Em contagem decrescente para as eleições presidenciais no Benfica, João Noronha Lopes concedeu uma entrevista ao portal ECO, para o qual explicou a sua visão e ideias para implementar nos encarnados, caso vença o sufrágio.

Entre a certeza de que as águias não precisam, necessariamente, de reduzir os gastos no que ao futebol diz respeito, o candidato comentou o trabalho realizado nos últimos anos por Rui Costa e Luís Filipe Vieira, reforçando ainda a preocupação com a identidade do clube e a necessidade de apostar na formação.

Onde investir o dinheiro do clube: «Acho que o Benfica não tem que gastar menos dinheiro no futebol, tem que gastar melhor. E esse gasto, uma parte dessas despesas, deve ser a investir na formação e na manutenção de alguns jogadores, nomeadamente dos jogadores que transportam consigo aquilo que é a nossa mística e a nossa identidade.»

Benfica precisa de mudar: «A avaliação que faço deste mandato do Rui Costa é muito negativa. O Benfica falhou desportivamente, falhou financeiramente e falhou do ponto de vista institucional. E, portanto, precisa de uma mudança, de uma mudança firme com uma equipa que traga novas ideias, novas pessoas, uma visão estratégica de longo prazo e com pessoas que façam acontecer, que tenham capacidade de inovação e que ponham as mãos à obra para mudar o clube.»

Vieira melhor do que Rui Costa?: «Não... é preciso não esquecermos como acabou o mandato de Luís Filipe Vieira. Foi um presidente que saiu acusado pela justiça, e que no seu último mandato preferiu ir à procura de outros interesses que não protegeram os interesses do Benfica. Portanto, a avaliação que faço globalmente do mandato de Luís Filipe Vieira não pode ser positiva.»

Bases do projeto Benfica: «O Benfica tem que ter, em primeiro lugar, o sucesso desportivo no centro de tudo aquilo que vai fazer, portanto, tem que ter um projeto desportivo. Esse projeto desportivo constrói-se à base de três coisas: Organização, identidade e estabilidade.

Uma das coisas que falta ao Benfica neste momento, na minha opinião, é exatamente essa identidade que nos traz a cultura de vitória. O Benfica foi se aburguesando nas derrotas. E quando os insucessos continuavam, em vez de se procurarem soluções, procuravam-se desculpas. Há que reganhar esta cultura de vitória, de raça, de querer, de ambição, que fez a diferença no Benfica.»

Aburguesamento: «Vem das pessoas que estão no Benfica. Essas pessoas que estão no Benfica, no meu entender, mostram pouca ambição e vão exatamente à procura de uma justificação em vez de procurarem a origem dos problemas. Então, repare, como é que erros na questão do scouting se repetem ano após ano?

Como é que tivemos 50 jogadores que entraram e saíram do clube durante este mandato? Como é que estamos prestes a começar esta época e temos novos diretores a entrar, uma equipa que ainda não está constituída e jogos daqui a duas semanas. Houve mais uma vez má preparação e má organização.»

Mundial Clubes explica eventual mau planeamento de 2025/26?: «A exigência do Mundial de Clubes explica o facto de devermos antecipar a preparação desta época e procurarmos que, dentro das limitações que temos, tivesse sido organizada e começada de outra maneira. Agora, o que tem que mudar para o futuro começa também pela organização.»

Ser competitivo com aposta na formação: «Defendo que não deve haver um "numerus clausus" nos jogadores que evoluem necessariamente da formação para a equipa principal. Tem que haver uma filosofia que premeie essa evolução e que faça com que toda a gente, naquela área do futebol, tenha isso como um objetivo.

Depois, obviamente, isso tem que ser compensado com um departamento de prospeção e de scouting que não só vá buscar os jogadores, mas que tente, por um lado, antecipar e ir buscar jogadores quando ainda temos capacidade de ir buscar, e depois que façam uma análise não só do talento, mas também do perfil do jogador. Quando vejo um jogador que chega e diz imediatamente “gosto de vir para o Benfica, mas já estou a pensar noutros voos”, obviamente deixa-me preocupado, principalmente se o jogador encaixa no modelo de jogo.»

Perfil dos seus diretores: «Diretor-Geral, grande capacidade de organização e grande capacidade de interagir com pessoas e de as pôr a trabalhar em conjunto. Diretor desportivo, profundo conhecimento do futebol português, profundo conhecimento do futebol internacional e daquilo que são as boas práticas em termos de scouting, em termos de ciência de dados, da deteção de talentos e, muito importante, ser alguém que saiba complementar o scouting com a formação. Tanto o diretor-geral como o diretor desportivo têm que encarar a formação como o elemento essencial do desenvolvimento do futebol do Benfica.»