O Sporting viu hipotecadas as possibilidades de atingir os oitavos de final da UEFA Champions League, numa noite em que caiu com estrondo na segunda parte após uma primeira em que foi superior e até justificaria a vantagem.

Porém, quem por acaso tiver chegado ao estádio ou ligado a TV nos últimos cinco minutos da primeira parte terá pensado que o Dortmund tinha o jogo controlado e o 0-0 era circunstancial. Não é verdade, repete-se, mas se estas pessoas continuaram a seguir a partida ficaram absolutamente convencidas da veracidade dessa sensação inicial. O Dortmund dominou a segunda parte de uma forma que já se vê pouco pelos relvados europeus e justificou plenamente a vitória por 3-0, que poderia muito bem ter engordado não fosse a bela exibição de Rui Silva na baliza leonina e algum desacerto alemão na fase final.

«Uma equipa joga o que a outra deixa jogar» — este é um dos mais velhos adágios do futebolês e por vezes parece confirmar-se, pelo menos se virmos a coisa pela perspetiva do Borussia Dortmund. A sensação com que se chegou ao final dos 90 minutos, mais compensações, é que a equipa de Nico Kovac entrou em Alvalade para ver o que davam as modas. A cinco minutos do intervalo começou a entender que tinha de acelerar, na cabina as conversas terão acertado as pontas e a segunda parte foi totalmente amarela. Ironicamente, conseguiu o primeiro golo (que já ia justificando) um minuto depois de Gyokeres ter entrado em campo. Terá sido o último sinal para os alemães: «Alto, que este pode ser perigoso! Está na hora de resolver.» E resolveu-se. E Gyokeres, que mal tocou na bola, nunca o fez com perigo para a área adversária. O Dortmund marcou três e a noite podia ter sido mais humilhante. Mas realmente não começou nada mal...

O onze escalado por Rui Borges para esta primeira mão do play-off da UEFA Champions League deixou no ar uma ligeira sensação de gestão do plantel. Gyokeres e Morita tinham sido convocados, mas ficaram no banco. Gonçalo Inácio também lá se sentou, assim como Daniel Bragança. Só o treinador leonino saberá se se tratou de gestão ou de puras opções técnico-táticas tendo em conta as características do adversário.

À desconfiança que poderia causar entre os adeptos, a equipa inicial respondeu com uma exibição personalizada. A distribuir jogo com saída a três, dada a descida de Debast para esses lançamentos, o Sporting cedo se superiorizou a uns alemães estranhamente estáticos e pouco ambiciosos. A dada altura, na primeira parte, prevaleceu a ideia de que o Sporting até na agressividade a meio-campo e em duelos físicos era superior, o que muito espanta se tivermos em conta o historial futebolístico entre portugueses e alemães.

Aos 15 minutos Maxi atirou com estrondo à barra de Kobel. Valha a verdade que acabou por ser a melhor oportunidade do Sporting. Mas houve outras, e sobretudo houve uma posse de bola insistente perto da área alemã, o que normalmente acaba por resultar, mais cedo ou mais tarde, num golo.

Na segunda parte (com os tais sinais evidenciados pelo Dortmund nos cinco minutos finais da primeira), tudo mudou. O Sporting caiu a pique, até ou sobretudo fisicamente, os alemães desataram a mexer-se e a trocar posições, povoando o meio-campo, alugaram a metade do relvado defendida pelos donos da casa e não mais de lá saíram. Triangularam, esticaram jogo, ganharam segundas e terceiras bolas e marcaram, com uma impressionante naturalidade.

O desafio para o Sporting, agora, é dar a volta à desilusão e concentrar-se no Arouca, que visita Alvalade já no próximo sábado.