O Elvas, equipa do Campeonato de Portugal - o quarto escalão do futebol português -, protagonizou este domingo uma das maiores surpresas desta edição da Taça de Portugal, ao eliminar, com direito a reviravolta, o Vitória SC nos oitavos de final.
A equipa minhota até começou melhor, ao adiantar-se no marcador logo aos dois minutos, através de Michel, mas o emblema alentejano, a jogar em casa - o mítico Campo Patalino - deu a volta ao marcador na segunda parte, primeiro por Lucão, aos 50 minutos, jogador que, mais tarde e depois de assistido durante cerca de 10 minutos, teve de abandonar o campo lesionado.
Ao minuto 75, a ‘explosão’ de alegria ecoou por toda a cidade histórica do distrito de Portalegre, graças ao golo do avançado ganês Desmod Nketia.
Equipa do quarto escalão nas meias-finais pela primeira vez
O triunfo épico dos “cavaleiros” assegurou uma inédita presença entre os quatro semifinalistas para uma equipa do Campeonato de Portugal (CP).
Nos quartos de final, o Elvas vai medir forças com o Tirsense, também do Campeonato de Portugal, o que garante, desde já, que um clube deste escalão estará nas “meias” da prova-rainha do futebol português.
Caso avance para a fase seguinte, o clube alentejano defrontará, a duas mãos, Farense, Benfica, SC Braga ou Lusitano de Évora.
Este cenário esteve perto de ser logrado no século XXI por Dragões Sandinenses (1999/00) e Leça (2021/22), ambos afastados nos “quartos” pelo Sporting.
Outros casos de semifinalistas da Taça de Portugal abaixo do segundo patamar foram o Lusitânia de Lourosa (1993/94) e o Leixões (2001/02), ambos oriundos da antiga II Divisão B, e o Caldas (2017/18), então do CP, numa altura em que aquelas provas correspondiam ao terceiro escalão.
Os matosinhenses tornaram-se mesmo a única equipa oriunda dos campeonatos não profissionais a chegar à final em 85 edições, perdendo com o Sporting (0-1), no Estádio Nacional.
Antes, Marítimo (1955/56 e 1967/68) e Lusitânia dos Açores (1963/64) também atingiram as meias-finais, mas quando estavam a competir nos campeonatos regionais da Madeira e dos Açores, respetivamente, uma vez que não tinham acesso às divisões nacionais.
Taça com sotaque alentejano
O Elvas, fundado em 1947, prossegue a melhor prestação da sua história na Taça e pode ter a companhia do vizinho Lusitano de Évora na próxima fase, caso os “lusitanistas”, também do CP, vençam, esta quarta-feira, às 20:15, na visita ao SC Braga, no jogo que encerra os “oitavos”.
Os únicos representantes do Alentejo em prova já foram responsáveis pelo afastamento de três equipas da Primeira Liga na atual edição, casos do Estoril (3.ª eliminatória) e do AFS (4:ª eliminatória), ambos derrotados pelo Lusitano, e do Vitória, afastado ontem pelo Elvas.
O regresso do futebol alentejano à elite… para quando?
Apesar de surpreendentes, as eliminações protagonizadas por emblemas do Alentejo estão alinhadas com os desempenhos das duas equipas nos respetivos campeonatos.
O Elvas lidera a Série C do Campeonato de Portugal, com apenas uma derrota registada e seis pontos de vantagem sobre o Peniche, segundo classificado. No caso do Lusitano, que ocupa o segundo lugar na Série D do CP, a disputa é mais renhida: soma 30 pontos, os mesmos que o Amora e menos um que o líder Moncarapachense.
Em ambas as séries, os dois primeiros classificados da fase regular (que termina em abril) avançam para a fase de subida.
Elvenses e eborenses são atualmente os dois únicos representantes do futebol alentejano nas divisões nacionais e mantêm aspirações de subir à Liga3.
A Primeira Liga parece ainda uma realidade distante para os dois emblemas, que já por lá andaram: O Elvas em cinco ocasiões, a última em 1988; e o Lusitano de Évora por 14 vezes, entre 1952 e 1966.
Num futuro mais ou menos próximo, parece inevitável que o Alentejo regresse à elite, algo que não acontece desde a descida do Campomaiorense à II Liga, na distante época de 2000/2001.