
O calor, o sobe e desce da serrania da região Centro do país e a equipa do Tavira dizimaram o pelotão do Grande Prémio Abimota logo na primeira etapa, que fez a ligação entre Proença a Nova e Anadia, na extensão de longos 186 quilómetros.
Demasiado longos para a maiorparte dos 117 corredores que deram as primeiras pedaladas naquela vila do distrito de Castelo Branco, pouco depois do meio-dia, sob uma temperatura já superior a 30 graus, e que chegaram a conta gotas à meta, muitos deles a mais de meia-hora do vencedor, e um elevado número de desistências, após uma autêntica epopeia de ciclismo, atípica numa prova com as melhores equipas portuguesas.
Perante este cenário imprevisto, mérito ainda maior para os vencedores. Diz-se no plural, porque as figuras da etapa foi uma dupla da equipa AP Hotels&Resort/Tavira/Farense, constituída por Afonso Silva e Jesus David Peña, que cortaram a meta praticamente lado a lado, com o português a prevalecer ao companheiro de equipa colombiano para conquistar a primeira camisola amarela da edição 45 do GP Abimota.
O duo isolou-se de um grupo de cerca de uma dezena de corredores em fuga praticamente desde o quilómetro zero, durante a subida da Serra do Buçaco, a cerca de 30 km da meta, e que o pelotão, destroçado ao longo do percurso, nunca conseguiu alcançar.
Afonso Silva somou a segunda vitória na temporada, após ter triunfado na segunda etapa do Grande Prémio O Jogo, em meados de abril, competição que liderou até ao último dia, em que perdeu a camisola amarela para o russo Artem Nych, da Anicolor-Tien21. No final da corrida, o jovem de 25 anos referiu-se ao dia como um dos mais difíceis de ciclismo de que tem memória.
«Foi um dia extremamente duro. Talvez um dos dias mais duros que tive em cima da bicicleta, devido ao muito calor. Apesar de ser alentejano, e de estar habituado ao calor, hoje sofri muito mesmo», desabafou o vencedor a A BOLA.
O corredor de Odemira contou como conquistou a épica vitória. «Fui para a fuga logo quase desde o quilómetro zero. Arranquei e depois veio um grupo de trás, com o meu colega Jesus David Peña, e este grupo veio depois em nossa perseguição. Na última subida [Buçaco] tentei mexer com a corrida, porque sabia que estava tudo muito cansado, pelo calor e a distância. Até que consegui sair», descreveu Afonso Silva, que lidera a classificação geral com um segundo de vantagem sobre o companheiro de equipa Peña, a quem agradece e faz um elogio.
«Sabia que, qualquer momento, ele [David Peña] podia fazer a ponta entre o grupo e eu, e foi o que aconteceu aqui na última subida, já perto da chegada. Ele alcançou-me e viemos os dois à morte até aqui è meta, onde ele, que tem muita classe, deixou-me vencer. Agradeço-lhe por isso!», concluiu Afonso Silva, que «obviamente tudo tentará em defesa da camisola amarela. «Se não for para mim, que seja para o David», frisa.
A vantagem do duo do Tavira para o terceiro classificado, Tiago Antunes (Efapel) é de 31 segundos. Hugo Nunes (Credibom/LA) é o quarto, a 34 segundos.
No sábado, a segunda etapa tem 156 quilómetros, de um percurso com traçado em forma de 8 que começa e acaba em Vouzela, incluindo três contagens de montanha de 3.ª categoria, a última a 23 km da meta, e que, a acrescentar-se as temperaturas que se preveem ainda altíssimas, promete mais dificuldades para o fustigado pelotão deste Abimota.