight Football Club, detentor de 70% da SAD. Trata-se do grupo que também controla Bournemouth (Inglaterra), Hibernian (Escócia), Lorient (França) e o 'simpático' Auckland City (Nova Zelândia), que se deu a conhecer ao mundo no Mundial de Clubes. Esta é, de resto, a terceira entrada norte-americana na nossa liga, depois do Global Football Holdings (tem 84,5% do Estoril) e do MSD Capital, que está na SDUQ do Casa Pia, sociedade por quotas que deverá passar a SAD.
Mas a terceira grande fonte de investimento vem do país-irmão, ainda que não na totalidade. Santa Clara (55,8), AVS (100%) e Alverca (70%) movem-se a capital brasileiro, ainda que o grupo que aposta nos ribatejanos regressados ao escalão maior tenha também associados de origem espanhola - este grupo ainda não responde por uma designação oficial, mas tem como rosto mais visível Vinícius Jr., o craque do Real Madrid.
Do país-vizinho também surge o acionista maioritário do igualmente retornado Tondela, mas é inescapável destacar as participações de bilionários como o grego Evangelos Marinakis (Rio Ave), o israelita Idan Ofer (Famalicão) e o egípcio Nassef Swairis (V. Guimarães), cujos interesses se estendem à Premier League, à NBA e à NHL.
Importa também realçar a presença fixada em 29,6% da Qatar Sports Investments de Nasser Al-Khelaïfi no Sp. Braga, ou não estivéssemos a falar do homem que é dono do faraónico PSG. E vamos ver se a paisagem não continua a mudar.
Nacional retira-se de campo
Fora deste jogo acabou de se colocar o Nacional. Depois de meses de negociações, os madeirenses desistiram da intenção de alienar a maioria do capital social da sua sociedade anónima desportiva. Quem o garantiu foi o presidente do emblema insular, Rui Alves, o qual foi taxativo: "Deixámos de ter interesse." A afirmação foi proferida a Record na passada sexta-feira.
Em causa estava a venda de 60% do capital da SAD ao grupo ACA Football Partners, a troco de 13 milhões de euros. Mas o negócio perspetivado com o grupo de Singapura caiu. O alvinegro tinha via aberta para avançar depois de apresentar e discutir o tema em sede de assembleia geral, sem que nenhum associado tivesse exercido o direito de preferência. Este desenlace deixou Rui Alves desconfortável. Refira-se que o acordo previa que o Nacional cedesse o direito de utilização, mas mantinha o setor de formação e as suas instalações. Contudo, o acordo caiu por terra.