O golo de Diana Gomes foi uma bomba atómica de emoções. Na nuvem de cogumelo ficaram a pairar as goleadas recentes, as más exibições e a incapacidade de, pelo menos, competir. Com a explosão de alegria, os fantasmas parecem ter retornado à Transilvânia, deixando as cabeças à vontade para pensarem.

Quando Portugal arrancou um ponto frente à Itália, Patrícia Morais entrou em duck dive na onda de apoio à seleção e, engolida pela mesma, liderou a claque. “Vamos festejar”, garantiu na zona mista quanto ao que esperava fazer nas horas a seguir. “O empate acaba por ser justo, as duas equipas fizeram por marcar golos.”

Portugal foi, “acima de tudo, uma equipa confiante”, diz a guarda-redes que só não parou o indefensável remate de Girelli. A “maturidade” trouxe o “controlo emocional” e a seleção foi “uma verdadeira equipa”. Catarina Amado, que perdeu a titularidade face ao primeiro jogo, diz que as italianas sentiram “o que é jogar à Portugal”.

“Demos tudo pelos três, mas aceitamos um ponto”, partilha Ana Seiça. “Mantivemos o coração pelo qual somos conhecidas”. A emotividade do empate, conseguido aos 89 minutos, fá-lo parecer que Portugal está numa posição mais confortável do que realmente acontece.

Antes do Euro, Francisco Neto tinha previsto, em entrevista à Tribuna Expresso, que esperava defrontar a Bélgica com o futuro nas mãos para que a possibilidade de atingir os quartos de final fosse maior. “Se conseguirmos chegar ao terceiro jogo a depender só de nós, não tenho dúvidas que passamos da fase de grupos”, apontou. O cenário para a última jornada não é de todo esse.

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Com dois jogos disputados, Portugal está no terceiro lugar do Grupo B com um ponto. A Bélgica, adversária no decisivo encontro, já se encontra eliminada, não tendo conseguido qualquer ponto nas derrotas com Itália (1-0) e Espanha (6-2). Na melhor das hipóteses, a seleção nacional pode chegar ao segundo lugar e assim conseguir um inédito apuramento para a fase a eliminar de um Europeu ou Mundial.

Para que tal aconteça, há duas condições obrigatórias. Portugal tem que ganhar à Bélgica e a Itália tem que perder com a Espanha. Estando cumpridos estes dois requisitos, as Navegadoras e a equipa azzurre decidirão quem fica em segundo lugar através da diferença entre golos marcados e sofridos em todos os jogos da fase de grupos.

Não é descabido que a Espanha, campeã mundial e dotada de uma ânsia tremenda de ser campeã europeia, possa ganhar à Itália. No entanto, os resultados recentes entre as duas equipas não têm sido nada desnivelados. Integrantes do mesmo grupo da Liga das Nações 2023/24, houve uma vitória para cada lado (1-0 para La Roja e 3-2 para as transalpinas).

Quanto a Portugal, está há sete jogos e cinco meses sem conseguir ganhar um jogo de futebol. A última vez que tal raridade aconteceu foi precisamente diante da Bélgica, na edição mais recente da Liga das Nações (1-0, em Heverlee). No entanto, após ter caído num fosso de maus resultados, a equipa de Francisco Neto perdeu por 3-0 na Madeira frente a este mesmo oponente.

A diferença de golos, que pode ser chamada a depor a favor da qualificação de alguém, também não é favorável a Portugal que sofreu seis e marcou apenas um (-5). A Itália alcançou dois e concedeu apenas um (+1). Assim sendo, a combinação entre os resultados do Portugal-Bélgica e do Itália-Espanha tem mandatoriamente que ser favorável. Caso exista uma igualdade neste critério, avança-se para o escrutínio dos golos marcados e, num caso extremo, à quantidade de cartões que cada conjunto recebeu.

“Antes de pensarmos nos outros, vamos pensar em nós. É entrar no jogo com o foco de ganhar. Depois, pensamos nos golos”, recomendou Catarina Amado. Num jogo de “tudo ou nada”, como descreveu Patrícia Morais, é “juntas” que as portuguesas querem acabar a missão. “É esperar pelo melhor”, aceita Ana Seiça. Ao fim de meses sombrios, quem sabe se a transcendência não conspira contra o azar.