
O 13 como número da sorte. Afinal, foi precisamente 13 anos depois que o Alcochetense conseguiu regressar aos campeonatos nacionais. Desde 2011/2012 que os alchochetanos têm vindo a cumprir uma travessia no deserto nas competições distritais, mas no passado sábado chegou a hora do regresso... ao futuro: a presença no Campeonato de Portugal na temporada vindoura está garantida.
A vitória (4-2) no reduto do Alfarim, na 30.ª e última jornada da I Divisão da AF Setúbal, permitiu aos comandados de Pedro Trindade selarem a subida de divisão, feito ao qual juntaram a conquista do título. Na corrida estava também o Olímpico do Montijo, adversário que tinha um ponto a menos, mas o Alcochetense não vacilou e fechou o percurso com chave de ouro.
Foram 21 triunfos, seis empates e três derrotas, saldo que permitiu a conquista de 69 pontos, os bastantes para que a temporada em Setúbal ficasse pintada de verde e branco. Sendo conhecida a incomparável paixão que Alcochete tem pelas touradas, é caso para dizer que, por estes dias, há mesmo festa brava na vila.
Nos ecos dos festejos, A BOLA esteve à conversa com Pedro Trindade, técnico responsável pela caminhada triunfal do clube. A memória ainda está bem fresca e a felicidade, claro, promete perdurar durante muito tempo.
«Naturalmente que é um orgulho muito grande. No fundo, trata-se do culminar de 10 meses de muito trabalho, onde fomos todos responsáveis pelo sucesso que conseguimos atingir. Além do orgulho que sinto, devo também ressalvar a gratidão pelo esforço que todos, sem exceção, desenvolveram em prol deste projeto e que culminou com a subida de divisão e com o título que alcançámos», afirmou.
E se Tó-Pê, como também é conhecido na gíria futebolística, é o líder de uma equipa técnica e de um grupo de trabalho que elevou o nome do Alcochetense, há quem tenha, na sombra, dado o que tinha e o que não tinha para que a glória tenha sido alcançada: «O projeto que está em curso facilitou muito o nosso trabalho. É uma organização que não nos deixa faltar nada, tanto à equipa técnica como aos jogadores, e que tem tudo para continuar a dar certo. As pessoas têm ideias muito claras e tudo está devidamente estruturado. Demos um primeiro passo, agora só temos de continuar neste caminho para almejarmos a sonhar com mais.»
O tempo é de saborear a(s) conquista(s), segue-se o merecido descanso, mas no horizonte está já a etapa seguinte. «O Campeonato de Portugal é muito mais duro e difícil, com uma exigência enorme, e a minha experiência [já esteve nesta realidade competitiva, ao serviço do Alverca, na época 2018/2019] diz-me que o planeamento deve ser feito atempadamente. Objetivo? Depende do investimento que possa ser feito, mas acredito que poderemos lutar pelos lugares cimeiros e, quem sabe, olhar para a Liga 3», assume.
As infraestruturas também acompanham o crescimento do clube e o Estádio António Almeida Correia [conhecido como Fóni] tem capacidade para 3 mil lugares, mas já há um projeto de ampliação para o dobro. Em redor existem dois campos de treino com relva artificial, estando já na forja a construção de mais um recinto na zona desportiva envolvente.
No que concerne à iluminação, serão apenas necessárias ligeiras melhorias para responder às exigências das provas profissionais. Em Alcochete há vida. E quando o homem sonha, a obra nasce. Porque o sonho... comanda a vida.
«Foi o Geraldes que me convenceu. Na época passada tinha decidido terminar a carreira»
Nasceu a 26 de dezembro de 1984 e caminha a passos largos para os 41 anos. Mas a idade é apenas um número e há jogadores que continuam a dar cartas.
É o caso de Fabrício Simões, ponta de lança que foi um dos grandes destaques do Alcochetense e que em Portugal já tinha feito carreira em clubes como UD Leiria, Estoril, Covilhã, Famalicão, Farense, Feirense, Estrela da Amadora, B SAD, entre outros.
O desafio, esta época, foi outro e o brasileiro explica o que o fez aceitar o convite do Alcochetense. «Foi o André Geraldes que me convenceu. Na época passada já tinha decidido terminar a carreira, em comum acordo com a minha esposa, mas o convite de alguém que me diz tanto e que é um enorme dirigente foi impossível de recusar», assume, aludindo ao facto de já ter trabalhado com Geraldes no Farense e no Estrela da Amadora.
Fabrício foi o melhor marcador da equipa, com 21 golos, e está feliz pelo contributo: «Ajudar o Alcochetense a subir de divisão e a ser campeão enche-me de orgulho.» O fim... chegou: «Vou terminar a minha carreira. Sinto orgulho do meu percurso.»
Profissionalização é caminho indicado por André Geraldes
Outra dimensão... a mesma competência e a entrega de sempre. Falamos de André Geraldes, dirigente que no seu currículo conta já com passagens de enorme relevo por Sporting, Farense, Estrela da Amadora e Varzim, e que hoje é o rosto invisível do sucesso do Alcochetense.
O até agora consultor desportivo foi o responsável pela criação do projeto no emblema setubalense e logo no primeiro ano de trabalho logrou o êxito, com a subida de divisão e a conquista do título.
«É um projeto que apelido como sendo de garra e que só tem um caminho: o da profissionalização. Estamos a falar de um clube que tem um imenso potencial de crescimento e é com o máximo profissionalismo que o Alcochetense deve continuar a encarar o futuro. Além do sucesso que o clube pretende, e que, felizmente, já está a alcançar, a ideia é a de que esteja sempre preparado para o próximo passo», começa por dizer Geraldes.
Todas as decisões tomadas na época que agora finda tiveram também a participação de Nuno Garrett, presidente do clube que deu a André Geraldes a possibilidade exclusiva de mediar a criação da SAD — algo que vai ser decidido pelos sócios em Assembleia Geral a realizar num futuro próximo —, relação que o antigo diretor executivo da SAD do Sporting enaltece.
«Temos uma relação de grande proximidade e, acima de tudo, de enorme química profissional. Como em tudo na vida, desde que a competência exista e as vontades sejam comuns, o caminho para o sucesso é muito mais fácil de percorrer. O Alcochetense pode vir a espantar muita gente nos próximos anos.»