Depois de ter analisado o Benfica-Fenerbahçe (1-0) na 'flash', José Mourinho foi até à sala de imprensa onde, uma vez mais, considerou que a vitória das águias foi merecida. Pelo meio, o treinador do emblema turco aproveitou para elogiar a coragem de Bruno Lage em tomar decisões "pouco populares" e sublinhou que a "força física" dos jogadores dos encarnados, principalmente do meio-campo, fez a diferença na partida.

Lesão de Nelson Semedo teve impacto? "O [Nelson] Semedo é um grande jogador, um jogador com personalidade. Não seria afetado pela responsabilidade e pressão do jogo. Obviamente que foi importante [tê-lo perdido], mas não acho que devo agarrar na lesão dele para tentar justificar uma derrota no jogo, não quero fazer isso".

Qualidade do Benfica... "Há 15 dias, quando soubemos que jogaríamos contra o Benfica, acho que fui muito claro e honesto. Disse que iríamos tentar tudo, que por uma questão de princípio, e que deve ser mesmo assim, não queria considerar ninguém favorito e que dava 50/50. Mas disse-o como princípio de vida, de líder de um grupo. Mas perdemos com uma equipa que é melhor do que a nossa. Mais forte, experiente, com mais soluções. Uma equipa que conhece este tipo de jogo. Obviamente que existe a tristeza de não conseguir, mas da minha parte existe a consciência perfeita de que perdemos contra uma equipa melhor do que a nossa. Se analisar esta eliminatória com coerência e tranquilidade, acho que se pode resumir a: no primeiro jogo, as duas equipas foram iguais. Neste jogo, na 1.ª parte, o Benfica foi muito melhor. Não foi melhor, foi muito melhor. E, na 2.ª, fomos melhores. Mas não muito. E, no nosso momento de domínio, tivemos duas grandes oportunidades e ficamos reduzidos a 10. E depois o jogo acabou. Na globalidade, a melhor equipa passou".

Por que razão o melhor Fenerbahçe aparece tão tarde? Esperava que jogasse o Barreiro? "Disse ontem que o Benfica tem tantas soluções que é complicado prever. O que fizemos foi trabalhar sobre todas as possíveis opções. O Barreiro era uma opção possível. A 1.ª parte tem muito a ver com a experiência e com a falta de confiança. Como é que vou encontrar a expressão sem ser muito agressivo? Não era o nosso habitat natural. A pressão que existia sobre a equipa, que eu ontem tentei desviar um bocadinho para outro lado... Não é uma coisa a que os jogadores estejam habituados. O Benfica é de Champions. É uma equipa de Champions, tem um estádio de Champions. Num momento de dificuldade, o Benfica soube acabar com o jogo. Foi tranquilo, posicionou-se bem, os jogadores tomaram as decisões corretas... Nós, no nosso momento difícil na 1.ª parte, estivemos um bocadinho perdidos. Diria até que um 1-0 na 1.ª parte era bom para nós. A expulsão do Talisca acaba depois com o jogo no nosso melhor momento e no pior do Benfica. Mas não acho que seja correto da minha parte falar da lesão do Nelson ou do vermelho do Talisca. Não é correto tentar desvirtuar algo claro. O resultado é curtinho, é um 1-0, mas a equipa mais forte passou".

Fenerbahçe acumulou alguns erros defensivos. Como é que, a partir do banco, reage a limitações individuais? "A partir do banco a comunicação não é fácil. A perder 1-0 ao intervalo, estava contente. Deu-me a possibilidade de mudar, de conversar e tentar fazê-los ver os problemas da 1.ª parte. Há uma coisa que não me recordo que treinador foi, mas há umas semanas alguém disse que é preciso, antes do início da fase regular, alguém dizer se voltaram a ser permitidos os bloqueios. A equipa que ataca tem vantagem, porque a que defende está sempre no limite. Vou sempre frustrado quando perco, mas prefiro perder e dizer que o adversário é mais forte. Assim vou menos chateado".

Que impacto é que esta não ida à Champions tem nesta temporada? "Pensei que para si fosse mais interessante o jogo, o Benfica e o futebol português... Inclusive para os telespectadores. O Fenerbahçe não ganha o Fenerbahçe há não sei quantos anos... É sempre esse o objetivo, o de tentar conseguir voltar a ganhar. E claro que a Liga Europa é mais adaptada ao nosso potencial. No ano passado fomos eliminados nos penáltis depois de um jogo brilhante em Glasgow e estivemos muito perto de chegar às meias-finais. Agora vamos tentar lá chegar. Continuam a haver boas equipas na Liga Europa, mas o nível é completamente diferente. Mas está lá o FC Porto. E o FC Porto é muito forte...".

Ontem disse que o Benfica tinha mais opções e mais material para fazer coisas diferentes. Foi isso que aconteceu hoje? Bruno Lage voltou a lançar Aktürkoglu de início. Esperava isso? "Ainda na 'flash' antes do jogo disse que o Aktürkoglu é jogador do Benfica, faz o seu trabalho como profissional. Não vejo nenhuma anormalidade nisso. É um ótimo jogador, fez um grande golo e ajudou a sua equipa a passar. Não consigo encontrar nada de estranho nisso. Benfica? Sim, tem mais opções. Dentro de campo tem mais potencial, experiência, força física. Se olhar para a força física de Barrenechea e Ríos e comparar com Fred e Szymanski... Mas é preciso decidir bem, não ter medo de tomar decisões. Se calhar o Bruno [Lage] tomou decisões pouco populares que, se tivessem corrido mal, os milhões de treinadores de bancada cairiam forte sobre ele. Mérito para ele, que teve personalidade de tomar as decisões em que acreditava. Acho que respeitou o Fenerbahçe tanto fora como em casa e, obviamente, foram melhores e mereceram ganhar. Mas senti que naqueles últimos minutos, enquanto estava 11 contra 11, senti que estava um bocadinho assustados. Isso não nos dá a vitória, mas dá-nos o feeling de que somos melhores do que fomos na 1.ª parte".